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REORGANIZAÇÃO DAS ESCOLAS | “Vamos tomar as escolas, antes que o governo tome elas da gente”

O cartaz feito por uma estudante secundarista com a frase “Vamos tomar as escolas, antes que o governo tome elas da gente” expressa a nova revolta dos jovens frente a politica do governo Alckmin de reorganizar as escolas em ciclos de primeiro a quinto ano, e escolas com ciclos de sexto a nono ano.

Isabel Inês São Paulo

quinta-feira 8 de outubro de 2015 | 00:36

Uma jovem de em torno de 15 ou 16 anos levantava essa frase durante mais um ato contra o fechamento das escolas no estado de São Paulo, “Não feche minha escola”, “Minha escola, minha escolha”, e diversos outros cartazes escritos a mão. Expressam a nova revolta dos jovens frente a politica do governo Alckmin de reorganizar as escolas em ciclos de primeiro a quinto ano, e escolas com ciclos de sexto a nono ano. Essa medida vai mexer com a vida de milhares de jovens, que vão ter suas escolas fechadas e serão remanejados para outras, tendo que se deslocar ainda mais longe para estudar.

Além da vida de milhares de alunos, professores e funcionários, essa mudança longe de reorganizar a educação, tem como objetivo a continuidade dos cortes de gastos com a educação promovidos pelo governo do PSDB, desde a demissão de mais de 20 mil professores eventuais no começo do ano, com essa mudança ainda mais professores temporários terão dificuldades de atribuir aulas, sem contar os trabalhadores terceirizados da limpeza e alimentação que serão cortados frente ao fechamento das escolas.

Contudo essas mudanças regidas pelo governador Alckmin despertaram uma nova força que até então não havia se manifestado. Os jovens dos cartazes, ditos acima, são parte de centenas de jovens que desde a semana passada estão protagonizando atos espontâneos em mais de 40 cidades, contra o fechamento das escolas. Essa força nova, não só na política nacional, mas também em idade, tem em potencial a capacidade de transformar a luta contra o fechamento das escolas, em uma grande batalha em defesa da educação.

É próprio da juventude um certo espírito de insubordinação, que em si já faz com que as suas ações tenham um caráter mais explosivo. Contudo nesse caso se soma ao fato de que esses jovens que hoje estão fazendo atos, e cercando as escolas para que não as fechem, viveram grande parte das suas vidas já em meio a crise econômica mundial, diferente das gerações anteriores que sentiam ainda a segurança da promessa de um futuro melhor que o dos próprios pais, durante a época de desenvolvimento econômico dos anos dois mil, a nova geração vê seu futuro muito mais incerto por um lado, e por outro é a camada de juventude que viu os levantes de massas, como de junho de 2013.

Esses fatores nos colocam duas reflexões para entender esse novo fenômeno surgido há uma semana, se por um lado objetivo a inflação, alta do dólar e o desemprego fazem da crise um fator concreto no dia a dia dos jovens, ligado aos cortes na educação, que foram elemento de politização desde o começo do ano, indicam que diferente da geração imediatamente anterior, dos jovens de 20 a 30 anos que viam em projetos como FIES, PROUNI, PRONATEC a possibilidade de formação superior, os atuais cortes vem invertendo a seta de possibilidade de acesso ao ensino superior, para a impossibilidade de formação. Em si a crise econômica, somada a crise nas escolas já antecipa para a vida dos jovens, de que a possibilidade de atingirem o ensino superior e terem empregos garantidos é cada vez mais distante.

A “falta de futuro” dentro do capitalismo cria tanto a revolta, como a busca por novas idéias para lutar pelos próprios direitos. Junho nesse sentido foi um fator determinante, enquanto a geração que nasceu na década de 80 e 90, regados ao som de Nirvana e Pear Jean, tinham que destilar seu espírito de revolta, em revolta para si mesmo, uma vez que a ideologia da época era o resultado da derrota das lutas operarias, que se desenvolveram em contra partida na negação da classe trabalhadora, da história e assim da esperança no futuro, obrigados a procurar uma saída em meio ao individualismo do neo liberalismo. A crise de 2008 abriu novos processos de massas, desde as greves na Europa a primavera árabe, que mostraram que é possível enfrentar os “grande e poderosos” que estão no governo, no Brasil Junho de 2013 foi um ponto culminante para girar a consciência de milhões de jovens, mostrando que os “velhos novos” atos de manifestações, greves, e lutas não só podem trazer vitórias objetivas na vida, como subjetivas na possibilidade de conquistar um futuro a partir de processos da luta.

Destempo entre o movimento estudantil Universitário e a explosão secundarista

O movimento estudantil universitário vive em uma relativa passividade contraditória, enquanto a politização sobre os temas nacional se aprofunda, assim como uma nova sensibilidade pró trabalhadores, por outro essa força não se transforma em força material de mobilização, isso muito porque por um lado aqueles que conseguiram entrar na universidade e vem “do lado de fora” a crise econômica e o desemprego, acabam dominados por um sentimento de “conservar o conquistado”, principalmente nas universidades de excelência onde os cortes ainda não afetaram em cheio a vida dos estudantes.

Nas universidades federais, onde os cortes já são vistos e aprofundam uma já existente precarização, e também nas universidades particulares com a crise do FIES, o principal fator é a falta de direções nas entidades estudantis que liguem as lutas em cursos em ambos os casos falta direções que de exemplos de como emergir grandes batalhas por educação que sejam um fator político para disputar os estudantes.

Nesse sentido o peso das direções governistas, ligadas a UNE, é fundamental para impedir que as lutas por educação ganhassem um peso unificado, e a esquerda tanto oposição da UNE (composta pelo PSOL) como a direção da ANEL (PSTU), ao contrario de denunciarem essa mediação governista no movimento estudantil, acabam por se adaptarem e manterem o rotineirismo de lutas sindicais separadas, que não conseguem ganhar peso político nacional.

Já o movimento secundarista, não só tem muito pouco, ou quase nada a perder, mas também a falta de entidades - a grande maioria das escolas não tem grêmios estudantis, ou tem grêmios fantasmas – gera uma situação contraditória, tanto dificulta a organização dos estudantes em um processo de luta, que organizem suas pautas e ações, mas também diminui a influencia direta das direções governista e de contenção, tornando assim mais explosiva e menos previsível quando os jovens saem em luta.

Contudo para que essa força consiga rumar em derrotar o governo do PSDB é preciso que esteja organizada e concentrada, com demandas claras, assim os atos que estamos vendo todos os dias de forma espontânea devem ser unificados, mostrando uma força única de centena de milhares de estudantes que não vão aceitar suas escolas serem fechadas. A unificação dos atos deve ser um primeiro passo para que essa luta ganhe contornos políticos e se organize em assembleias de escola para que avance em um grande questionamento do projeto de educação dos governos, defendendo não só as escolas, mas o direito ao estudo fundamental e superior para todos e em defesa do emprego e pautas dos professores, que esse ano também protagonizaram uma dura greve. Isso para fazer emergir uma força que dialogando com toda a população possa dar exemplo da luta contra os cortes e os ajustes orquestrados por Dilma e pelo PSDB.




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