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Petroleiros | Entrevista com Sílvio Sinedino: “É possível ser aliado do patrão?”

Como parte da lembrança do dia de luta dos aposentados, acontecido em 24/01, o Esquerda Diário entrevistou importantes petroleiros ativistas aposentados. Nesta entrevista falamos com Sílvio Sinedino, que já foi diversas vezes diretor do SINDIPETRO-RJ e já foi mais de uma vez membro eleito nacionalmente pelos trabalhadores ao Conselho Fiscal da PETROS, plano de previdência da categoria.

quinta-feira 25 de janeiro | Edição do dia

Sílvio Sinedino é um dos petroleiros mais conhecido da categoria, tendo sido eleito mais de uma vez ao Conselho Fiscal da Petros e tem longa trajetória de militância na classe trabalhadora e na categoria petroleira, em especial no SINDIPETRO-RJ. Nesta série de entrevistas conduzidas com aposentados ativistas da categoria, também entrevistamos Fabíola Mônica, liderança conhecida dos anistiandos e anistiados, e também a liderança dos aposentados Roberto Ribeiro. Junto a todos eles, e outras organizações políticas e sindicais, impulsionamos o "Manifesto Independência de Verdade e Unidade Para Lutar", que chamamos os leitores a conhecerem e apoiarem, bem como a conhecerem nossas posições para além deste manifesto comum a todas essas forças políticas, lendo "Lições do acordo coletivo: que tipo de organização sindical e pela base os petroleiros precisam?"].

Esquerda Diário: Você é uma pessoa muito conhecida da categoria petroleira, já tendo sido diretor sindical no Sindipetro-RJ mais de uma vez, e membro eleito para Conselho Fiscal da Petros mais de uma vez, sendo inclusive eleito recentemente. Nos conte de sua trajetória de luta e suas experiências na categoria quando era da ativa nos anos 80 e 90.

Sinedino: Na verdade minha militância sindical é derivada da militância estudantil, quando em 1972 comecei no Diretório de Engenharia da PUC-Rio, onde estudei com bolsa de estudos. Posteriormente, em 1978 fui um dos fundadores da APPD, Associação dos Profissionais de Processamento de Dados , que depois se transformou no Sindp-RJ.

Após entrar na Petrobrás em 1987, filiei-me logo ao Sindipetro-RJ e participei de todas as greves da Categoria até minha aposentadoria em 2015. A grande diferença de hoje em dia para o passado é que “naquele tempo” (papo típico de velho!) não havia os PIDVs, assim a “cultura” de Luta da Categoria era passada ao longo do tempo pela convivência diária com os mais antigos e experientes.

Esquerda Diário: O primeiro governo do PT ficou marcado por diversas medidas neoliberais como reforma da previdência e na Petrobras também aconteceu intenso debate sobre a “repactuação” gerando divisão sindical da categoria. Nos conte sua visão sobre esse processo.

Sinedino: A Reforma da Previdência havia sido tentada pelo FHC e rechaçada pelos Servidores Públicos, entretanto, no 1o Governo Lula, com o apoio do PT, que “rachou” e gerou a criação do PSOL, foi aprovada. Na Categoria Petroleira, com a repactuação aconteceu o mesmo: havia sido tentada pelo FHC e a Categoria unida na sua então única Federação, a FUP, derrotou a mudança.

Já no Governo Lula, a própria FUP fez Campanha pela repactuação em dobradinha com o RH da Petrobrás. Foi uma Campanha desleal, enquanto os defensores da repactuação falavam horas nas apresentações, nós, opositores, tínhamos intervenções de 3 minutos para fazer o contraponto, sem falar nas publicações mentirosas que diziam que a repactuação acabaria com a possibilidade de déficits.

Essa repactuação trouxe graves problemas, dos que cito dois: 1) dividiu a Categoria entre repactuados e não-repactuados (divisão de Trabalhadores é papel de patrão!); 2) ⁠desvinculou o reajuste dos benefícios do reajuste da Ativa, enfraquecendo os Aposentados/Pensionistas.

Quem ganhou com a repactuação?

Principalmente a Petrobrás que livrou-se da responsabilidade exclusiva por déficits gerados pela aplicação do reajuste da Ativa aos benefícios do PPSP.
E com o Petros-2 livrou-se também, totalmente, de déficits gerados na fase de acumulação dos Planos (fase da Ativa).

Muitos não sabem, mas foi a defesa da repactuação pela FUP que fez com que criássemos a FNP!

