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Eleições 2022 | Henrique Meirelles anuncia apoio a Lula e anima capital financeiro, confiante na manutenção dos ataques

Nesta segunda-feira, 19, Lula recebeu ex-presidenciáveis em evento de apoio a sua candidatura em São Paulo. Henrique Meirelles (União Brasil), foi destaque dentre os apoiadores. Ex-presidente do Banco Central entre 2003 e 2011, durante os dois mandatos do atual candidato do PT, e também Ministro da Fazenda do governo golpista de Michel Temer, seu apoio representa mais um movimento de Lula em favor de alianças com representantes do grande capital nacional e imperialista.

Ítalo GimenesMestre em Ciências Sociais e militante da Faísca na UFRN

terça-feira 20 de setembro de 2022 | Edição do dia

No mesmo evento, junto ao vice Geraldo Alckmin (PSB), tido como articulador dessa aliança, estavam também Cristovam Buarque (Cidadania), ex-ministro de Lula, além de outros ex-presidenciáveis que já formavam o arco de apoiadores do petista, Guilherme Boulos e Luciana Genro pelo PSOL, Marina Silva (REDE) e João Goulart (Filho).

Meirelles, que recentemente participou da gestão de João Dória/Rodrigo Garcia em São Paulo, adversários de Fernando Haddad em São Paulo, evidenciou as razões do seu apoio. Disse acreditar “em fatos” e saber “[...] o que funciona e o que pode funcionar no país”, reivindicando os governos do PT. Em entrevistas à imprensa Meirelles explica que o que para ele “funciona” é a continuidade das reformas e ataques aprovados pelo governo Temer, como a PEC do Teto de Gastos que ele criou, com novas privatizações para caber o orçamento nesse teto, assim como a aprovação das reformas administrativa e tributária:

“Agora, tenho a segurança de que há uma solução para isso e já testamos aqui no Estado de São Paulo. Fui secretário da Fazenda, Planejamento, por mais de três anos. E testamos essa alternativa, que é fazer uma reforma administrativa rigorosa, fechando estatais que já perderam finalidade, cortando benefícios indevidos, fazendo uma reforma fiscal bem feita, cortando também benefícios tributários dados há muitos anos, que já perderam a finalidade. Está nos jornais esses dias o total de benefícios tributários: R$ 400 bilhões por ano. Uma barbaridade. Existe espaço muito grande para se fazer um ajuste muito grande. O governo Lula, eleito, tem condições de fazer isso, com liderança, força e credibilidade.” - afirmou Meirelles ao jornal Globo

A opinião de empresários ligados ao capital financeiro, como Ricardo Lacerda, sócio-fundador do BR Partners Banco de Investimento é de que: “Depois da aliança com Geraldo Alckmin, o apoio de Henrique Meirelles a Lula é o fato mais importante na conquista do empresariado e parte da classe média que rejeita o petista", diz. "Uma eventual confirmação de Meirelles como ministro da Economia aumentaria as chances de vitória de Lula já no primeiro turno", afirma Lacerda.

Para além do eleitor antipetista de classe média, que defende os mesmos ataques que Meirelles e Alckmin, o apoio que Lula está buscando é do grande capital, sobretudo o capital financeiro internacional e nacional. Além do financiamento pesado da campanha do petista por parte de banqueiros, o que Lula busca é transmitir segurança para os grandes capitalistas de que seus lucros não serão tocados, e que as reformas responsáveis pela miséria da população estarão seguras no seu governo. É o que o próprio Lula faz questão de enfatizar quando afirma nunca ter dito que revogará as privatizações, em entrevista à CNN.

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O dólar caiu 1,79%, ficando em R$5,16, e a Ibovespa teve alta de 2,33%. Ainda que outros fatores, como a tendência a elevação dos juros, possa ter impactado, analistas de mercado dizem que o aumento pode ser reflexo desse "chamado ao Meirelles" da campanha do Lula.

