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Movimento estudantil | Greve estudantil pela base ao lado dos técnicos e professores ou desvio burocrático: um debate com o Juntos/PSOL

Com mais de 60 universidades e institutos federais com os técnicos-administrativos de greve e mais de 20 com greve de professores, o movimento estudantil começa a ter sinais de também estar disposto a despontar na luta. Nesse sentido, apesar da retórica combativa e a favor da greve nas redes sociais e em alguns lugares em que a base estudantil está querendo lutar, o Juntos/PSOL na prática está cumprindo um papel de diretamente desmobilizar ou mesmo desviar burocraticamente a mobilização nos CAs e DCEs em que dirige.

Rosa Linh Estudante de Ciências Sociais na UnB

sexta-feira 19 de abril | Edição do dia

Em post recente no Instagram, no intuito de responder a pergunta “por que justo no governo Lula às greve têm acontecido”, a retórica do coletivo Juntos!, juventude do Movimento Esquerda Socialista (MES) do PSOL, é que desde o governo Dilma, passando por Temer e Bolsonaro, os cortes na educação são brutais e a política do governo Lula é mantê-los, bem como o Novo Ensino Médio, além de aplicar ataques como o Arcabouço Fiscal e o PL da Uberização. Tudo verdade, a questão é que a tese se sustenta na ideia de que “elegemos o governo Lula para que tivéssemos mais condições de lutar”. Em última instância, a luta de classes deve estar subordinada à pressionar o governo, já que fez promessas que não cumpriu, afinal esse é o “nosso governo, que nós elegemos”. Chegam ao ponto de dizer que “sabiam” que o programa de Lula “não seria em essência o que defendemos”. Eufemismo é pouco para um governo que está querendo legalizar as jornadas intermitentes e rasgar a CLT com 12 horas de trabalho para motoristas de aplicativo, ou com o neoliberal Arcabouço Fiscal, o teto de gastos 2.0 que arrocha o salário do funcionalismo público federal e mantém os cortes da educação sucateando as universidades públicas, abrindo espaço para o fortalecimento da extrema-direita. Está mais que claro que o governo Lula-Alckmin não é “nosso” e sim está à serviço dos grandes tubarões da educação privada, dos banqueiros imperialistas e da contenção da luta de classes.

Isso deve explicar porque o Juntos! prefere levantar “recomposição orçamentária” - e é bom lembrar que essa é a mesma consigna que a UJS está levantando no momento - ao contrário de revogação dos cortes e do Arcabouço Fiscal. Afinal, trata-se de pressionar o “nosso” governo; nomear o principal ataque do governo Lula 3 e agitá-lo, mesmo sendo esse o fio que une estudantes, professores e técnicos, talvez seja um pouco demais, não é mesmo?

Nesse texto, dizem que “para massificar a luta serão necessários dois embates: não aceitar a posição daqueles que buscam desmobilizar a mobilização para proteger o governo, mas ao mesmo tempo não cair no erro dos que acham que a greve pela greve basta e não procuram ampliar a luta para além da vanguarda”. A princípio, excelente. Mas a bravata não se sustenta até a página 2, não são consequentes com o que falam. Isso se demonstra pelo fato de que, em nenhum momento, se fala sobre uma das principais problemáticas do movimento estudantil atual, que é a total paralisia da UNE, a maior entidade estudantil do país que é dirigida majoritariamente pela UJS, Levante Popular e PT, e não está mobilizando nenhum estudante, busca manter o silêncio sobre as greves, e onde pode está inclusive boicotando as greves estudantis. Exemplo emblemático é o que ocorre na UFES, onde os estudantes do Serviço Social estão em greve, mas a direção do DCE dirigido pela majoritária simplesmente abandonou a assembleia geral dos estudantes que exigiam mobilização e luta, além de censurar posts no Instagram a favor da greve e se recusar a fazer repasses nos grupos sobre as greves. Imaginem se a UNE construísse assembleias em cada universidade que está rumo a uma greve geral unificada pelo país?

É evidente para qualquer estudante de esquerda que é necessário combater essa paralisia, então porque o Juntos nem sequer cita isso? A explicação está no fato de que o Juntos compõe o PSOL, partido que é parte do governo de Frente Ampla, e apesar de seu discurso supostamente combativo, não é independente do governo, não possui uma estratégia anti-burocrática e de auto-organização, ou seja, de que os estudantes, pela base, tomem a luta nas suas mãos ao lado dos técnicos e professores. Na verdade, não oferecem nenhuma alternativa à burocracia da direção da UNE, e diretamente nos CAs e DCEs que dirigem deixam de mãos atadas o movimento estudantil que quer se pôr em movimento.

