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Petroleiros | Entrevista com Roberto Ribeiro: “O que vocês fizerem hoje pelos aposentados e pensionistas estarão fazendo por vocês”

Como parte da lembrança do dia de luta dos aposentados, acontecido em 24/01, o Esquerda Diário entrevistou importantes petroleiros ativistas aposentados. Nesta entrevista falamos com Roberto Ribeiro, que foi diversas vezes diretor do Sindipetro-RJ e também foi membro eleito pelos trabalhadores do Conselho Deliberativo da Petros, plano de previdência dos petroleiros.

sexta-feira 26 de janeiro | Edição do dia

Roberto Ribeiro é um petroleiro muito conhecida da categoria, uma conhecida liderança dos aposentados, tendo sido dirigente do SINDIPETRO-RJ e membro eleito pela categoria para o Conselho Deliberativo da Petros, plano de previdência dos petroleiros. Nesta série de entrevistas conduzidas com aposentados ativistas da categoria, também entrevistamos Sílvio Sinedino, Fabiola Mônica, liderança conhecida de aposentados e de anistiados . Junto a todos eles, e outras organizações políticas e sindicais, impulsionamos o "Manifesto Independência de Verdade e Unidade Para Lutar", que chamamos os leitores a conhecerem e apoiarem, bem como a conhecerem nossas posições para além deste manifesto comum a todas essas forças políticas, lendo "Lições do acordo coletivo: que tipo de organização sindical e pela base os petroleiros precisam?"].

Esquerda Diário: Você é uma pessoa muito conhecida da categoria petroleira, já tendo sido diretor sindical no Sindipetro-RJ. Mais de uma vez é membro eleito para o Conselho Deliberativo da Petros. Nos conte sua trajetória de luta e suas experiências na categoria. Quando era da ativa nos anos 70, 80 e 90.

Roberto Ribeiro: Entrei na Petrobrás em março 1974 no SEFIN e nessa época nós costumávamos dizer que os PETROLEIROS VESTIAM A CAMISA DA PETROBRÁS!
Aposentei em agosto de 1997 na FRONAPE.

Quando entrei para Petrobrás, de fato defendíamos a Empresa a Soberania Nacional e Nossos Direitos, tinhamos o prazer de dizer que Sou Petroleiro, não éramos só uma categoria exemplar para as outras, mas sim, UMA FAMÍLIA!

Na Ativa foram 23 anos e 5meses e sempre participei das mobilizações, atrasos, atos convocadas pelos sindicatos, inclusive na greve de 1994 e 1995 (Greve histórica) que durou 32 dias, talvez a que mais houve participação da categoria em nível nacional e que afetou a produção da Empresa e do País.

Nesse ano eu estava trabalhando na FRONAPE, hoje é TRANSPETRO, de janeiro/1993 à agosto/1997 e fizemos 29 dias de greve, eu fazia parte da Comissão de Base da Fronape e também fui Diretor Social do CEPE/CAJU/FRONAPE.

E em alguns anos atrás em negociação de Acordo Coletivo a Petrobrás reconheceu alguns direitos dos aposentados dessa greve e recebemos um cheque por esses dias descontados; mas não recebemos todos os reflexos dos descontos feitos nos nossos salários, perdemos promoções, aumentos por tempo de serviços, por avaliações de méritos e que infelizmente o Movimentos Sindical não luta mais por essas perdas dos aposentados nos Act’s. Estou com 26 anos e 5 meses aposentado com grandes prejuízos no meu “benefício petros”.

Ainda nos anos 70, 80 e 90, enquanto na ativa, tive uma passagem pelo esporte na Petrobrás, dirigindo alguns times de Futebol de Campo e Salão, masculino e feminino nos Jogos Internos da Empresa, “JODISE”, pelo SEFIN, SERMAT, PETROQUISA, INTERBRÁS e pela SELEÇÃO DA PETROBRÁS.

Na Ativa tive o prazer de trabalhar no SEFIN de 1974 a 1977; no SERMAT de 1977 a 1990; na BR-DISTRIBUIDORA de 1990 a 93 e na FRONAPE de 1993 até minha aposentadoria em 1997.

Agora a gente continua na luta. A luta não pode parar. Hoje estou muito mais ligado à questão político-sindical do que o próprio esporte. Porque aí não tive mais tempo pra continuar essa dedicação toda.

Esquerda Diário: Você sempre fala do começo dos ataques aos aposentados da Petrobras. Então você sempre fala do início dos ataques aos aposentados no governo Fernando Henrique. E aí seria interessante ver como você vê esse processo e também como o primeiro governo do PT nos anos 2000 ficou marcado por diversas medidas neoliberais na reforma da Previdência e na Petrobras. Teve a repactuação. Como que você. Qual é a sua visão sobre esse processo?

