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CRISE NA GRÉCIA | Grécia e os “oxímoron” da União Europeia

O povo grego disse massivamente Não (OXI) aos maiores ajustes e austeridade. Mas em Bruxelas se está negociando, entre quatro paredes, um acordo contrário a essa vontade. O OXI grego é o oxímoron da “União Europeia democrática”.

Josefina L. MartínezMadrid | @josefinamar14

quinta-feira 9 de julho de 2015 | 00:00

Nesses dias agitados, todos nós aprendemos algumas palavras em grego. OXI: Não. Nai: Sim. E outra palavra que vem a mente por associação: Oxímoron. Segundo a definição de RAE, é a combinação de duas palavras ou expressões de significado oposto, que dão lugar a um novo sentido.

O curso dos acontecimentos depois do referendo de domingo faz visível vários oxímoron no discurso da União Europeia.

Um “acordo favorável a todos”. Porque é um oxímoron? Porque a palavra “acordo” deveria ser substituída por “imposição”?, já que isso é o que vem fazendo a Troika com os planos de resgate nos últimos anos.

Com a economia grega à beira do colapso; uma dívida asfixiante que, aceitada pelos sucessivos governos capitalistas gregos, cresceu exorbitantemente para salvar os bancos alemães e franceses e um plano de ajuste que descarregou a crise sobre o povo trabalhador, se torna ridículo falar de um “acordo”.

Estes dias em Bruxelas a Troika buscará impor um novo plano de “resgate” que só beneficiará os credores, e os organismos financeiros que salvaram os bancos, privatizaram os ganhos e socializaram as perdas. Se busca impor um “acordo” que implica mais cortes e endividamento, mais penúrias para um povo trabalhador afundado na crise a 7 anos. Por isso falar de um “acordo favorável a todos” é um oxímoron.

Segundo oxímoron: uma “União Europeia democrática”. Embora milhões, jovens e mulheres se pronunciaram pelo NÃO no último domingo, um punhado de líderes e diretores do BCE e do FMI vão negociar a portas fechadas com o governo heleno um novo plano de endividamento e austeridade para Grécia.

A “União Europeia democrática” é um oxímoron que mais do que nunca, ficou mais claro nas últimas semanas. A UE apareceu a vista de milhões, na Grécia e em muitos países da Europa, como uma coalisão de Estados imperialistas, sob hegemonia alemã, para defender os interesses dos bancos e dos monopólios. A prepotência da Troika frente o povo grego desnudou a hipocrisia da “Europa solidária e democrática”.

Lamentavelmente, os oxímorons de la UE não são exclusivos dos líderes imperialistas, mas também das novas formações neoreformistas como Syriza e Podemos, que plantam ilusões entre os trabalhadores e os setores populares de que é possível democratizar uma instituição imperialista reacionária como a União Europeia do capital.

Alexis Tsipras se reuniu na terça com os líderes dos partidos da oposição grega, Nova Democracia, Pasok, To Potami e Anel (que é parte do governo) para firmar um “compromisso nacional” para as negociações em Bruxelas. Ou seja, os derrotados de domingo, os que durante a última semana anunciaram que se vinha uma catástrofe se o NÃO ganhasse, terminaram acordando com o governo as linhas gerais da nova proposta grega. Assim um grande paradoxo entre o resultado do referendo e a política do Syriza de conciliação com a Troika.

O oximoro maior de Syriza e Podemos é a estratégia de um “capitalismo justo” e uma “Europa democrática” nos marcos do capitalismo, uma figura retórica que se confronta a cada passo com a realidade.




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