Para não desagradar a grande mídia e a Faria Lima que estão ansiosas pelas privatizações? Pois greves desestabilizam governos? Lutas unificadas e radicais incomodam o PT? Para manter uma boa onda com o Republicanos, partido de Tarcísio e que é parte do governo Lula?
terça-feira 3 de outubro | Edição do dia

Abrimos essa discussão em meio ao calor das fortes greves do Metrô, Sabesp e CPTM que hoje tomaram o estado de São Paulo e se enfrentaram com o reacionário governo Tarcísio, junto aos estudantes e trabalhadores da USP, que também foram acompanhados de greve na Embraer, de terceirizados do aeroporto de Guarulhos e trabalhadores de canteiros de obras.
Se alguém entrar no site do PT ao longo desse dia 3 de outubro, verá que o partido não escreveu sequer uma nota em apoio à greve. Tampouco as páginas do PT nacional nas redes sociais. As grandes figuras políticas e dirigentes partidários, como Gleisi, Haddad, Luiz Marinho, os ministros e políticos mais conhecidos ou até o próprio Lula, se mantiveram em silêncio absoluto sobre a greve. O grande aparato partidário, de conjunto, não está apoiando a greve contra as privatizações de Tarcísio. O dia de hoje foi uma continuidade da postura do PT em relação à greve dos estudantes da USP que segue há mais de uma semana.
No discurso, o PT chama o combate à extrema direita. Na prática, quando há luta de trabalhadores contra um governo reacionário como o de Tarcísio, que se choca com uma pauta neoliberal, o PT se silencia e não demonstra apoio. Essa fotografia escancara uma demagogia que tem por trás as alianças com partidos com peso bolsonarista, como o Republicanos de Tarcísio e Mourão, que hoje possui ministério no governo Lula, ou o PP de Arthur Lira. Lembramos que o PT votou junto do Republicanos de Tarcísio em propostas liberais, como a reforma tributária e outras. Ao invés de combater as medidas draconianas da extrema direita em um estado central como SP, o petismo opta por se aliar e ceder ministérios ao reacionarismo.
A própria pauta de privatizações é vespeiro para Lula e o PT. Apesar de, no discurso, se colocarem contra privatizações, na prática o ministério de Haddad avança em várias medidas neoliberais, ao sabor das agências de classificação de riscos norte-americanas e da Faria Lima. O arcabouço fiscal e o pacotaço de PPPs de Haddad estão aí para comprovar.
Mas mesmo nos casos de privatizações, o governo Lula patina na direção da B3, não da defesa do patrimônio público: não revogou a privatização da Eletrobrás, mantém empresas públicas no PND, Plano Nacional de Desestatização, como os metrôs de Porto Alegre e do Recife, anunciou hoje mesmo investimento com PPP na linha verde do Metrô de SP e na ligação da capital com Campinas via PAC. Ou seja, o governo Lula e o PT também avançam em medidas neoliberais.
Ao invés de apoiar qualquer greve ou luta, o PT está atuando pela desmobilização. Na USP, enquanto avança a precarização da educação imposta por Tarcísio, através de professores e webpetistas o que o PT está fazendo é dizer que a greve estudantil em curso seria o “ovo da serpente”. Chegam ao cúmulo do absurdo de comparar a greve dos estudantes com manifestações “bolsonaristas”.
Enquanto isso, Guilherme Boulos, que hoje conta com apoio do PT para a prefeitura de São Paulo em 2024, soltou um discreto tweet dizendo que a responsabilidade da greve é de Tarcísio, mas nenhuma medida em apoio efetivo. Boulos quer construir uma imagem “responsável”, que não se mistura com grevistas e não pretende oferecer perigo aos interesses dos grandes empresários da cidade. Até o imperialista Biden vai a um piquete fazer demagogia, mas Boulos nem pensa nisso e segue sua campanha eleitoral normalmente, seguindo o mesmo caminho do PT.
O caminho para combater a extrema direita, os ataques e o neoliberalismo é o que as três categorias em greve hoje apontaram: o caminho da luta unificada, em aliança com a maioria da população e decididos em defesa de seus direitos. Esse é o caminho oposto do proposto pela Frente Ampla de Lula, e cuja política semelhante vem sendo costurada em São Paulo sob a figura de Boulos. A aliança necessária para defender nossos direitos em meio à crise é a da classe trabalhadora com o povo pobre, as mulheres, negros, LGBTs, não com o centrão, partidos bolsonaristas, cúpula dos militares e grandes empresários.
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