Roberto Ribeiro: Em 2001 tentaram impor o Plano Petrobras Vida, o PPV que era uma contribuição definida, um CV e já dentro do acordo Coletivo 2003-2004, nós tivemos de novo isso. E aí já estava no nosso governo um trabalhador do PT, o Lula. A grande maioria da direção da FUP era a favor de continuar o plano do Petros BD e contra esta proposta. Mas só que quando o governo PT entrou, já houve uma ruptura dentro do movimento, porque muitos passaram a ser, de uma maneira ou outra, como se chama aí, no linguajar "corrente de transmissão do governo". E esqueceram tudo aquilo lá atrás.

Então, quando você fala de um governo neoliberal, desde Fernando Henrique, que em 97 já acabou com o monopólio estatal de petróleo e através da venda de ações da Petrobras para o estrangeiro, principalmente dos Estados Unidos. E o próprio Fernando Henrique introduziu ali a política da remuneração variável. E que essa política até hoje aí...e voltou agora, nesse último acordo. O governo do PT com o Lula, passou 14 anos utilizando essa política que criticava lá atrás do governo neoliberal, que é a política fraudulenta da remuneração variável e que frauda o salário de vocês da ativa.

A partir de 2006 houve uma imposição da maioria da direção da FUP para apoiar esse ataque. Eu era diretor da FUP, de 2004 a 2006 diretor a partir do grupo chamado de Minoritário. Nós éramos contra essa repactuação.

É aí que entra a questão da maioria dos dirigentes da FUP que em 2006 assumiram isso, da repactuação e levaram para esse 12.º Congresso que 2006 foi aprovado. Bom, aí, companheiro, é que houve de fato a divisão da categoria petroleira. Porque aí acabaram o plano PETROS BD, neste plano não entrou mais ninguém.

Agora voltando a minha atuação, já aposentado, em 1998 ao fazer parte de um grupo de Aposentados e Aposentadas, Associados do Sindipetro-RJ, criamos uma Comissão de Base de Aposentados, com objetivos de lutarmos pelos nossos direitos junto à Direção do Sindicato, nos Congressos da Categoria, na Fup, nos Act’s, na Petrobrás, Petros e do INSS, nos reuníamos mensalmente no sindicato para discutirmos sobre esses assuntos e convidávamos sempre um Diretor da Ativa como também um Advogado do sindicato para esclarecimentos das nossas dúvidas, propostas ou questionamentos. Graças a essa Comissão de Base de Aposentados, que ainda existe até hoje, talvez não tão atuante como deveria, mas que ainda resiste, nos fazemos presentes nas Mobilizações, nas Reuniões e Congressos da Categoria em Defesa dos Nossos Direitos e que posso afirmar que sem essas pessoas no dia a dia do Movimento Sindical, poderia estar pior a nossa situação.

Na Eleição do Sindipetro-RJ em 2002, essa Comissão teve um papel também muito importante, pois estava sendo formada três chapas para concorrer a Direção do Sindicato, mas como já vinhamos sofrendo ataques e perdas nos Acordos Coletivos em função da Política do Governo FHC, através da Remuneração Variável, com Abonos e Bônus para os companheiros da Ativa e nada era repassado aos Aposentados, a não ser a inflação do período, propomos para as duas chapas de oposição à direção da época que se unissem formando uma chapa, que nós os apoiaríamos, mas também exigimos a participação de alguns Aposentados nessa Chapa e assim conseguimos ganhar essa eleição, tendo quatro Aposentados na Direção, à qual eu participei até 2021, sempre defendendo nossos direitos.

Esquerda Diário: Gostaríamos que você desenvolvesse um pouco mais, qual foi o papel da FUP para que a empresa e o governo conseguissem impor esse ataque à categoria que foi a alteração no plano da Petros. Como você avalia que foi o papel da FUP também nos governos? Depois do PT, onde a FUP era oposição aos governos Temer e Bolsonaro e teve um avanço de privatizações. Como foi o papel dela tanto para passar esse tipo de ataques quando ela era governo e depois quando ela era oposição?

Roberto Ribeiro: Desde 2003 nós tivemos já alguns problemas. Chegando aí em 2006, com a repactuação. Isso aí para mim foi um marco, né? E a FUP se ela era, contra dali em diante, ao apoiar as medidas do governo, ela passou a discriminar principalmente parte da categoria e a base de aposentados maior, aquela que foi contra a repactuação, a nossa aqui no Rio de Janeiro. E não só isso, a própria empresa criou uns tais de multiplicadores. Essas pessoas, multiplicadores eram gerentes e ex-gerente, enfim, que receberam dinheiro para sair pelo Brasil afora, levando essa ideia de que todos tinham que repactuar, tinham que repactuar porque era a melhor coisa para o plano Petros, para a Petrobras, etc, etc.

