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Crise energética | Ressurgem pequenos protestos em Cuba por conta dos constantes apagões. O que está por vir?

De acordo com jornalistas de alguns meios de comunicação, ao menos uma centena de pessoas se manifestaram nesta segunda-feira (01) contra os apagões na região de Altamira, em Santiago de Cuba, a segunda maior cidade do país. Até poucas semanas, em Palácios, província de Pinar del Río, ocorreram alguns focos de protestos, que são um alerta do que está por vir na ilha.

quarta-feira 3 de agosto de 2022 | Edição do dia

Neste caso de Altamira, em Santiago de Cuba, o protesto se deu após um corte de energia que começou na madrugada e que, umas dez horas depois, até o momento em que se deu o protesto, às duas da tarde (horário local) ainda não havia sido resolvido. De acordo com a agência EFE, o governo ativou imediatamente um dispositivo policial diante dos protestos onde se gritava consignas contra o Governo, ao que responsabilizavam diretamente pelos apagões.

Os apagões também ocorrem num momento em que, pela época do ano, as temperaturas na ilha aumentam a onda de calor. Desde março, os cortes vêm inflamando a ilha e nas últimas semanas foram registrados pequenos protestos em vários pontos do país por conta dos apagões.

Cuba atravessa uma forte crise energética e os apagões vêm aumentando cada vez mais. Em uma entrevista que realizamos com um marxista cubano, Frank García, que está próxima de ser publicada no Esquerda Diário, nos contou que "O grande problema é que a crise energética existe, a crise energética é real e sim já existia anteriormente, porque não podemos esquecer que a faísca que detonou os protestos em 11 de julho foram os fortes apagões que estavam aplicando nas províncias".

Como pano de fundo assinala que "igualmente algo que não podemos perder de vista é que Cuba, não tanto como coexistia na época da União Soviética, não depende, porém tem uma relação muito forte com a Rússia. E entre essas conexões com a Rússia, nesses vínculos econômicos está o petróleo, o combustível, e como vocês sabem perfeitamente, para gerar energia, para gerar a eletricidade nas termoelétricas, isso necessariamente se faz com combustível. E a guerra na Rússia era evidente que iria impactar de maneira muito negativa no abastecimento de combustível, alimento e crédito".

Frank García também se refere ao sistema obsoleto das termoelétricas. "Quanto a isso, temos que ter em conta que as termoelétricas têm, segundo uma informação dada pelo Ministro cubano de Energia e Minas recentemente, um tempo de vida útil de mais ou menos 25 anos. Estas termoelétricas que estamos usando a maioria foram compradas na União Soviética. Imaginem! Foi por volta de 1991. Já fazem 31 anos de exploração dessas termoelétricas (...) Essas termoelétricas foram deixando de serem reparadas por um motivo ou outro."

E qual seriam as causas para a falta de manutenção? Frank coloca que sobre isso "cabe então uma pergunta, sem haver colocado tanto dinheiro, tanto gastos orçamentário com o turismo que como sabemos em 2021, mais de 50% dos gastos estatais se destinaram ao turismo, uma indústria que estava em crise por conta do coronavírus e agora pela guerra russo-ucraniana. Se em vez de destinar tanto gasto para o turismo, não deveria ter destinado antes, não somente para alimentos e medicamentos, se não também para a reparação das termoelétricas em tempo". Além disso, enfatiza que: "O problema é que não vemos como o governo pode superar esta crise, porque além disso existe algo que sempre se esquece, é que realmente existe um bloqueio yanqui que persegue às empresas que tentam negociar com Cuba e as multa".

Então essa já era uma situação conhecida? "Claro, isso é algo que evidentemente os especialistas das termoelétricas com certeza tinham visto, alertaram seus chefes, e seus chefes foram, como se diz em Cuba, elevando suas queixas e isso terminou guardado em alguma gaveta ou simplesmente nem foi dado importância nas esferas de nível mais alto". O Governo cubano recém explicou que os cortes nos fornecimentos são por problemas nas plantas - em sua maioria obsoletas e com falta de manutenção -, o déficit de combustível para a geração e fornecimento e as manutenção programadas.

Nos últimos quatro meses, a estatal União Elétrica (UNE) aumentou os cortes de eletricidade em distintas áreas quase que diariamente. A companhia notificou possíveis problemas de 29 a 31 de julho. A UNE anunciou o déficit que em algumas ocasiões supera 20% da capacidade máxima de geração no horário de pico. Em alguns casos, a população de distintas províncias do país tem denunciado nas redes cortes de mais de 10 horas por dia.

A empresa elétrica estatal cubana anunciou nesta terça-feira (02) novos apagões devido o déficit de 16% de geração durante o horário de pico, logo depois de uma jornada completa de cortes no fornecimento de energia. Desde segunda-feira, La Habana está sofrendo apagões programados por distritos de quatro horas diárias, duas vezes por semana. Nas últimas horas foram registrados além disso vários cortes não previstas. No resto das províncias, entretanto, os problemas levam semanas e podem se prolongar até 10 horas, segundo uma multidão de testemunhas nas redes sociais.

É importante lembrar que durante os protestos de 11 de julho do ano passado os cortes elétricos foram uma das causas do descontentamento social que provocou os protestos massivos e antigovernamentais, junto à escassez de produtos básicos, à inflação e à dolarização parcial da economia.

Frank García, na entrevista referida e a ser publicado neste meio, enfatiza que: "O que aconteceu é que está ocorrendo muitos cortes de eletricidade à classe trabalhadora, e há um detalhe. Um pequeno detalhe que não se deve perde de vista, é que os cortes de eletricidade mais longos estão ocorrendo nas províncias mais ’leais’ (...) O que quero dizer com isso? Que o governo sabe perfeitamente onde pode e onde não pode fazer os cortes de eletricidade. Porque o governo deve saber perfeitamente, ainda que não seja isso o que digam, pois não é muito popular, que é um exemplo, deve tê-los surpreendido porque haviam imposto um Código Penal muito forte, com desmedidas sanções para a maioria dos manifestantes de 11 de julho, uma forte propaganda desacreditando os protestos de 11 de julho de 2021 (...)."

Tudo isso expressa toda uma forte crise energética no país que acumula contradições sem solução que fizeram explodir o 11 de julho passado no marco das políticas da burocracia. No atual panorama, a burocracia cubana tem poucas margens para enfrentar esta nova crise, além do bloqueio que segue impondo os Estados Unidos, já não está mais ocorrendo o forte apoio que vinha da Venezuela, Rússia, no meio de uma guerra. Diante disso, pode ocorrer um conflito social maior que pode superar o ocorrido no passado 11 de julho de 2021. Sobre todos estes temas falaremos com Frank García em uma extensa e nutrida entrevista que publicaremos no Esquerda Diário.




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