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CRISE REFUGIADOS | Hollande quer desalojar as crianças e refugiados da “selva” de Calais

Josefina L. MartínezMadrid | @josefinamar14

sexta-feira 26 de fevereiro de 2016 | 00:00

O governo de Hollande busca mover os refugiados a uma zona de barracões onde instalou contêineres com camas. Mas as organizações não-governamentais que trabalham na “selva”¹ denunciaram que não havia capacidade para todos os refugiados. Entre eles estão cerca de 300 crianças refugiadas não acompanhadas que há meses habitam Calais. As ONGs apresentaram uma denúncia frente ao Tribunal Administrativo de Lille (norte da França), cuja titular visitou o acampamento nesta terça-feira e atrasou temporariamente o despejo.

O governo contabilizava cerca de 1000 refugiados na zona do despejo, mas as ONGs asseguram que são mais de 3500 os refugiados que seriam afetados. Todos vivem em condições muito precárias na “selva” onde construíram uma escola, lugares para comer, para rezar, um centro juvenil e um posto de assistência médica. A maioria não quer abandonar este lugar porque não sabem o que vão encontrar depois. A proposta do governo é desmanchar o campo e dividi-los em vários centros de refugiados, mas isto os distancia ainda mais de seu sonho de chegar no Reino Unido.

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"Eu só saio daqui para ir ao Reino Unido", Aso garantia a um jornalista da EFE. Aso é um iraniano que vive em Calais e tem seus irmãos do outro lado do Canal da Mancha, no Reino Unido.

Em Calais os refugiados vivem “sem registro”, clandestinos. Se os moverem para os novos barracões ou centros de refugiados, a França vai registrar suas impressões digitais. E isso significa que já não poderão pedir asilo no Reino Unido. "Isso já fecha as portas do Reino Unido pra você", afirma a EFE Gabremikel, um eritreu de Calais.
Como resposta ao anúncio francês de desmantelar o campo de Calais, as autoridades belgas reforçaram a presença policial na fronteira, para evitar uma entrada massiva de refugiados expulsos de França.

As crianças de Calais
Segundo o censo realizado pela organização Calais Solidarity (Solidariedade com Calais), na zona que querem desalojar há atualmente 3455 residentes, dos quais 2808 são homens, 183 mulheres e 440 crianças. Isso inclui 13 idosos, 293 crianças não acompanhadas e 90 crianças com suas famílias no Reino Unido.

A quantidade de menores não acompanhados em Calais é um fenômeno crescente. Muitos viajam sem nenhum familiar através da Europa, seja porque estão órfãos, porque vão em busca de familiares em outro país ou porque tiveram que deixá-los na Síria, Iraque ou Afeganistão.

O domingo passado, cerca de 150 artistas britânicos, entre os quais estava o ator Jude Law, visitaram o campo de Calais para solidarizarem-se com os refugiados. O ator leu uma carta aberta ao primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, exigindo que se dê asilo imediato às crianças refugiadas que têm familiares neste país e que se busque soluções para os que seguem na França.

A desenhista britânica Kate Evans visitou várias vezes o campo de Calais como parte de um movimento solidário com os refugiados, junto a muitos outros ativistas do Reino Unido. Em sua última visita a Calais, Evans se dedicou a desenhar as crianças e refugiados, contando suas histórias por meio do lápis e do papel. Como a de uma criança de 12 anos que percorre com sua bicicleta o campo de Calais e espera poder chegar ao Reino Unido para juntar-se com seus tios. Ou o caso de outro menor cujos familiares foram buscá-lo para levá-lo ao Reino Unido, mas que não pode sair de Calais por atrasos burocráticos com seus papéis.

Organizações de direitos humanos e de proteção da infância denunciaram que milhares de menores refugiados não acompanhados desapareceram depois de entrar na Europa. Muitos deles podem ter caído em mãos de redes de tráfico de pessoas ou utilizados por redes de crime organizado. O destino trágico das crianças refugiadas é o lado mais feio do capitalismo europeu.

1. a "Selva de Calais" é o termo que tem sido utilizado para designar a região dos arredores de Calais, no norte da França, na qual migrantes da Síria, Afeganistão, Sudão, Iêmen e Eritreia aguardam uma oportunidade para atravessar o Canal da Mancha e chegar à Inglaterra.




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