Então eu vou só lembrar que para mim isso aí é questão do governo neoliberal e dos acionistas que queriam se livrar da gente, dos aposentados. Então nós somos um passivo muito grande. É isso, companheiro. A gente não podia aceitar e permitir até hoje que o movimento sindical faça isso, porque pra gente, governo é governo, é sindicato, é sindicato. Então, nós temos que saber separar isso e que a grande maioria dos companheiros não souberam ou não querem separar isso aí, né?

Com a vitória do Lula(PT) na presidência da República em 2003, nós Aposentados e Pensionistas tínhamos a esperança de melhoras nos Act’s, pelo fim da política discriminatórias que já estávamos sofrendo com o governo Neoliberal do FHC, porém, fomos surpreendidos com a continuação dessa política, quando nos Acordos Coletivos em 2004, 2005 e 2006 a Petrobrás deu um Nível para os companheiros da Ativa e não repassou esses valores para os Aposentados e ainda em 2006 congelou a nossa Tabela Salarial em Dez/2006. Também tivemos a Repactuação defendida pela maioria da Direção da Fup no XII CONFUP em 2006, dividindo a Categoria em Repactuados e Não Repactuados e com isso também foi criado o Novo Plano Petros 2 – CV, para os novos petroleiros e infelizmente essa Política da Remuneração Variável que FRAUDA os Salários dos Companheiros da Ativa, pois não é um Ganho Real de Salário, não incorpora na sua Tabela Salarial, eles terão prejuízos quando da sua aposentadoria e ainda discrimina e prejudica financeiramente os Aposentados e Pensionistas. Também tivemos a implantação da RMNR no Act 2007 e o Novo PCAC que não foram extensivos aos Aposentados e Pensionistas, principalmente aos Não Repactuados.

Nós da Comissão de Base dos Aposentados do Sindipetro-RJ, temos uma Tese que sempre apresentamos nos Congressos do RJ e da FNP, um pequeno histórico sobre essa Política discriminatória contra os Aposentados em que citamos alguns Documentos da Petrobrás, com relação ao nosso Plano Petros-BD, a relação do Art. 41, que vincula a Tabela Salarial dos Ativos com os Aposentados, assim como Art. 48 Inciso X (antigo), PPV-CV que tentaram impor em 2001, etc.

Bom, aí você perguntou sobre o governo Temer? Olha, o Temer estava lá como vice presidente da Dilma no governo do PT. Então, assim como no primeiro vice do Lula, todo mundo sabia quem era, já era um empresário e economista conhecido. E agora o atual vice -presidente do Lula, todo mundo sabe quem é. Então, essa mistura é pra se dizer que pra se manter no governo tem que fazer isso, mas ela acaba trazendo problema também para eles e consequentemente traz problemas também pra todo mundo. No governo Temer as privatizações aumentaram em termo de negociação de acordo coletivo não foi nada bom. E piorou mais ainda nos últimos quatro anos. O governo Bolsonaro aí radicalizou demais. As privatizações continuaram vindo aí das nossas refinarias e até da BR Distribuidora. E o plano nosso, da nossa AMS, foi privatizado no primeiro acordo coletivo de 2020 a 2022.

No governo do Bolsonaro(PL), 2018 à 2022, a Categoria Petroleira teve vários prejuízos nos Act’s, como o NPP e principalmente no Act/2020/22, com a Privatização do nosso Plano de Saúde AMS, que passou para APS e tivemos um aumento na parcela do Custeio de 30% x 70% para 40% x 60%, além de estarmos pagando Saldos Devedores onde não temos gestão sobre eles e nunca apresentaram para os Sindicatos e Participantes uma Auditoria desses Saldos.

Olha só, em 2020 o reajuste foi zero, zero para todos. Só quem repactuou, que também ganhou o IPCA cheio. Então, nós tínhamos motivo, ainda mais pensando nas 80 cláusulas do acordo que foram excluídas nesse acordo, algo que diretamente afetava a ativa. Nós tínhamos tudo para fazer uma greve, o Bolsonaro era um governo que fazíamos oposição. No governo do Bolsonaro o movimento sindical não teve, sei lá, peito ou coragem de peitar isso porque estava numa véspera do ano eleitoral. Essa é a minha análise. Não é só a análise do Roberto Ribeiro, não. Vários outros companheiros, como vários tanto ativos e aposentados, fazem essa análise. Então, isso são fatos. Isso são fatos, né? Que é lamentável. E agora nós voltamos, nós voltamos com o governo do PT agora em 2023.

