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Duas estratégias na esquerda | Contraste: Boulos reúne com bilionário do PD americano enquanto Myriam Bregman rejeita convite de embaixador

quarta-feira 27 de setembro de 2023 | Edição do dia
Foto: Metrópoles

Na última quarta-feira, 20, Guilherme Boulos (PSOL) se encontrou com o ex-prefeito de Nova York Bill de Blásio, bilionário do Partido Democrata. Ao que parece, o objetivo do encontro foi preparar a campanha de Boulos para a prefeitura de São Paulo no ano que vem. Segundo a Folha, debateram "experiências de gestão" em temas como urbanismo, sustentabilidade, inclusão e combate ao racismo, além de "coletar experiências internacionais para seu programa de governo e mostrar uma faceta mais moderada como política". Em seu Instagram, Boulos ainda comemorou: "Essa semana, nos EUA participarei de atividades e encontros importantes para debater e trocar experiências sobre o futuro das cidades. Um desses encontros será com o ex-prefeito de Nova York @bildeblasio".

Não é de hoje que Boulos vem na intenção de se colocar como um setor mais "mediado" da esquerda, e hoje acaba se subordinando ao imperialismo, no objetivo de ser o candidato favorito (do mercado financeiro!) para a prefeitura de São Paulo. Vale lembrar que ele e sua ala majoritária do PSOL, com Revolução Solidária, Primavera Socialista, além das correntes Resistência, Insurgência e Subverta, escolheram evitar se opor ao nefasto Arcabouço Fiscal de Haddad, Lula e Alckmin, que reedita o Teto de Gastos de Temer. E vale lembrar que, ainda mais profundamente, na federação com a Rede de Marina Silva, decidiram não indicar posição contrária, mas sim "medidas estruturais", que "assegurassem direitos", no objetivo de perfumar um importante ataque aos salários, concursos, saúde e educação, que é o que verdadeiramente significa esse Arcabouço.

Mas quem é Bill de Blásio, com quem Boulos se sujeitava a "debater" o "combate ao racismo"? Bill de Blásio é um bilionário, ex-prefeito de Nova York, do Partido Democrata, que fez demagogia de apoio ao Black Lives Matter, enquanto colocava mais de 1.300 nova-iorquinos à espera de pena de prisão ou multas por violar um toque de recolher que ele próprio impôs. O toque de recolher que ele impôs por seis noites foi usado pelo Departamento de Polícia de Nova York como uma oportunidade para brutalizar os manifestantes e até mesmo os trabalhadores essenciais que estavam isentos do toque de recolher. Antes disso, ele defendeu a polícia depois de dois dos seus carros terem atropelado uma multidão de manifestantes, alegando que “ é inapropriado que os manifestantes cercem uma viatura policial e ameacem os agentes da polícia”. Tudo isso em meio à pandemia do coronavírus, quando explodiram manifestações massivas contra o racismo e exigindo justiça pelo assassinato de George Floyd. No plano de fundo - e que nos salta à vista - é ainda que, num momento em que operários das montadoras estadunidenses estão em plena e grande luta, Boulos ainda prefira se reunir com quem é parte do plano dos algozes contra os direitos desses trabalhadores.

Confira: Greve nos EUA: Para vencer, a greve dos trabalhadores das fábricas automobilísticas deve ser organizada a partir das bases

É com ele que o futuro candidato do PSOL à prefeitura de SP se reúne. Mas aí também podemos apontar que, não somente Boulos se subordina ao imperialismo, como o conjunto do PSOL se submete à conciliação de classes petista que fortalece a direita e a extrema direita. É preciso dizer que PSOL hoje compõe o governo Lula-Alckmin, com Sonia Guajajara no Ministério dos Povos Indígenas, um governo que divide pontos de programa até mesmo com reacionário Javier Milei da Argentina, afinal, se, de um lado, Milei quer privatizar a bacia de gás de xisto de Vaca Muerta, Lula tem a intenção de explorar petróleo na foz do Amazonas, compartilhando um programa extrativista predatório.

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Por outro lado, para um respiro da classe trabalhadora argentina e brasileira, a candidata presidencial argentina pela Frente de Izquierda y de los Trabajadores - Unidad, Myriam Bregman, do PTS (partido-irmão do MRT brasileiro), rejeitou o convite que lhe foi feito por Marc Stanley. O embaixador dos Estados Unidos na Argentina convocou-a para uma reunião “para conversar e aprofundar as nossas relações bilaterais”. Bregman destacou que “não acreditamos que aqueles de nós que somos candidatos presidenciais no nosso país devam debater as nossas propostas com representantes diplomáticos de outros países. (...) Principalmente quando somos uma força política que questiona a interferência econômica e política de seu país no nosso". Além disso, Bregman acrescentou que “somos anti-imperialistas: questionamos a interferência política e econômica que o seu país exerce e exerceu na nossa região, onde teve inúmeras intervenções militares para remover governos que não eram do seu agrado”. Lembrou-lhe que “seu país, além disso, sempre se opôs à nossa reivindicação soberana pelas Ilhas Malvinas, apoiando a Grã-Bretanha durante a guerra de 1982”.

Entre os fundamentos, Bregman respondeu a Stanley que "seu governo é aquele que tem poder definidor em organizações financeiras internacionais como o FMI, com o qual são concedidos empréstimos a países como a Argentina para sustentar o seu domínio ao custo de aprofundar ainda mais a austeridade contra o padrão de vida das maiorias trabalhadoras e populares do meu país. Embora seja público que a dívida contraída ilegal e ilegitimamente pelo governo Macri em 2018 foi feita graças à ação do então governo de Donald Trump para beneficiá-lo politicamente, agora “É o povo argentino quem paga os custos desta ação, devido ao reconhecimento da referida dívida pelo atual governo argentino”. Um grande exemplo de qual é a voz que defende o desenvolvimento da luta de classes contra os nossos inimigos nas eleições argentinas.

Como expressou Diana Assunção, dirigente do MRT, no Twitter:

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E, dentro das nossas próprias fronteiras nacionais, surgem também exemplos: a greve dos estudantes da USP, a paralisação de metroviários na próxima terça (3), junto aos trabalhadores da CPTM e da Sabesp, contra as privatizações de Tarcísio de Freitas (Republicanos). Na subsede de Santo André da Apeoesp os Representantes de Escola também convocam a categoria a se unificar nesta data, enfrentando os impactos do Novo Ensino Médio, que tem o objetivo de implementar o neoliberalismo dentro das salas de aula. Essa luta nos demonstra, que não será reunindo com bilionários imperialistas, confiando no governo ou nas instituições reacionárias do Estado burguês, que vamos conquistar o direito à cidade, combater o racismo e emancipar de fato a população negra, assim como nos livrar de todas as amarras da exploração e das opressões. Pelo contrário, será enfrentando todos os nossos inimigos e confiando nas nossas próprias forças. O contraste entre a diplomacia de Boulos com um político capitalista, do coração do imperialismo, e a postura firme de Myriam Bregman de combate a este mesmo imperialismo frente ao convite do embaixador demonstra na prática duas estratégias na esquerda internacional: a conciliação, que abre espaço à extrema direita, de um lado, e a independência de classe, de outro.

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