Esquerda Diário: Em sua resposta você falou bastante sobre o papel da FUP para que empresa e governo conseguissem impor este ataque à categoria. Como você avalia que foi o papel da FUP durante os governos do PT e depois na oposição aos governos Temer e Bolsonaro onde se intensificaram outros tipos de ataques, como por exemplo as privatizações.

Sinedino: O papel da FUP nos Governos do PT foi exatamente o de ser Governo, com lideranças sindicais então expressivas assumindo cargos relevantes na administração da Petrobrás. Aí argumenta-se: ué, ganha-se o Governo e vai se governar com inimigos nas gerências? Ao que respondo: só há pessoas favoráveis aos Governos do PT nos Sindipetros?

Não há na Petrobrás Petroleiros simpáticos ao Governo ou mesmo militantes do PT que não sejam Sindicalistas? Quando na oposição a FUP comporta-se de maneira um pouco mais combativa, mas nossos ACTs ressentem-se ainda da falta de avanços e da perda de direitos.

Quanto às privatizações nos Governos Temer e Bolsonaro, continuamos na expectativa do atual Governo Lula revertê-las como propagandeado na Campanha Eleitoral. Não podemos deixar de lembrar que o maior leilão de campos de petróleo, com o campo de Libra, foi realizado o Governo Dilma.

Esquerda Diário: A política discriminatória a petroleiros que não repactuaram persistiu nos governos Temer, Bolsonaro e agora no novo ACT sob o novo governo Lula. Dentro da categoria há muitos relatos de petroleiros aposentados passando necessidades devido aos descontos do plano de saúde (agora privatizado, chamado APS) e os abusivos descontos aos vencimentos (APS), nos conte mais sobre a situação dos aposentados.

Sinedino: Os não-repactuados têm sido discriminados ao não receber os reajustes reais dados à Ativa, mas a situação realmente dramática dos Aposentados/Pensionistas atinge repactuados e não-repactuados e deve-se à recusa da Petrobrás de reconhecer e pagar suas dívidas com os PPSPs, gerando os PEDs assassinos, bem como a AMS que aceitamos mudar (sim, foi aprovado em ACT anterior!) para a proporção 60x40% aumentando em 33% nossa contribuição. Essa situação tem trazido muito desassossego desnecessário aos Assistidos e, infelizmente, até suicídios…

Esquerda Diário: Na categoria petroleira os aposentados vieram desempenhando um papel muito importante em mobilizações, porém também se escuta muitas reclamações de divisões entre ativa e aposentados, bem como muitas outras divisões que existem na categoria, entre efetivos e terceirizados, entre várias outras. Como você explica esta situação e qual papel você acha que os sindicatos deveriam ter frente a estas divisões?

Sinedino: No meu entendimento, muito dessa divisão entre Ativa e Aposentados deve-se à pouca convivência dos “novos” com os “antigos”, como já comentei, pelos PIDVs.

É importante notar também que muitos dos “novos” não pretendem ficar na Companhia, estão “de passagem”, então não veem sentido em assumir compromissos mutualistas como a AMS, onde claramente paga-se relativamente muito por pouco uso (são jovens!), situação que se inverte na Aposentadoria. Se não vou estar aqui para me aposentar por que pagar AMS agora?

O que foi facilitado pela Cia ao tornar a AMS opcional, quando sempre foi obrigatória.
Acho que os Sindicatos têm um papel fundamental nessa questão, defendendo a garantia no emprego, conquistando menores custos e obrigatoriedade na AMS, incentivando a estabilidade no trabalho e promovendo integração entre Ativa e Aposentados, receita do sucesso da Petrobrás.

Com relação à terceirização os Sindicatos têm que fazer Campanhas mostrando que são Petroleiros como nós e para acabar com a terceirização temos que ajudá-los a conquistar os mesmos direitos que já temos.

Como gosto de falar: Concurso Público não paga comissão…

Esquerda Diário: Quais são os desafios dos petroleiros no atual período, e como deveriam se organizar – em sua opinião – diante destes desafios que você pontua?

Sinedino: O maior desafio dos Petroleiros hoje é recuperar sua capacidade de Luta e partir para avançar nos direitos da Categoria, recuperando o que foi perdido nos últimos ACTs.

O fim dos PEDs assassinos e a recuperação da proporção 70x30 na AMS são duas questões vitais (sim, questão de vida ou morte!) que têm que ser conquistadas com urgência.
Para isso os Sindicatos têm que manter sua independência do Governo, de qualquer Governo, lembrando que no nosso caso o Governo é nosso patrão.
É possível ser aliado do patrão?

Só a Luta traz conquistas para o Trabalhador!




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