Esquerda Diário: Na categoria Petroleira, os aposentados vieram desempenhando um papel muito importante de mobilizações, porém se escuta muitas reclamações das divisões que existem na categoria entre ativos e aposentados, terceirizados e várias outras. Como você explica essa situação de divisão, e qual papel que você vê que os sindicatos deveriam ter diante dessa situação?

Roberto Ribeiro: Vamo lá, a critica da remuneração variável é a causa dessa divisão da ativa e aposentados, e isso como estávamos comentando começou lá em 94 no Fernando Henrique, e isso veio aumentando porque existia e existem documentos da Petrobrás para própria Petros para induzir esse tipo de negociação, de discriminar na remuneração para ir para cima dos aposentados.

Eu participei como Diretor do Sindipetro-RJ, nas gestões de 2002 a 2005, 2008 a 2011, 2011 a 2014, 2014 a 2017 e de 2017 a 2021; Na direção da FUP de 2004 a 2006.
Na Direção da FNP, desde a sua criação em 2006 como Frente Nacional dos Petroleiros e em 2010 no IV Congresso como Federação Nacional dos Petroleiros até hoje 2024. Fui eleito Suplente ao Conselho Deliberativo da Petros em 2007 à 2011, do Paulo Brandão.

Fui também diretor por dois mandatos na FAAPERJ, último de 2016 à 2020 e também participei como Conselheiro Representante do Sindipetro-RJ e criei e comandei o “Programa Aposentado, Presente!” pela Web radio Petroleira por 11 anos, desde 2009 à 2021.

Quero lembrar que também participei, eu e muitos companheiros, de algumas ocupações em defesa dos nossos direitos em Reuniões da FNP X RH PETROBRÁS nos Acordos Coletivos no: Act/2006 no EDISE por 13 dias no 7º andar, em 22 Novembro a 04/Dezembro2006, também pela suspensão do 8º Leilão de Petróleo, fiquei por 11 (onze) dias. No Act/2009 no EDITA, por 18 dias no 15º andar, de 20 de outubro à 07 de novembro/2009.

Participei junto a outros petroleiros e outros aposentados da ocupação do Congresso Nacional em Brasília em 15 e 16/08/2012 com a COBAP/FAAPERJ, por: a) Por reajuste único para todos Aposentados e Pensionistas; b)Recuperação das nossas perdas salariais, PL-4434/2008 – Sen.Paulo Paim c) Fim do Fator Previdenciário.

Teve também a ocupação dos Aposentados dos Sindipetros da FNP em 2013 no EDISE, por 3 dias no aniversário de 60 anos da Petrobras, em 03/10/2013 e fomos recebidos pela Presidente na época, Maria das Graças Foster a qual entregamos uma Carta do Sindipetro-RJ a nº 205/2013 – GRITO DOS EXCLUIDOS, com críticas à Remuneração Variável, em função dessa carta foi criado um GT Petrobrás e foi aprovado no CA Petrobrás o acordo dos níveis com a Petros, para quem não tinha Ação julgada e também a Petrobrás enviou a Camisa dos 60 anos para os Aposentados.

Toda essas ocupações que eu falei mostram lutas importantes que os aposentados fizeram recentemente e seu papel na categoria.

Esquerda Diário: última pergunta para concluir nossa entrevista. Quais são os desafios atuais da categoria petroleira?

Os Aposentados e Pensionistas lamentam muito sobre esse último Act/2023/25, primeiro Acordo na terceira gestão do nosso governo Lula(PT), pois tínhamos uma expectativa muito grande de que com a sua eleição poderíamos recuperar partes das nossas perdas salariais, principalmente em função do últimos. Os acordos no governo do Bolsonaro, quando em 2019 recebemos 70% do INPC, onde o índice de reajuste já era menor que o IPCA e em 2020 foi Zero de reajuste, para os Não Repactuados, portanto só em perdas desses dois acordos, deveríamos ter 7,26% de reposição, porém, infelizmente mais uma vez fomos discriminados e prejudicados financeiramente com a Política Fraudulenta da Remuneração Variável, só tivemos 4,61% da reposição da inflação, enquanto os companheiros da Ativa tiveram 5,66%, sendo: 4,61% + 1% na RMNR, além de um Abono de no mínimo de 13 mil reais.

Opino que governo é governo, sindicato é sindicato. Temos que lutar por sindicatos independentes do governo e da empresa, essa é uma das batalhas que defendo para hoje e é um dos debates que está acontecendo na categoria, tanto em ativos como aposentados.

Portanto, gostaria de deixar um recado para os Companheiros da Ativa:

“TUDO QUE VOCÊS FIZEREM POR NÓS APOSENTADOS, ESTARÃO FAZENDO POR VOCÊS NO FUTURO”

E Reafirmo: Governo é Governo, Sindicato é Sindicato. Temos que lutar por Sindicatos Independentes de Governos e da Empresa




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