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CULTURA - OPINIÃO | Sobre utopia e revoluções: “Assim que abro os meus olhos” – Um filme de Leyla Bouzid.

sexta-feira 20 de janeiro de 2017 | Edição do dia

Tunísia, 2010, Farah uma garota de 18 anos divide sua vida entre os estudos e uma banda de rock. Idealista e rebelde a jovem faz das músicas de seu conjunto um meio de expressar os problemas do seu país, porém, sem abandonar suas convicções, Farah inicia uma revolução interna, buscando constante liberdade dos seus pais e impondo suas escolhas, que levará a garota a ter problemas com o regime do ditador Ben Ali.

Observado por um aspecto bastante raso a película aborda os problemas de um regime ditatorial fruto da Guerra Fria, no entanto a análise pode ser levada de forma mais profunda, e podemos fazer comparações com o próprio Brasil, país que retrocede cada vez mais em direitos e liberdade de expressão na contramão da Revolução dos Jasmins e da Primavera Árabe. E talvez Farah “saia” da Tunísia para nos dar uma luz.

A libertação da protagonista do filme é iniciada através de sua sexualidade, a garota o tempo todo foge da prisão da casa dos pais para viver aventuras com o namorado e principal compositor das letras de seu grupo musical Joujma, as atitudes de empoderamento feminino de Farah são extremamente hostilizadas pela sociedade machista tunisiana, esse enfrentamento vivido pela garota vai colocá-la também contra o governo que nunca aparece de forma abrupta no filme, a ditadura é representada sempre por algo que está colocado como natural: os homens dominando o bar, o retrato de Ben Ali nos estabelecimentos, as cidades totalmente vazias durante a noite e membros obscuros do governo que perseguem “subversivos”.

No entanto a situação se torna drástica quando de dentro do próprio grupo musical revela-se um traidor, o que leva Farah e o compositor a serem capturados e torturados, a representação da ditadura perde sua sutileza e demonstra sua face mais agressiva. Porém, a garota, ainda tem muito pela frente, consegue sair da prisão e vai cursar medicina em Gafsa, um ano depois, nós já sabemos a resposta, estudantes tunisianos e a população, das camadas médias ás mais pobres, em geral derrubam o governo que já ali estava há 23 anos.

Hoje a Revolução dos Jasmins e a Primavera Árabe já são realidades na Tunísia, mas no Brasil a contramão de uma constituição popular segue firme. E o que faremos? Acreditaremos eternamente que derrubar um governo se trata de uma utopia?

Levantemos como Farah!


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