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Anti-imperialismo | De mãos dadas com Macron pelo Brasil: ao lado de Lula, um neoliberal imperialista e novo promotor da guerra na Europa de olho na Amazônia

De braços abertos e agenda cheia, essa semana Lula recebeu o presidente da França, Emmanuel Macron, neoliberal inimigo dos trabalhadores franceses, dos imigrantes e o mais novo ávido promotor do militarismo da OTAN. Repudiamos o teatro dos poderosos e a colaboração de Lula com o imperialismo europeu.

quinta-feira 28 de março | Edição do dia
Foto: Ludovic Marin/AFP

Emmanuel Macron, presidente da França, chegou ao Brasil na terça-feira (26/3) em sua primeira visita à América Latina. O encontro de Lula com o francês marca uma reaproximação - após o hiato diplomático durante o governo Bolsonaro - com essa que é uma das principais potências imperialistas da Europa e com quem buscou desenvolver relações nos seus mandatos anteriores. Mas Macron não é um aliado da luta contra a extrema direita: repudiamos o teatro dos poderosos e a colaboração de Lula com o imperialismo europeu, de olho na biodiversidade amazônica, em expandir sua presença do lado de cá do Atlântico e em vender novas tecnologias aos nossos reacionários militares.

Macron chega ao Brasil com interesse em expandir a influência francesa sobre a região amazônica, bem como garantir lucros bilionários para a indústria bélica francesa, dando seguimento aos acordos com a Marinha brasileira para o desenvolvimento de submarinos e possíveis novos acordos para a energia nuclear e a produção de helicópteros militares. Após cancelar os atos em memória das vítimas e da luta contra a ditadura, o “deixar 64 no passado” se concretizou com Lula garantindo novos mimos aos militares que até ontem estavam governando com Bolsonaro e chega afirmar que fortalecer essa ala reacionária do regime seria uma garantia contra “as animosidades contra o processo democrático”.

Veja também: 9 vezes que Lula pactuou com os militares nos últimos meses

Essa vinda se dá no contexto da corrida eleitoral à presidência francesa, onde Macron disputa com a extrema direita de Le Pen e busca em Lula, que ganhou de Bolsonaro nas eleições brasileiras, um aliado internacional nesse terreno. A verdade é que Macron, no governo desde 2017, poderia dar uma aula de reacionarismo à extrema direita internacional, tendo encabeçado ajustes neoliberais como a reforma da previdência (2023), políticas xenofóbicas e racistas contra imigrantes e a comunidade muçulmana, a autoritária Lei de Segurança Global que garante impunidade policial, e diversos processos de repressão a mobilizações de trabalhadores e setores oprimidos nos últimos anos, incluindo mais recentemente a proibição de manifestações de solidariedade contra o genocídio em Gaza.

É também diante do cenário eleitoral que Macron repudiou o Acordo UE-Mercosul, tão cobiçado pelo agronegócio que quer via aberta para vender seus produtos na Europa. Em casa, Macron se enfrenta com uma série de manifestações de pequenos e médios agricultores franceses que se veem em situação de pobreza crescente, espremidos pelas condições criadas por um mercado dominado pelas gigantes multinacionais, e para os quais um acordo de importação de produtos agrícolas assim seria mais um forte golpe.

Nesse caminho de preocupações domésticas, Macron busca até mesmo roubar votos da extrema direita sendo o mais belicista dos líderes europeus, dando novo impulso ao militarismo imperialista da OTAN, que se prepara para jogar o mundo em novas guerras de grandes proporções. Às custas da destruição dos serviços públicos e dos direitos trabalhistas, o governo francês prepara a “economia de guerra” do próximo período, com orçamentos recordes para a repressão interna (15 bilhões de euros até 2027), o exército (417 bilhões de euros até 2030) e um acordo bilateral imediato de 3 bilhões com a Ucrânia. Macron faz o papel de senhor da guerra e chegou recentemente a mencionar a possibilidade do envio de tropas da OTAN à frente de batalha na Ucrânia, escalando os atritos com Putin e colocando o debate militar em nível nuclear.

