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Editorial MRT | Combater o bolsonarismo e preparar a vanguarda para a luta contra as reformas e ataques

O último 7 de setembro foi analisado por distintos setores da esquerda e na mídia como um ponto importante da campanha eleitoral. O bolsonarismo conseguiu com a mistura de ato institucional da independência e sua campanha eleitoral demonstrar força similar ao que havia conseguido no último ano. A forma como se deram os atos devem nos levar a conclusões e orientar estrategicamente a vanguarda dos trabalhadores e da juventude.

terça-feira 13 de setembro de 2022 | Edição do dia

Em primeiro lugar, é preciso perceber que a estratégia de Bolsonaro se distinguiu do 7 de setembro do ano passado por apresentar um discurso reacionário, mas não abertamente golpista e inclusive os próprios atos e faixas estarem relativamente bem centralizados. Conforme viemos argumentando, não existem condições e relação de força para implementar um golpe militar de tipo clássico, e não é nesse sentido que está se orientando a extrema-direita no país. Os atos do dia 7 foram eleitorais, com o intuito de aumentar o máximo possível a força de votos de Bolsonaro no primeiro turno – demonstrando certo disciplinamento ao regime político e forças burguesas, como Fiesp e Febraban, inclusive que sinalizaram não estarem favoráveis a aventuras golpistas. Não porque tenham algo de democráticas, nem por discordar de todo o programa econômico de Bolsonaro (que sempre apoiaram), mas porque estão lendo a situação nacional e pensando a melhor forma de gestão do capitalismo brasileiro e suas desigualdades, evitando desestabilizações políticas para preservar as reformas e privatizações já aprovadas.

A tendência principal ainda segue a da vitória de Lula e uma transição com frações burguesas e setores do regime político. Daqui que as declarações de Bolsonaro em entrevista em podcast nesta semana dizendo que “se for a vontade de Deus passará a faixa” pode ser explicado por sua estratégia eleitoral, mas também pela leitura que ele mesmo faz da relação de forças atual.

Ao mesmo tempo, o tom menos golpista não significa que tenha desinflado a base bolsonarista. Pelo contrário, os atos tiveram um efeito nas bases, que se soma a uma tendência progressiva desde maio de certa recomposição eleitoral de Bolsonaro, embora por ora longe de emparelhar a disputa. E também esse sentido eleitoral não significa que não possa, com certa animação das bases, gerar novos incidentes e ameaças, como vimos no caso de Guilherme Boulos ou do assassinato de um apoiador de Lula no Mato Grosso por um bolsonarista. Frente a uma eleição mais polarizada, não está descartado que o bolsonarismo busque tornar a transição mais turbulenta, o que pode abrir margem novamente a questionamentos dos resultados eleitorais e iniciativas (mais ou menos incisivas) nesse sentido - isso depende de se haja alguma mudança nas pesquisas próximas semanas.

Tendo isso em vista, a vanguarda dos trabalhadores e da juventude deve ter em mente em primeiro lugar que é fundamental o combate efetivo ao bolsonarismo, no qual colocamos o Esquerda Diário e nossas candidaturas do MRT como ferramentas de denúncia e combate contra essas tendências reacionárias. Devemos seguir, ao mesmo tempo, batalhando e fazendo chamados a que as centrais sindicais, a UNE e entidades de juventude rompam a paralisia e convoquem verdadeiras manifestações de classe para enfrentarmos o bolsonarismo nas ruas. A estratégia de esperar e canalizar as energias só para a aposta eleitoral seguirá fortalecendo a extrema-direita no país, que ganham nas ruas sem resposta à altura.

