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EUA | Roteiristas em Hollywood entram em greve contra a precariedade da Netflix e outras plataformas

É a primeira greve massiva do setor em 15 anos. Escritores e roteiristas tentaram chegar a um acordo com os principais estúdios e plataformas de streaming para frear a crescente precarização das condições de trabalho no setor. Eles não tiveram sucesso e a greve estourou na terça.

quinta-feira 4 de maio de 2023 | Edição do dia

Os sindicatos Writers Guild of America (WGA) e a Alliance of Motion Picture and Television Producers (AMPTP) não conseguiram chegar a um acordo após vários dias de negociações, então iniciaram uma greve histórica que pode paralisar a indústria.

"Embora nosso Comitê de negociação tenha iniciado este processo com a intenção de chegar a um acordo justo, as respostas dos estúdios têm sido totalmente insuficientes dado a crise existencial dos roteiristas." publicou a WGA na sua conta do Twitter depois do anúncio. "Os piquetes começam nesta terça-feira", garantiram.

O WGA está exigindo cerca de 600 milhões de dólares em aumentos salariais e outros benefícios, como os chamados "resíduos", que são a compensação que um membro da equipe recebe cada vez que seu produto é veiculado novamente na televisão e que, segundo o sindicato, foi reduzido pelas plataformas de streaming.
A última greve de roteiristas pela qual o setor passou ocorreu em 2007 e durou mais de um mês.
A decisão foi tomada após seis semanas de negociações entre a WGA e a AMPTP, que inclui grandes estúdios como Netflix, Disney, Apple, Amazon, Paramount, NBC, Warner Bros. Discovery e Sony.

Precarização

A preocupação dos roteiristas responde às mudanças que a indústria vem experimentando na produção desde a chegada das plataformas de streaming.

Embora tenha havido um aumento nas produções televisivas, as condições são incertas devido à atual redução de episódios das séries, poucas oportunidades para novos talentos e trabalhos não remunerados em projetos ainda não aprovados.

Os trabalhadores dos estúdios e as novas plataformas de streaming viram a precariedade de seu emprego crescer rapidamente na última década. A extensão de plataformas como Amazon, Netflix, Disney, Max ou Paramount veio acompanhada de um forte ajuste nas condições de trabalho onde as empresas ganham milhões, mas o pagamento por cada reprodução aos roteiristas e escritores é insignificante.

No caso dos roteiristas de Hollywood, o conflito vem de longa data e aos salários já deprimidos da última década e meia, que chegaram a uma perda de 23%, somam-se os ritmos de trabalho e a precariedade das plataformas. É por isso que os membros do sindicato WGA votaram para autorizar a greve se as negociações com a Alliance of Film and Television Producers (que agrupa as empresas) não terminassem em um novo contrato de três anos. O contrato atual expirou pouco antes da meia-noite de 1º de maio.

O WGA exige, entre outras coisas, um aumento do salário mínimo, mais pagamentos para reprodução em streaming, bem como maiores contribuições para seus planos de saúde e previdência.

Chris Keyser, o negociador do sindicato Writers Guild of America (WGA), apontou que para os escritores a profissão se tornou um trabalho de plataforma e completamente precário. 25% dos trabalhadores do horário nobre ganham menos do que está listado no contrato, e o mesmo vale para 49% de todos os trabalhadores filiados ao WGA.

Por outro lado, o pagamento por cada reprodução ou repetição é insignificante. "Estive em reuniões nas últimas semanas em que os roteiristas disseram que, enquanto escrevem os programas de TV que todo mundo assiste, eles precisam de um segundo emprego para pagar as contas", disse Keyser.

Segundo o WGA, o salário médio dos roteiristas "não muda desde 2018 e, considerando a inflação, o salário diminuiu 14% nos últimos cinco anos" e 23% na última década.

A inteligência artificial (IA) é outro tema na mesa de negociações.

A WGA quer salvaguardas para impedir que os estúdios usem IA para gerar novos scripts a partir do trabalho anterior dos roteiristas. Os escritores também querem ter certeza de que não serão solicitados a reescrever rascunhos de scripts criados por IA.

Apesar dessas reclamações, o sindicato não conseguiu no passado vencer todas as demandas de seus membros. Mesmo na luta mais importante, a de 2007/2008 que durou 100 dias, o sindicato acabou negociando um contrato que deixou muitas áreas sem acordo e é o que permitiu que os trabalhadores se encontrassem nas atuais condições precárias 15 anos depois.

Efeito imediato na indústria

A greve atual afetará quase imediatamente programas de TV diários e talk shows como "Jimmy Kimmel Live", que emprega equipes de redação para escrever piadas atuais para programas gravados no dia em que vão ao ar. Espera-se que esses programas comecem a exibir reprises imediatamente.

O apresentador do "The Late Show", Stephen Colbert, em um episódio gravado poucas horas antes da convocação da greve, mostrou imagens de sua equipe de roteiristas na tela em um gesto de apoio.

"Eles são muito importantes para o nosso programa", disse Colbert, que também é membro do WGA. "Acho que as exigências dos roteiristas são razoáveis", disse ele.

Além disso, as estreias de séries e filmes poderiam sofrer atrasos significativos e, gradativamente, a produção geral de produtos audiovisuais no país pararia. Um forte impacto econômico também é esperado em centros de produção, como as cidades de Los Angeles, Nova York e Atlanta.

A luta dos roteiristas é muito importante, pois seu contrato pode ser tomado como base para a negociação dos demais grandes sindicatos do entretenimento. Trata-se do Directors Guild of America (DGA) e do Screen Actors Guild-American Federation of Television and Radio Artists (SAG-AFTRA), cujos contratos terminam a 30 de junho e reúnem cerca de 300 mil trabalhadores.




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