×

INTERNACIONALISMO | A situação francesa, exemplo para a esquerda brasileira e para a juventude

A luta teve grande protagonismo da juventude, agora assumido pela classe trabalhadora. O que temos a aprender com este processo.

terça-feira 7 de junho de 2016 | Edição do dia

No dia 04 de junho Juan Chingo publicou nas “páginas” desse diário importante artigo sobre a situação na França, que deve ser meditado por toda a esquerda brasileira.

No artigo Chingo mostra como depois de alguns meses em que a luta contra a reforma trabalhista proposta pelo “socialista” François Hollande era protagonizada pela juventude, agora o protagonismo passa a ser, e de maneira cada vez mais efetiva, da classe operária.

É esse protagonismo operário, proletário, que faz a burguesia francesa ter calafrios e falar num retorno de Trotsky, como mostra o mesmo Chingo em outro artigo também publicado aqui.

Também no Brasil hoje o principal ator na luta de classes pelo lado dos oprimidos é a juventude. Com as ocupações de escolas levadas a frente pelos secundaristas, as greves nas universidades estaduais, os movimentos de mulheres e LGBTs, a juventude tem dado amplas mostras de politização e combatividade.

Não que a classe operária brasileira esteja passiva. Desde a onda de greves em 2014, até o importante movimento grevista nas montadoras ocorrido no ano passado, somando-se ainda o importante, ainda que germinal, movimento de ocupações de fábrica ocorrido no começo desse ano (Mabe, Mardel, Karmann Ghia) os trabalhadores deram também importantes mostras de mobilização e politização.

Contudo, nesse momento ainda a primazia é da juventude. Mas não podemos e não devemos ver essa situação como estática; assim como na França, por aqui também, nesse novo momento de politização a situação pode se modificar rapidamente e esse protagonismo da juventude pode ser substituído e ultrapassado por um protagonismo proletário, aquele que pode chacoalhar efetivamente a dominação burguesa.

A juventude como caixa de ressonância das mobilizações operárias

É lugar comum para os trotskystas que a juventude é caixa de ressonância e antecipadora das mobilizações da classe operária. O que quer dizer isso? Que por conta de sua posição social, por conta de seu momento de “suspensão” em relação as relações de produção, também por conta do conflito de gerações tão próprio da sociedade burguesa, que tende a gerar posições radicais e rebeldes, progressistas e emancipadoras em setores importantes da juventude, essa tende a sentir as contradições sociais de forma antecipada, tende a ser mais sensível a seus primeiros momentos de conflito, tende a poder se colocar de forma mais aguda nos primeiros momentos de luta, tanto porque não carrega o peso das derrotas da velha geração quanto por não estar envolvida diretamente nas relações de trabalho ou como mínimo ainda não ser totalmente independente economicamente, tem menos a perder nas lutas.

A juventude, assim, tende também a ecoar as reivindicações dos operários e demais setores oprimidos, amplificando suas demandas, as tornando mais sonoras e ressonantes.

A centralidade da classe operária

Contudo, apesar dos profundos exemplos que pode dar a juventude, da importância de sua mobilização, a centralidade na transformação das relações sociais pertence ao proletariado.

E não por nenhum fetiche, mas pela posição social que ocupa essa classe, sua capacidade de parar a produção da riqueza e da mais-valia, finalidades centrais das relações capitalistas de produção.

Assim, mesmo reconhecendo a importância da mobilização da juventude não podemos nos deixar enganar e como revolucionários marxistas devemos reconhecer a centralidade do proletariado para a construção de uma alternativa revolucionária.

Uma antecipação para a esquerda brasileira, aprendamos com o exemplo francês

A maioria dos grupos da esquerda brasileira ainda tem sua construção baseada principalmente na juventude. Isso porque dada a maior centralidade da classe operária essa é muito mais protegida pelas trincheiras construídas pela burguesia contra uma possível efetiva organização que vise um enfrentamento mais direto com o capital (burocracias sindicais, partidos reformistas, etc).

Contudo, o exemplo francês mostra que em momentos de politização a classe operária que antes tinha se mostrado relativamente menos ativa pode rapidamente se colocar em cena de forma profunda, chacoalhando as estruturas da antiga sociedade e de suas antigas formas de mediação política.

Em terras brasileiras devemos esperar situações análogas. Aqui também esse primeiro momento de politização da juventude pode ser rapidamente suplantado por uma efetiva e massiva mobilização da classe operária.

Podemos e devemos aproveitar esse primeiro momento de politização da juventude e as posições conquistadas dentro dela para torna-la a força social que nos permita estabelecer um contato mais profundo com o proletariado.

Devemos aprender com o exemplo francês e antecipar essa tendência. Desde já, desde agora, buscar essa ligação, pelo menos inicial, com o proletariado industrial, para quando esse se coloque agudamente em movimento, o que provavelmente acontecerá não num período muito distante, muito pelo contrário, possamos a partir dessas primeiras pontes forjar um efetivo partido revolucionário proletário com influência de massas.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias