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EDITORIAL INTERNACIONAL | Imprensa mundial: será o Brasil um Paraíso Perdido para o imperialismo?

Nem bem a imprensa imperialista se havia aliviado com as contorções nos bastidores do Judiciário para limpar o golpe institucional da direita e, removendo Cunha, limitar o potencial explosivo que um eventual governo Temer trará para luta de classes, o sucedâneo Maranhão (que disputa corrupção e reacionarismo com Cunha) impõe novas surpresas “desagradáveis”. Mesmo que tenha revogado sua própria anulação, Waldir Maranhão personifica a falta de confiança dos monopólios na política brasileira.

André Barbieri São Paulo | @AcierAndy

terça-feira 10 de maio de 2016 | Edição do dia

Os chefes das finanças mundiais querem reformas neoliberais para superexplorar os trabalhadores brasileiros, e limitar ao máximo a luta de classes. Treinou com carinho no Departamento de Estado norteamericano seres como Sérgio Moro para que a Lava Jato instituísse não o fim da corrupção (inerente ao capitalismo) mas a naturalidade em violar os direitos democráticos elementares e quebrar com punho firme as lutas operárias numa atmosfera dos anos 90. Mas retorna à pergunta: como confiar ataques mais duros aos trabalhadores do que já vinha sendo implementado por Dilma a instituições tão instáveis como essas?

Nas refregas entre o parlamento e o Judiciário para determinar quem controla as rédeas do golpe, e a missão do Judiciário em fortalecer seu papel de árbitro da situação nacional sujeitando tudo a seus caprichos, a burguesia brasileira demonstra um aspecto de sua crise de representatividade: é incapaz de certificar-se com uma figura política que garanta estabilidade na luta de classes. O estado de exceção judicial-parlamentar está a serviço da burguesia contra as lutas, mas ao mesmo tempo deixa incógnitas no caminho do regime político. E é justamente esta certeza que o imperialismo exige para poder considerar o Brasil um teatro de investimentos seguro. Do ponto de vista da classe burguesa, este problema se configura num “déficit estratégico”, tanto mais quanto a perspectiva de uma explosão na luta de classes não diminui com a remoção de Cunha.

O jornal americano New York Times afirma que a anulação da votação do impeachment “aumenta ainda mais o tumulto na luta de poder no maior país da América Latina”. A publicação destaca que o presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão, é um legislador de passado "obscuro" e que a decisão tomada por ele "surpreendeu o país" dois dias antes de o Senado decidir se afasta temporariamente Dilma Rousseff da função de presidente ou não.

O jornal inglês The Guardian afirma que a anulação da votação do impeachment é uma reviravolta digna de um episódio da série House of Cards e que o movimento de Waldir Maranhão é uma "uma tábua de salvação" para a presidente Dilma Rousseff, que está em apuros. A publicação destaca que no momento "a incerteza reina" e que ainda não ficou claro se a decisão pode ser anulada pela Suprema Corte, o Senado ou a maioria na Casa.

A emissora Al Jazeera destaca a surpresa de todos com a decisão e “a reação negativa do mercado financeiro com a anulação da votação do impeachment”. É apresentada a justificativa dada pelo deputado de que havia falhas processuais na votação.

A publicação inglesa BBC dá destaque para o impasse gerado entre as duas casas do Congresso. A reportagem afirma ser "improvável" que os 367 membros da Câmara que votaram a favor do processo de impeachment, “muitos dos quais com discursos inflamados antes de lançar os seus votos", mudem de ideia a respeito do afastamento da presidente Dilma, e que a chance da presidente ser suspensa permanece alta.

A Bloomberg, mais aberta defensora do golpe, dá destaque para as consequências da decisão de anulação da votação do impeachment no campo econômico, afirmando que a medida causou "surpresa" e que "provocou uma onda de vendas em todos os mercados locais". Mesmo tom do Financial Times, que põe a “queda do real” como fantasma produto da montanha russa conjuntural. Destacam ambos que a ação não será suficiente para salvar o mandato de Dilma e que apenas realça a vulnerabilidade do processo e os desafios legais que "podem manter a maior economia da América Latina atolada em uma crise".

Se o golpe institucional abre alas aos anseios do imperialismo de maior abertura aos mercados internacionais, mais privatizações e flexibilização da leis trabalhistas – dirigido pela turma de CEOs, banqueiros e empresários que lotará o gabinete de Temer – os fatores imponderáveis do regime político tupiniquim (seus “Maranhãos, Cunhas, etc”) não podem encantar investidores que querem incrementar sua taxa de lucro. Esta é a razão dos constantes alertas sobre as “reações negativas do mercado financeiro”.

O PT abriu o caminho para o fortalecimento da direita, mas não só: também encorajou instituições reacionárias como o Judiciário a alcançar o papel de juiz-árbitro da situação nacional, rasgando a Constituição e violando os direitos democráticos elementares a seu capricho. Instala hoje um “estado de exceção” judicial-parlamentar em que tudo se decide nas alturas. Confia em parlamentares e juízes que fazem o jogo do golpe, e silencia as bases operárias nas fábricas e centros da economia. Para os marxistas revolucionários é obrigatório concluir que nenhum combate à corrupção e à impunidade capitalistas pode vir pelas mãos do Judiciário e da Lava Jato, e de primeira ordem combater seu fortalecimento reacionário (ao contrário do que acreditam PSTU e PSOL, que aplaudem os ministros do STF e querem “Lava Jato” até o final).

A luta de classes será o palco em que se testará a relação de forças. As manifestações deste dia 10 chamadas pela CUT e CTB serão inofensivas e burocráticas. É preciso exigir que rompam sua paralisia cúmplice e convoquem já uma greve geral real para combater os ataques e o golpe.

O descontentamento com o golpe se canaliza cada vez mais nas lutas que despontam na juventude secundarista, com as ocupações de escolas em SP, RJ e CE, e as paralisações operárias como na Mercedes-Benz e o setor da educação do RJ. É da força dessas lutas contra o golpe e os ataques que se poderá impor o questionamento de toda esta democracia “do suborno e da bala”: uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana que imponha pela luta dos trabalhadores que todos os juízes sejam eleitos, revogáveis e recebam o mesmo salário de uma professora, e o mesmo para os políticos de alto escalão, que faça os capitalistas pagarem pela crise, expulse o imperialismo e rume a um governo dos trabalhadores anticapitalista.




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