×

Caso Miguel | Mais de 3 anos depois, TJ-PE marca julgamento dos recursos da assassina de Miguel

A demora em marcar os recursos, enquanto Sari Corte Real segue solta (e com risco da demora ainda acarretar na prescrição), mostra mais uma vez o caráter de classe e racista da justiça.

sábado 4 de novembro de 2023 | Edição do dia

Era o dia 2 de junho de 2020. Mirtes Renata, em plena pandemia de Covid-19, ainda sem vacinação, era obrigada a ir trabalhar como empregada doméstica. Seus patrões? Sérgio Hacker, então prefeito de Tamandaré pelo PSB, e Sarí Corte Real. O apartamento ficava localizado nas famosas Torres Gêmeas, condomínio de luxo no centro do Recife.

Além de ser obrigada a se expor aos riscos para garantir o trabalho doméstico dos seus patrões, ainda havia uma agravante: com as escolas fechadas, era obrigada a levar seu filho, Miguel, para o trabalho. Nesse dia, Sarí pediu a Mirtes que levasse os cachorros para passear. Mirtes então pediu apenas para ela olhar seu filho enquanto isso. No entanto, depois de todos esses absurdos já citados, Sarí fez mais um: ao invés de olhar o filho de Mirtes pelos minutos que ela estaria fora, simplesmente o colocou no elevador e apertou os botões. O menino de apenas 5 anos, após o ato de Sarí, desceu no nono andar e acabou caindo do prédio. Mirtes só foi saber do assassinato do seu filho após chegar de volta e ver o filho caído no chão.

Desde então, o caso ganhou imensa repercussão e Mirtes se tornou uma lutadora incansável pela justiça por seu filho. No entanto, apesar da repercussão, a justiça mostra todo seu caráter racista e burguês. Sarí foi liberada sob fiança e, mesmo condenada por abandono de incapaz, até agora recorre em liberdade e não passou nem um dia presa. Além disso, com a morosidade da justiça, até a última instância o caso corre o risco de prescrever e ficar totalmente impune.

Isso contrasta totalmente com o tratamento dado quando o réu é negro e pobre. Vemos como muitas vezes até mesmo pessoas inocentes ficam presas mesmo conseguindo provar sua inocência, como caso de André Arcanjo, que era auxiliar de farmácia no Recife e ficou meses preso injustamente acusado de matar seus amigos. Até pouco tempo atrás, Pernambuco era o estado com a maior superlotação carcerária do Brasil e um dos seus presídios, o complexo do Curado, foi condenado na Corte Internacional de Direitos Humanos por violar a dignidade humana de seus internos e mesmo assim, o mesmo TJ-PE se negava a conceder a decisão do cômputo em dobro da pena para os presos de lá. Em alguma inspeções no complexo, foram também achados presos com penas já cumpridas a mais de 5 anos que seguiam lá.

Tudo isso só mostra o caráter de classe e racista da justiça. É preciso arrancar justiça através da mobilização e da luta, confiando em nossas forças, para tomar as ruas, os locais de trabalho e de estudo com os métodos de auto-organização dos trabalhadores, do povo negro, das mulheres, LGBTQIA+ e demais setores oprimidos, pois não será confiando no estado burguês que a justiça será feita.

Essa discussão se faz de suma importância nesse mês, onde no dia 20 se comemora por todo país o mês da consciência negra. Ao mesmo tempo, atacam a lei de cotas enquanto o governo Lula aprova , como presidente do Conselho de Segurança da ONU uma nova intervenção no Haiti, se colocando inclusive para treinar as polícias do Quênia e da Jamaica. Por isso, é importante remarcar que um mundo sem racismo só será possível a partir da luta por acabar com o capitalismo, que se alimenta das opressões para ter lucros ainda maiores. Estaremos nas ruas lutando por justiça por Miguel e por todas as vítimas do racismo.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias