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MÉXICO | Em um país que semeia corpos... Por que legalizar as drogas?

A violência, a descomposição social, a diversificação dos ilícitos impulsionados pelo crime organizado, o feminicídio e as redes de tráfico, as disputas por território e o enfrentamento ou cumplicidade do governo e a polícia ou o exército, não diminuiriam radicalmente legalizando as drogas?

Yara AlmonteEstudante da UNAM

quarta-feira 26 de agosto de 2015 | 09:52

Esta é a primeira de duas parcelas do tema das drogas e há urgência por sua legalização.

Atualmente a Organização das Nações Unidas (ONU), acata em seu "Informe Mundial sobre as Drogas", que o México é o segundo produtor mundial de ópio, heroína e maconha, com 12 mil e 15 mil hectáres cultivados respectivamente e se calcula que a produção de heroína é 30 vezes maior que na Colômbia.

Enquanto o Instituto Nacional de Estatística, Geografia e Informática (INEGI), informa mais de 164 mil assassinados desde 2007, ano em que o ex-presidente Felipe Calderón impulsionou a militarização do país.

Segundo analistas, estas mortes superam por mais de 50 mil a cifra de uma guerra de ocupação, como a dos Estados Unidos no Iraque e Afeganistão.
Por outro lado, as desaparições forçadas são incalculáveis, tema onde os fatos de Ayotzinapa evidenciam o rol criminal das Forças Armadas nestes crimes e a impunidade que acarreta.

E quanto ao desaparecimento forçado, produto da guerra, se calcula que uns 6% dos 22 milhões de migrantes residentes no México, foram obrigados pela situação de violência desatada pelos cartéis do narcotráfico. Segundo a investigadora Rubio Díaz Leal, do (Instituto Tecnológico Autônomo do México) ITAM, as migrações forçadas no México excedem os 281 mil desaparecidos.
Enquanto o acesso às universidades é cada vez mais difícil, a atividade do exército só aumenta, com 212 mil 208 elementos ativos nas forças armadas, o dobro de 1977 até 2000 e novamente os sete anos seguintes, segundo dados do Instituto Nacional de Transparência, Acesso a Informção e Proteção de Dados Pessoais (INAI).
Desse modo, as políticas de "combate" ao narcotráfico influenciam tudo no México: os direitos humanos, a cultura, a educação, a qualidade de vida, as instituições, etc. Ao mesmo tempo envolvem milhões de pesos em recursos, com um incremento de 150% nos salários para militares e policiais nos últimos anos, além de bônus e benefícios.

Nos anos de gestão de Peña Nieto, o gasto público do governo federal para a Secretaria de Defesa Nacional aumentou 10 milhões de pesos e alcançou os 65 milhões em 2014.

Relação do Estado com os cartéis

O fenômeno do narcotráfico implica uma complexa relação com o Estado, que permite sua extensão em todo o país.

Nas últimas décadas, os governos do PRI e PAN aprofundaram a subordinação política, econômica e militar com os Estados Unidos. Sabe-se que existe um duplo benefício ao suposto combate ao narcotráfico, em território mexicano, para a Casa Branca. Maior influência em sua política de saque com as reformas a favor do capital transnacional, como com a reforma energética.

O analista Pablo Oprinari explica como, com o passar dos anos, o narco tem se tornado parte sólida da economia local. Cooperação entre altos comandos militares e políticos do México e Estados Unidos, com o tráfico de drogas e armas, participação de bancos financeiros que permitem "branquear" quantidades milionárias, injetando-as na economia formal.

Existe uma real associação estrurural entre o Estado e os cartéis, na qual o narco e seus patrões são verdadeiros sócios dos empresários legais, que copia o sistema capitalista de produção em forma degradada e ilegal. Existe mais-valia, apropriação do trabalho campesino, seja por coerção dos cartéis ou pelo abandono e crise que enfrenta o campo.

As drogas são parte de um "intercâmbio" de mercadoria, onde a ilegalidade é parte da causa de seus exorbitantes lucros e injeta enormes quantidades de capital ao fluxo finaceiro, que se converte em parte da economia mexicana.

Estes são só alguns dos argumentos que explicam a urgência da legalização deste negócio onde os maiores afetados são a classe trabalhadora e, analisando estas causas, a resposta está em uma necessidade que vai além de uma questão moral ou de saúde, mas que tem implicações mais profundas do Estado.

Tradução: Raíssa Campachi




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