Sua política é, na realidade, a vacilação e a subordinação de nossa luta às negociações com o governo federal e com as reitorias, separando as demandas dos estudantes e a dos trabalhadores. Na UnB, por exemplo, o Serviço Social (o CASESO está em período eleitoral, no entanto as chapas são Juntos e Afronte, e ambas possuem influência considerável no curso) e a Ciências Sociais (o CASO é dirigido pelo Juntos e independentes) votaram greve estudantil, no entanto o Juntos! foi “vanguarda” de sistematicamente ser contra os piquetes de greve, já que supostamente “os estudantes de outros cursos não iriam gostar”, buscando todo tipo de argumento para não instalar de fato a greve, dizendo por exemplo “tem poucos estudantes mobilizados”, como se os estudantes fossem culpados, mas não organizam sequer assembleias de curso construídas pela base para avançar na mobilização. Imaginem se eles fizessem o mesmo esforço que fazem para se eleger para construir a greve? Agora com a adesão de outros cursos como Pedagogia, Letras-Japonês, Turismo, Fisioterapia, Geologia, entre outros, ao invés do DCE, que é dirigido pelo Juntos/PSOL e a Correnteza/UP, organizar uma assembleia geral construída pela base para construir um calendário de greve, apoiando-se nos cursos em greve e ajudando a coordenar e expandir a mobilização para outros, o que acontece é a eterna postergação à espera da suspensão do calendário acadêmico pela Reitoria. Mesmo com a base dos cursos querendo se mobilizar, fazer piquetes para defender a greve de seus cursos e dos professores, “as palavras combativas” dão lugar ao ceticismo: dizem “o movimento está muito para trás ainda”. Por outro lado, na UFMG, tanto com o DCE que dirigem ao lado do Afronte, como nos CAs em que estão, defendem um “estado de greve”, uma manobra para lavar a cara pelo fato de não terem construído nenhuma mobilização real, e de quebra culpar os estudantes pelo seu suposto imobilismo, ao passo que se posterga de fato a deliberação da greve de fato. Já na UFRGS, em que também são da gestão do DCE, não chamaram sequer um espaço para debater com os estudantes, mesmo a greve dos técnicos acontecendo há 1 mês, e o único espaço que chamaram foi um CEB que desmarcaram em cima da hora e adiaram em uma semana. Ou seja, lá estão diretamente se negando a construir a mobilização na base.

Um parênteses interessante. Não faz mal lembrar também que as fotos escolhidas para ilustrar o post mencionado no começo do artigo, na verdade, são cartazes que foram feitos pela Faísca Revolucionária na greve da USP e levantados no momento em que o Juntos/PSOL, ao lado do resto da direção do DCE com UJC/PCB e Correnteza/UP, além do Rebeldia/PSTU e Afronte/PSOL, votaram para enterrar a greve estudantil em um momento decisivo para avançar a luta. No final das contas, foram derrotados, e a greve continuou, com a base votando em peso a favor, seguidos por nós da Faísca.

Nada disso surpreende. Estamos diante de um partido que está em franca adaptação ao regime burguês brasileiro, como é exemplo a chapa de Boulos-Marta Suplicy em São Paulo, essa que ajudou a aprovar a reforma trabalhista, votou a favor do impeachment de Dilma e até flores entregou para a golpista Janaina Paschoal. É o mesmo partido que está na prefeitura de Belém e, quando os servidores ocupam um prédio exigindo reajuste salarial, manda a tropa de choque reprimi-los. Outra demonstração de tamanha debacle é a política do Afronte, juventude da Resistência, que além de dizer que “é preciso defender o que há de avanços no PL da Uberização”, faz parte do sindicato de professores do Ceará ao lado do PT e PCdoB que, ao querer atropelar a votação de greve da categoria, viu os trabalhadores se insurgirem contra a burocracia tacando cadeiras na direção pelega. O PSOL está do outro lado da barricada. O Juntos!, com sua política oportunista de querer “restaurar o projeto fundacional do partido”, continua promovendo ilusões de que um partido que é parte de um governo de conciliação de classes, inclusive com cargos e ministério, pode ser uma alternativa para a luta de classes.

Para construir uma forte greve nacional unificada é preciso que nossas entidades organizem essa luta desde as bases, sem nenhuma confiança nas Reitorias e no governo Lula-Alckmin que está de mãos dadas com nossos inimigos e sim na aliança com os técnicos e professores. É preciso democratizar a greve e fazer dos estudantes sujeitos dela, com assembleias por cada curso para que seja debatido, votando um comando de delegados eleitos pela base, pra que essa nova geração que desponta para a luta possa dirigir os rumos da greve, com comitês amplos de mobilização que organizem ações para amplificar a força do movimento. Muitas ideias podem surgir disso, como construção de um calendário de luta, promoção de aulões públicos com os professores, atos, piquetes físicos e sonoros, eventos culturais, oficinas de cartazes, dentre muitas outras ideias criativas que podem surgir para promover essa unidade entre estudantes e trabalhadores, além de conquistar o apoio da população de forma geral. Assim, eleger uma demanda para articular e unificar os setores em luta é crucial, e ela é justamente a revogação do Arcabouço Fiscal, uma vez que unifica os cortes bilionários na educação, responsável pela situação de precarização generalizada nas federais, e o reajuste salarial de 0% do governo federal. Essa ideia-força, ao lado da revogação dos cortes na educação, da reforma do novo ensino médio, cotas trans rumo ao fim do vestibular, e outras pautas como a revogação das reformas trabalhista e da previdência, além de demandas específicas de cada curso, isso sim, podem fazer a luta ganhar corpo e conquistar vitórias.




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