×
sexta-feira 4 de setembro de 2015 | 23:55

Eu conheci uma mulher incrível, forte, resistente, inteligente e maravilhosa, por inteira. Temos a história de amor ainda mais linda, nos conhecemos em condições totalmente desfavoráveis, mas batalhamos pelo que sentíamos uma pela outra, fomos pacientes e mantemos um amor sem tamanho mesmo com todas as dificuldade que a vida nos apresentou. Quando finalmente tivemos a oportunidade de ficar juntas, próximas, tomamos esse momento e fizemos o melhor que pudemos. Passamos por toda a dificuldade de encontrar em apartamento que fosse de preço acessível, mesmo com a perda de um emprego sem justa causa e com nenhuma ajuda, a não ser do apoio de amigas, companheiras sensacionais a quem agradeço diariamente. Era um apartamento lindo, novo, todo mobiliado e com uma localização favorável. Tudo parecia ir bem demais para ser verdade, para ser sincera. Estávamos com a sensação de ter vencido algo, e de fato, vencemos. Vencemos a distância, as opressões DIÁRIAS, a falta de dinheiro, de estrutura, resistimos.

Nesse apartamento pensamos iniciar uma nova vida, tranquilas, juntas, fortes. Éramos 4 mulheres, sendo duas delas irmãs, negras, de origem pobre, oprimidas assim como nós! Os primeiros dias de mudança são caóticos, todos sabemos, passamos por isso. Mas quando eu e minha namorada... nos introduzimos assim, dessa maneira simples e recorrente, como NAMORADAS, algo mudou repentinamente. Nenhuma palavra a mais foi dita, o fato de termos entrado no banheiro juntas foi motivo de aversão. Começamos errado. Já éramos erradas ali, naquele exato momento. Dois dias depois de ter mudado, minha namorada recebeu uma ligação de uma das meninas do apartamento dizendo apenas que “esse estilo de vida não era tolerado aqui”, de maneira agressiva, abusiva e odiosa. Como pode alguém que nunca vimos na vida saber tanto de quem somos em dois dias? Aquela pergunta, que se passa na cabeça de toda mulher e LGBT quando somos violentados, me veio imediatamente a cabeça, afinal, me explica, por favor, alguém!: O QUE FOI QUE EU TE FIZ?! Me falem por favor! O que te incomoda?! E essa resposta veio através da experiência de ter participado do encontro de Mulheres e LGBT organizado pelo Pão e Rosas, quando em lágrimas tremendamente emocionadas, ouvi as palavras de uma companheira trans, nosso erro é EXISTIR! E para além de uma existência, RESISTIMOS! Não abaixamos a cabeça, levamos a luta para a vida de cada dia, que tenta ser tomada de nós em cada esquina em que ouvimos: Arruma um homem! Pelo SIMPLES fato de sermos duas mulheres, de mãos dadas, que se amam, se beijam, trocam carinhos e são FELIZES. O orgulho que temos de sermos nós mesmas, de existir numa sociedade homofóbica, transfóbica e machista, que precisa destruir o amor alheio para se dar por satisfeito com o próprio amor, é algo que incomoda meus companheiros!

Então eu peço por favor a todos vocês que são além dos padrões que nos são impostos, que alguma vez sentiram o sofrimento de ser você perante a vida e essa sociedade que me enoja, levante da cama todos os dias, mas levante-se com orgulho de cada célula do seu corpo e sua mente, vocês são lindos, são meus companheiros de luta, ainda que eu não te conheça, nem tenha o prazer de te conhecer um dia, nós resistimos e persistimos juntos, juntos com aqueles que foram silenciados pela violência LGBTfóbia e pelo machismo, mas gritam mais forte agora nas nossas vozes, vozes como as que tive o imenso orgulho de ouvir nesse encontro do Pão e Rosas, vozes que ecoam nos meus pensamentos cotidianamente e acredito com todo o meu ser sapatônico que elas não serão caladas nunca!




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias