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Processo STF | Os generais depõem

Momento inédito na história do país, a alta cúpula militar está investigada e prestando depoimentos sobre sua participação na suposta tentativa de golpe por parte de Bolsonaro. Nas condições das investigações do STF vemos as também as digitais dos Estados Unidos, que ajudou a colocar de pé a lava jato e apoiou cada um dos golpes ocorridos na história do país. Umbilicalmente atreladas ao amo do norte, as forças armadas não teriam dado um golpe sem um sinal verde estadunidense. Como também é difícil imaginar que a alta cúpula seria investigada e interrogada sem esse sinal verde

Thiago FlaméSão Paulo

sexta-feira 8 de março | Edição do dia

Já foi amplamente divulgada a interferência da embaixada, da CIA e do Comando Sul das forças armadas dos EUA no processo político brasileiro. O que se divulga é que os norte-americanos, como se fossem movidos por amor à democracia, mobilizaram tempo e recursos para impedir um golpe no Brasil. Essa versão de conto de fadas da Disney é a cara pública de negociações secretas que ocorreram entre as autoridades brasileiras e dos EUA. Muito mais do que democracia, certamente essas reuniões discutiram quais interesses vitais dos EUA as autoridades brasileiras precisavam assegurar no processo. Assim como o depoimento dos militares, essas conversas e os relatórios produzidos precisariam ser publicados na integra para que a verdade venha a tona.

O general Freire Gomes prestou um longo depoimento para a Polícia Federal na última sexta feira. Ao contrário de Heleno e Braga Neto que estão sob investigação permaneceram em silêncio, o depoimento de Freire Gomes sobre suas atividades enquanto era comandante do exército, junto com o depoimento do Brigadeiro comandante da Aeronáutica, Carlos Baptista Junior, estão sendo avaliados como complicadores Bolsonaro e de outros generais

Do pouco que foi vazado pela imprensa dos depoimentos, dois pontos estão sendo amplamente divulgados. O primeiro, presente em ambos os depoimentos, trata-se da confirmação de que houve uma reunião com Bolsonaro e a cúpula militar para discutir a chamada minuta golpista. Somente o almirante Garnier, então comandante da Marinha, teria aderido ao complot bolsonarista. Essa versão é amplamente favorável para o Exército e a Aeronáutica, pois fortalece o relato de que atuaram como garantidores da democracia. Um ponto que acaba sendo contradito pelo segundo ponto divulgado do depoimento de Freire Gomes

Gomes afirma que em 29 de dezembro teria dado ordem para não desmobilizar o acampamento bolsonarista em frente ao quartel general em Brasília. Afirma ter sido a mando de Bolsonaro. O que envolve diretamente Bolsonaro na trama do oito de janeiro, mas também mostra a cumplicidade do próprio exército. Que até o dia oito não desmobilizar o acampamento e ainda impediu a ação da polícia federal no dia 8.

O que vem a público pelos vazamentos de imprensa, o mesmo método utilizado na lava jato, não permite uma avaliação séria de cada passo dado nessa trama insólita. Conchavos, conspirações, mentiras e personagens bizarros como o hacker de Araraquara (que se lembra dele afirmando que os militares vazaram dados da urna eletrônica?), não faltam. Sem que o conjunto das informações sejam tiradas do sigilo, jamais saberemos a verdade. No processo do STF não se trata da verdade, ou da justiça. É um jogo de poder que está em curso, que tem como objetivo preservar a legitimidade das instituições do estado brasileiro e evitar uma rebelião contra os profundos ataques econômicos que ocorreram desde 2016 e que o governo atual mantém a profunda e que coloca também a política brasileira como um dos campos de batalha das eleições de novembro nos EUA.

Os bolsonaristas e os militares precisam pagar pelos crimes cometidos. Mas jamais esqueceremos que esses crimes não começaram em 2022. O seu discurso na votação a favor do impeachment da Dilma em 2016, Bolsonaro dedicou ao torturador Brilhante Ulstra e a ditadura militar, um símbolo da conexão histórica entre a impunidade de ontem e de hoje. Sem a intervenção do movimento de massas, a prisão de Bolsonaro vai depender de cálculos políticos do STF, enquanto a maior probabilidade é de que um grande pacto possa salvar a pele da cúpula militar.

E o ciclo da impunidade militar seguirá, se não for derrubado pela luta e pela mobilização. Ele protege a polícia que assassina nossos jovens e protege as forças armadas que cada vez mais estão intervindo na política e se legitimando para futuros golpes, quando estes tiverem respaldo dos EUA e da maioria da classe dominante brasileira




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