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Esquerda em Debate | Porque me desfilio do PSOL - carta de Dirlene Marques

A seção “Esquerda em Debate” está aberta aos ativistas críticos à chapa de Lula e Alckmin, à política de conciliação de classes do PT e à diluição do PSOL com Alckmin e Marina Silva. Trata-se de uma tribuna aberta a militantes do PSOL e ativistas e intelectuais independentes. Nela, publicamos posições do MRT, mas também de setores da esquerda em um campo mais amplo com o intuito de cultivar o debate franco e aberto na esquerda brasileiro. As posições contidas no texto são de responsabilidade dos firmantes e não refletem as posições do MRT. Envie também seu texto para essa seção aberta.

terça-feira 19 de abril de 2022 | Edição do dia

Tem momentos em nossas vidas que pensar e decidir se tornam particularmente difícil. Para mim, o momento atual foi um deles. Li, pensei, e passei muitas noites acordadas. Conversei com muitas companheiras e companheiros, dentro e fora do PSOL.

Entrei para o PSOL porque tinha identidade nas lutas que sua militância levava nas ruas e com os seus princípios programáticos, como está na Parte I do Programa Estratégico: 1) a luta pelo socialismo com democracia, como princípio estratégico na superação da ordem capitalista, 2) Não há soberania, nem uma verdadeira independência nacional, sem romper com a dominação imperialista; 3) Rechaçar a conciliação de classes e apoiar as lutas dos trabalhadores; 4) Reivindicações para a luta imediata e bandeiras históricas para além da ordem; 5) A defesa de um internacionalismo ativo.

No Congresso do Partido, no final de 2021, procuramos traduzir os princípios na nossa análise de conjuntura. Entendíamos que vivemos uma crise geral, profunda e ampla. Crise esta que encontrou o Brasil, já em condições historicamente precarizadas. As poucas conquistas que ainda restavam, são sistematicamente retiradas. A morte de 650 mil pessoas, segundo os dados oficiais, vem como uma solução para o capital, eliminando seres humanos, aliviando o orçamento e aumentando a concentração da riqueza. A perversidade da exploração capitalista chega a extremos. É hora do Abaixo o Capital e Fora Bolsonaro!

Luta esta que possível, com independência de classe, sem conciliar com a esquerda da ordem. E Federação? So com a esquerda.

Com esta posição, participei intensamente do congresso, representando o Coletivo 99. Por pequena margem de votos, esta proposta foi derrotada. A mudança de rumo, traz também uma forma organizativa centralizada e autoritária da direção partidária. Isto torna incompatível com minha visão de mundo e minha militância.

Por isto me desfilio do PSOL: para continuar com a trajetória que sempre foi a minha história. Vamos continuar investindo nas lutas e na elaboração crítica, construindo espaços que tenham alguns princípios norteadores e que respeite a diversidade de seus participantes, tais como o 8M Unificado e o Polo Socialista e Revolucionário, onde estaremos juntas e juntos para enfrentarmos a barbárie que é o capitalismo. Entendemos que é necessário derrotar Bolsonaro e Zema. Entendemos também que neste instante está colocado a necessidade de contrapormos um projeto que possa enfrentar o capital e não apenas tirar um gestor do capital e colocar outro.

Me desfilio na busca de continuar com as lutas "por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres” (Rosa Luxemburgo). Não foi uma decisão fácil, mas sei que nas lutas e nas ruas, vou encontrar com a militância do PSOL, que com sua generosidade me recebeu de braços abertos, e que estaremos juntas e juntos, carregando a bandeira do socialismo e da liberdade, que faz parte de nosso ser militante.

Saudações feministas revolucionarias!

Dirlene Marques

Belo Horizonte, 18 de abril de 2022.




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