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TEATRO | Grupo "4 na rua é 8" apresenta "Má pele"

quinta-feira 28 de maio de 2015 | 00:01

Foto: Carol Lacerda

Larissa Vescovi

Foto: Larissa Vescovi

O esquerda diário entrevistou o grupo “4 na rua é 8” sobre o projeto “Má pele”, a trajetória da equipe e as próximas apresentações. Segundo o grupo “Trazer a história do Preventório é lançar um olhar do passado aos dias de hoje, para ações violentas que o governo ainda pratica: como a alienação parental e a segregação”. Os Preventórios fizeram parte da política segregacionista do governo de Getúlio Vargas nos anos 1930 e determinavam a internação obrigatória de pessoas diagnosticadas com hanseníase, submetendo os internos à métodos disciplinares violentos.

Esquerda diário: Quando surgiu o grupo "4 na rua é 8" e com quais objetivos vocês elaboram os espetáculos?

4NARUAÉ8: Primeiramente gostaríamos muito de agradecer o interesse em nossa pesquisa.
O grupo surgiu em 2010 no encontro de alguns artistas para montar o espetáculo AQUI TREM “Historias da Ferrovia” e a partir dessa montagem seguimos montando alguns outros espetáculos com pequenas variações de elenco mas ainda com uma característica principal, de teatro narrativo/popular. Os objetivos nas montagens são bem variados, mas em linhas gerais podemos dizer que o objetivo do 4NARUAÉ8 é ampliar questionamentos relevantes à sociedade que estamos inseridos através dos espetáculos e se possível desbrutalizar o mundo.(risos)

ED: Como foi a montagem da peça "Má pele" e porque resgatar a historia dos preventórios de Jacareí nos anos 1930?

4NARUAÉ8: Nos deparamos com a história do Preventório em 2013, durante a montagem do espetáculo “De quem é a rua, então” onde colhíamos historias sobre as ruas de Jacareí-SP. Nos interessou prontamente muito pela questão da segregação da época por um regime totalitário em que esse tipo de instituição nasceu e justamente por reconhecer que esse tipo de prática ainda existe, seja por doenças, seja por questões sociais, mesmo já se passando 83 anos da criação dos Preventórios.

Para a criação do espetáculo Má Pele recorremos a fontes de arquivo público, teses a respeito dessas instituições e depoimentos de pessoas que viveram no Preventório Jacareí. A partir desse material levantado, partimos para a construção cênica tendo em vista 3 camadas principais, sendo: depoimental, ficcional e autobiográfica.
Contamos com a direção do espetáculo de Edgar Castro - Cia. Livre, direção musical Marcio de Oliveira, figurinos de Samanta Olm, preparação corporal Melany Kern, iluminação Feu de Andrade e design gráfico Pedro Guima.

ED: No espetáculo, a trajetória de quatro crianças são apresentadas ao publico. Existe algum paralelo com a atual situação das crianças de hoje? Ou então, a lógica da segregação instaurada pelos preventórios naquele período possui algum tipo de reverberação ainda hoje?

4NARUAÉ8: Como dissemos acima, consideramos que sim. Há ecos dessa prática segregatória do passado nos dias de hoje. O Preventório Jacareí passa em 1964 a ser uma unidade da “Fundação do Bem Estar do Menor”, obviamente não sem motivos, a arquitetura do prédio é criada para fins de segregar da sociedade aqueles que não são “queridos” por ela. Hoje aquele prédio não tem mais a mesma função, mas temos ainda espalhadas por todo Brasil “Fundação Casa” que segrega menores.
Trazer a história do Preventório é lançar um olhar do passado aos dias de hoje, para ações violentas que o governo ainda pratica: como a alienação parental e a segregação.

ED: Dada a situação de crise econômica e politica que vivemos, como vocês veem a situação dos cortes na cultura? Tem afetado o trabalho de vocês?

4NARUAÉ8: Certamente afeta. O Estado ainda não enxerga que investir em cultura é investir no ser humano, apesar de dizer que “O Estado não enxerga” enxergamos nessa atitude, de não valorizar/investir, um posicionamento claro de que um povo com acesso e produtor de cultura e arte é um povo interessado na sociedade e seus problemas, tanto que vemos que alguns dos investimentos são voltados a reproduzir o que a mídia faz e isso é absolutamente triste.

ED: Como o grupo "4 na rua é 8" lida com as leis de incentivo a cultura, os projetos de fomento e os incentivos fiscais em geral?

4NARUAÉ8: Todos os nossos espetáculos foram produzidos através da LIC - Lei de Incentivo à Cultura de Jacareí - SP, alguns dos integrantes do 4NARUAÉ8 são conselheiros do Conselho Municipal de Cultura da cidade e participam ativamente, acompanhamos principalmente essa lei municipal. Mas pleiteamos outros editais como o Proac, editais da Funarte entre outros.
Entendemos que ainda é pouco o investimento nesses editais. Participamos e acompanhamos discussões com outros grupos em relação a esses incentivos.

ED: Pensando na atuação do grupo como parte da sociedade que vivemos, o que vocês pensam sobre o papel dos artistas na conjuntura política atual?

4NARUAÉ8: Deixamos claro em nossas produções e ações nosso posicionamento politico, entendemos que é importante tomar partido e principalmente demonstrá-lo. O teatro para nós tem uma função social que é a de questionar o status quo, desnaturalizar o que é nos dado como natural, trazendo à tona questões que são inconvenientes à aqueles que querem que a sociedade continue como está.

ED: Como vocês estão planejando as próximas apresentações? Onde e quando serão realizadas?

4NARUAÉ8: Estamos apresentando nossos projetos em diversos lugares, editais e festivais. As próximas apresentações do espetáculo “Má Pele” serão:

Dias 29 e 30 de Maio às 20:00hrs. No MAV - Museu de Antropologia do Vale - Jacareí – SP.
Dias 06 e 07 de Junho na CASA LIVRE - Rua Pirineus, 107 - Barra Funda - São Paulo - SP.

*Contato do grupo: e-mail: [email protected] - facebook.com/4naruae8


Temas

Cultura



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