Além disso, importante nesse combate à extrema-direita apresentarmos um programa operário que questione sem meias palavras todas as reformas que ocorreram após o golpe institucional, como a trabalhista, previdenciária, o teto dos gastos de saúde e educação. Basta de empresários e banqueiros lucrando sem limites e a população trabalhadora sofrendo com essas reformas. E devemos ir além, partir disso para questionar os problemas de fundo do país, começando por lutar pelo não pagamento da fraudulenta dívida pública que sangra nosso orçamento de saúde e educação para aumentar os lucros do capital estrangeiro; reivindicando uma reforma agrária radical que questione essa lógica do agronegócio e ataque o problema da fome no país pela raiz; lutando por uma reforma urbana radical, colocando em evidência o problema da moradia e da especulação imobiliária; questionando radicalmente o trabalho precário no país, marcado pela terceirização e agora a uberização do trabalho, em que devemos defender a efetivação das e dos trabalhadores com todos os direitos, incluindo os trabalhadores de aplicativo na legislação trabalhista.

Esse programa só será levantado por uma alternativa independente dos trabalhadores. Vimos no Chile recentemente mais uma prova de como a conciliação de classes somente fortalece a direita. É preciso debater com todos os setores que a saída da conciliação, representada pela chapa Lula-Alckmin, não é alternativa e não responderá aos problemas estruturais do país; na realidade, Lula já afirmou que não revogará as reformas que ocorreram nos governos Temer e Bolsonaro, assim como negou ter falado em rever privatizações, na entrevista a William Waack na CNN. A importância dessa discussão é preparar setores de vanguarda para que compreendam que seguirá o debate pelas demandas dos trabalhadores, e só com luta e organização conseguiremos reconquistar nossos direitos e questionar os problemas estruturais do capitalismo brasileiro. Objetivo para o qual é necessário que nos quatro cantos do país haja um setor da classe preparado para defender uma alternativa socialista, para que o fracasso de um novo governo de conciliação não termine fortalecendo novamente a extrema-direita. A campanha de voto útil para Lula levará a esvaziar esse debate, e por isso, para que exista a crítica à conciliação de classes (diante da diluição do PSOL no programa petista), e a defesa de um programa dos trabalhadores, é necessário seguir defendendo o voto no Polo Socialista e Revolucionário, representado na presidência por Vera Lucia, e para apresentar uma alternativa independente e dos trabalhadores temos apresentado nossas candidaturas do MRT para deputados federal e estadual em vários estados. Cada voto em nossas candidaturas nas principais concentrações operárias e de juventude do país serve para aumentar uma força anticapitalista e socialista, e tem uma importância significativa nesse sentido.

A vitória da chapa Lula-Alckmin não será o fim do bolsonarismo e nem de formas de autoritarismo no regime político, pelo contrário. A tendência é que siga uma oposição reacionária de pelo menos 30-35% do país, além do peso dos militares no regime e as medidas autoritárias do judiciário. Basta ver que o TSE presidido por Alexandre de Moraes facilitou a participação das Forças Armadas na avaliação dos resultados eleitorais, uma interferência sumamente autoritária na política. A extrema-direita só será derrotada nas greves e mobilizações, como nossa tradição histórica demonstra, uma vez que o integralismo no Brasil só foi derrotado com uma forte frente única dos trabalhadores, com os trotskistas impulsionando e se unificando outras forças da esquerda, na célebre batalha da praça da Sé em 1934. A forte crise econômica e social tende a acirrar as contradições e polarizar ainda mais o país, e por isso a esquerda anticapitalista e socialista deve estar preparada.

O Esquerda Diário seguirá denunciando cada expressão reacionária do bolsonarismo diariamente, e apontando a necessidade da luta nas ruas contra o bolsonarismo. Além disso, também seguimos apontando a necessidade de uma posição independente e dos trabalhadores, criticando a conciliação e os significados da chapa Lula-Alckmin e defendendo por um programa operário que parta da revogação das reformas e ataques sem mediações. Além disso, é preciso responder de forma unificada com todas as forças da esquerda, sindicatos, movimentos sociais, DCE’s e Centros Acadêmicos a qualquer ataque ou atentado a ativistas, trabalhadores e do campo progressista.

Para construir uma força nas ruas verdadeira que possa dar uma resposta contundente ao reacionarismo, fazemos um chamado de urgência a que as centrais sindicais e organizações estudantis impulsionem um plano de lutas contra o bolsonarismo e contra as reformas e privatizações.




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