Sob a justificativa de tentar ganhar a eleição no primeiro turno contra o execrável e reacionário Jair Bolsonaro, Lula busca alargar cada vez mais as fronteiras da aliança eleitoral e política de sua candidatura. Nesse mesmo dia, Alckmin buscou estabelecer pontes entre o petista e ex-tucanos que ainda não entraram no apoio a Lula. Além destes, políticos do Centrão, como lideranças da bancada ruralista, ligados ao PP, Republicanos, e até mesmo do PL do Bolsonaro entram nas conversas, sob articulação do ex-governador do Piauí, Wellington Dias (PT). É a receita para a catástrofe dos trabalhadores e o povo pobre, aprofundando o grau de conciliação do PT com atores mais reacionários do regime, uma política que abriu caminho para o golpe institucional de 2016 e o fortalecimento da extrema-direita.

Nesse evento, Haddad chama esse arco de alianças como a campanha “mais representativa desde a redemocratização”, pois junto liberais defensores das reformas, incluso aí a ecocapitalista Marina Silva, estavam até mesmo os “socialistas” do PSOL, com Boulos e Luciana Genro, justificaram a aliança com a necessidade de “defender a democracia”. É uma vergonha dizer isso ao lado dos agentes do golpe institucional de 2016, que abriu espaço para a extrema-direita no regime. As personagens do PSOL dão cobertura para uma frente com empresários e financistas que apoiam muitas das reformas econômicas de Bolsonaro e Guedes.

O evento ocorria enquanto Bolsonaro viajava para Londres bajular a família real inglesa, representante do colonialismo ao redor do mundo, cuja herança reacionária é inspiração para sua política, que reivindica também a herança escravista da Monarquia brasileira. Falou com seus apoiadores contra a chamada “ideologia de gênero”, assim como voltando a questionar o resultado das urnas, dizendo que se não fosse eleito no primeiro turno, “algo estranho” estaria ocorrendo no TSE. Bolsonaro vem mostrando um tom mais pacificado, assumindo até mesmo que irá “passar a faixa” e “se aposentar da política” caso perca a eleição, em busca também do eleitor de centro. Mas não deixa de, para a sua base mais fiel, se apoiar na demonstração de forças do 7 de setembro para manter as incertezas de como vai lidar com o resultado das urnas. E mais que isso, é mais uma demonstração de que a extrema-direita veio para ficar e não vai ser derrotada pelas eleições.

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Essa Frenta Ampla com atores cada vez mais pró-imperialistas, demagogos que só querem arrancar o coro dos trabalhadores para agradar a grande burguesia em meio a crise, cujos efeitos se aprofundam com a guerra da Ucrânia, se mostra um empecilho para uma resposta a essa extrema-direita. Uma resposta que só virá através da unidade nas ruas, nas greves, da enorme força que os trabalhadores, as negras e negros, mulheres, povos indígenas e o conjunto dos setores afetados pela crise, que a Frente Ampla serve para conter, se utilizando da paralisia imposta pelas grandes centrais sindicais da CUT e da CTB. É necessário exigir dessas centrais que rompam a paralisia e construam um plano de lutas para revogar as reformas e por um programa que os capitalistas paguem pela crise.

A campanha de voto útil para Lula levará a esvaziar esse debate, e por isso, para que exista a crítica à conciliação de classes (diante da diluição do PSOL no programa petista), e a defesa de um programa dos trabalhadores, é necessário seguir defendendo o voto no Polo Socialista e Revolucionário, representado na presidência por Vera Lucia, e para apresentar uma alternativa independente e dos trabalhadores temos apresentado nossas candidaturas do MRT para deputados federal e estadual em vários estados. Cada voto em nossas candidaturas nas principais concentrações operárias e de juventude do país serve para aumentar uma força anticapitalista e socialista, e tem uma importância significativa nesse sentido.

Editorial MRT | Combater o bolsonarismo e preparar a vanguarda para a luta contra as reformas e ataques




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