No Brasil, em forte clima de campanha midiática, greenwashing imperialista, vemos o ensaio fotográfico de Macron com Lula e cerimoniais com lideranças indígenas na Amazônia. Busca garantir à França, através do território colonial da Guiana Francesa, parte do botim da biodiversidade e recursos hídricos e minerais da Amazônia, além um palco para levar adiante uma ecodemagogia capitalista que suavize a imagem da França enquanto uma das principais potências capitalistas responsáveis pela crise climática global. Essa operação midiática também interessa ao governo da Frente Ampla encabeçado por Lula: como viemos denunciando no Esquerda Diário, a continuidade da morte sistemática de yanomamis (gestada pelas Forças Armadas) e projetos como o de extração de petróleo na foz do Amazonas e a ferrovia Ferrogrão mostram a impossibilidade de Lula garantir tanto uma agenda de preservação ambiental quanto os interesses do agronegócio, dos militares e das multinacionais no Brasil. Simbólico disto é que o cacique Raoni, que acompanhou Lula na posse e acaba de ser condecorado por Macron, desde o início do governo já fez viagem à Brasília por promessas não cumpridas por Lula e agora pede ao presidente que não aprove a Ferrogrão.

Com catorze ex-colônias francesas na África ainda usando o franco CFA como moeda (um mecanismo de espoliação) e multinacionais como a petroleira TotalEnergies instaladas nesse continente e também na Ásia e América Latina, se aproveitando da mão de obra mais barata e da falta de regulamentação ambiental, não há motivos para celebrar Macron ou a França como qualquer tipo de progressismo no cenário global.

Nem mesmo se isenta da responsabilidade diante do genocídio perpetrado por Israel contra o povo palestino em Gaza, apesar dos discursos demagógicos de Macron lamentando as milhares de mortes e a crise humanitária. No total, a França teria vendido 25,6 milhões de euros em equipamento militar a Israel em 2022 e quase 208 milhões de euros nos últimos dez anos. Empresas francesas como a Eurolinks diretamente estão sustentando o fornecimento de armamentos e munições às Forças Armadas de Israel.

Mesmo aqui, no Brasil, Lula se pronuncia contra o genocídio, mas mantém todas as relações diplomáticas, econômicas e militares com Israel, como vemos na absurda compra pela Força Aérea de drones israelenses testados nos bombardeios em Gaza.

Reivindicamos o exemplo do Sindicato dos Trabalhadores da USP (SINTUSP), que repudiou a visita do presidente francês à Universidade, e nos colocamos ao lado dos trabalhadores franceses, nativos e imigrantes, dos povos espoliados, dos povos indígenas e do povo palestino. Abaixo o imperialismo, a guerra, a devastação ambiental capitalista e o sionismo! Como parte da Fração Trotskista, que constrói a organização Révolution Permanente na França, nossa luta é por recriar o internacionalismo revolucionário, buscando nos fundir com a vanguarda dos processos de luta de classes em cada país, batalhando contra todas as alas burguesas e as burocracias que freiam e dividem nossa classe, pela reconstrução da perspectiva socialista e por um partido mundial da revolução. No país da Macron, nos colocamos na linha de frente das batalhas do último período e nos localizamos como uma das principais organizações da extrema-esquerda francesa, recentemente realizando uma conferência com mais de 1200 participantes e espectadores que reuniu militantes sindicais, intelectuais, militantes dos direitos humanos, dos direitos dos imigrantes, da causa palestina, do movimento de mulheres e de juventude sob o lema “recolocar a revolução na agenda”.

Por isso, chamamos todas organizações e militantes da esquerda socialista a construir uma campanha a partir de três propostas urgentes para lutar por um internacionalismo socialista: contra o genocídio na palestina, o militarismo e a espoliação imperialista. Não é possível combater a extrema direita assimilando a direita liberal - cada vez mais reacionária - é preciso seguir o exemplo que cresce desde os trabalhadores e setores populares da Argentina, que se enfrentam com Milei através de mobilizações nas ruas, das greves e da auto-organização nas assembleias de bairro e locais de trabalho.




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