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Calor ou Capitalismo? | Fã morre e 1000 passam mal em show de Taylor Swift com calor de 60º e falta de água para aumentar lucros

Em virtude do calor exacerbado e da proibição da entrada com garrafas de água, houve uma morte e mais de 1000 fãs passando mal no show da cantora. Se trata só de calor ou é o capitalismo?

Julia CardosoEstudante de Ciências Sociais da USP

sábado 18 de novembro de 2023 | Edição do dia

Nesta sexta-feira (17) ocorreu o primeiro show no Brasil da cantora Taylor Swift, esperado por milhares de fãs de todo o país. Porém, no show vimos a morte Ana Clara Benevides Machado, estudante de 23 anos de psicologia da Universidade Federal de Rondonópolis, que faleceu por parada cardiorespiratória após desmaiar por conta das altas temperaturas registradas no Rio de Janeiro combinada com a sede de lucro da organização do evento.

Na semana anterior, fãs da cantora pediram para a organização responsável pelo evento, a Tickets For Fun (T4F), e para a prefeitura do Rio, por distribuição de água e coberturas contra o sol durante a fila do show por causa das altas temperaturas, mas não receberam resposta. O suporte básico para o calor extremo que o país passa é o mínimo que pode ser cobrado da T4F e do governo carioca considerando que os ingressos variavam de 200 a 2500, sem contar as despesas que alguns fãs tiveram com estadia e alimentação.

No dia do show, fãs relataram que os espaços de circulação de ar nas cadeiras e pistas estavam cobertas por tapumes, para os fãs do lado de fora não conseguirem assistir ao show, prejudicando a circulação de ar no Estádio e contribuindo para a sensação térmica chegar a 62ºC. Além disso, foi proibida a entrada de garrafas de água no show, e ainda no interior do estádio a distribuição de água era insuficiente e custava cerca de 10,00 reais. A situação era tamanha que a própria cantora interrompeu o show mais de uma vez para pedir a entrega de água para o público da pista.

A repercussão do caso nas redes sociais é parte de todo um acúmulo de condições absurdas colocadas aos fãs devido a lógica capitalista na qual estamos inseridos. Os preços altíssimos nos ingressos, a insuficiência de água para todo o público, pessoas esmagadas pelos tapumes para impedir que o público que não pagou assistisse ao show. Isso sem contar que é absurdo termos de pagar mais 1000 reais para podermos ver um artista que admiramos. A arte e cultura deviam ser acesso de todos e não uma exclusão daqueles, ou seja, filhos da classe trabalhadora, que não conseguem pagar, e o esforço para garantir essa exclusão é tamanho que leva a impedir a circulação de ar dentro do estádio e arrancar a vida de uma jovem.

Movidos pela lógica de busca incessante de lucro acima de tudo, os organizadores do evento proibiram a entrada com garrafas de água no estádio e sua comercialização foi feita por um preço absurdo. A pista não contém cadeiras que poderiam fornecer maior conforto para os fãs, ao invés disso a empresa preferiu ter mais espaço para conseguir vender mais ingressos. Além disso, os ingressos não são enumerados, fazendo com que os fãs cheguem cedo para garantirem um lugar com boa visualização, ficando expostos ao sol por longas horas e sem alimentação adequada.

E de onde vem esse calor desigual que todos estamos sentindo?
A onda de calor que o Brasil passa, não é mero acaso. A atual crise climática é decorrente do capitalismo que explora os recursos naturais desde de seu princípio, destruindo o meio ambiente em uma busca incessante de lucros. O calor gigantesco que os fãs da Taylor sentiram no show é sentido também pela classe trabalhadora e seus filhos todos os dias em todo o mundo. Promovendo que trabalhadores também passem mal nos transportes públicos lotados e nas escolas, os quais não oferecem melhorias de qualidade em termos de resfriamento frente a essa crise climática.

Como sabemos, toda essa situação é acentuada pelas medidas e privatização que vemos, principalmente no estado de SP, com a privatização do metrô, CPTM e também da ENEL, quanto a esta última, vimos o efeito da crise climática (com chuvas fortes) e da privatização gerando apagões por dias na capital do Estado. Não se trata de uma ou duas vezes que vemos tragédias pela crise ambiental, como foi Brumadinho e Mariana, que colocam a privatização, que enche os bolsos dos capitalistas, acima da vida da população, e em especial, dos trabalhadores e mais oprimidos. Lógica semelhante de colocar em cheque a qualidade dos serviços oferecidos e a preservação da saúde da população em cheque para inflar os lucros das grandes empresas, foi colocada em prática neste show e que resultou na morte de uma jovem de 23 anos.

Há horas atrás vimos um pronunciamento da T4F (organização) e do ministro da justiça Flávio Dino, se comprometendo com a distribuição de água nos próximos shows e a permissão da entrada com garrafas plásticas. É preciso ver que essa mudança é fruto não só de uma morte mas também da comoção e indignação nacional que vimos nas redes sociais sobre este caso.

A partir de tudo que apontamos, é possível ver que esse caso isolado é um efeito do sistema capitalista que passa por cima do meio ambiente há séculos e opera apenas em prol dos lucros dos grandes capitalistas e quem paga o preço, inclusive com a própria vida, é a classe trabalhadora e seus filhos. Assim, vemos que é necessária uma saída anticapitalista para essa crise. A exploração da natureza deve encerrar-se para conseguirmos encerrar essas situações extremas do clima e de casos como esse, mas também avançar contra o Estado capitalista para encerrarmos a exploração do trabalho e de nossas vidas. Para isso, não é possível confiar em uma saída demagógica de palavras soltas do capitalismo verde, como as que saem da boca do governo federal Lula-Alckmin, que enquanto isso passa a reforma tributária para avançar na precariedade dos serviços públicos e ainda usa o marco temporal, ou seja, a vida e terra dos quilombolas do nosso país, como moeda de troca. É preciso confiarmos apenas nas nossas forças, trabalhadores aliados ao povo oprimido, para enfrentar a destruição do meio ambiente que o capitalismo gera.




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