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REINO UNIDO | Começa a corrida eleitoral no Reino Unido

terça-feira 31 de março de 2015 | 00:12

Hoje, a 38 dias das eleições gerais de 2015, começa oficialmente a campanha eleitoral, em uma conjuntura que divulga empate virtual entre os partidos Conservador e Trabalhista. David Cameron entrevistou a Rainha da Inglaterra para anunciar a dissolução do parlamento e marcar assim o fim do governo de coalisão. Os partidos minoritários podem definir a agenda eleitoral.

Não existem sinais claros de quem será o próximo primeiro ministro, David Cameron ou Ed Miliband, potencializando assim a briga por votos dos indecisos nas regiões marginais. Isto se deve¸ já que no sistema eleitoral britânico, de “maioria simples”, o vencedor de uma das 650 regionais nas quais está dividido o país ocupa uma banca no parlamento, que conta por cada regional. A partir daí, no sistema britânico, o líder do partido que obtiver a maior quantidade de deputados é nomeado primeiro ministro.

Sem um claro vencedor fica em aberta a possibilidade de um hung parliament [parlamento pendurado], ou seja, nenhum partido político sozinho ou com alianças, tem maioria absoluta nas bancas. Daí surge uma disputada de campanha para ganhar votos indecisos nos distritos marginais. Os candidatos devem convencer o eleitorado local de que não representariam apenas os interesses de seus próprios partidos senão também os de seu eleitorado independentemente de sua lealdade partidária. Uma difícil tarefa de persuasão ao se levar em consideração que os partidos políticos se regem por uma férrea disciplina interna que lhes exige acatar a linha partidária em temas cruciais.

Uma sondagem realizada por YouGov reconhece 36% de apoio ao trabalhismo – comodamente a frente em comparação com os 32% dos tories. Ainda assim, varias fontes estimam que é pouco provável que o Partido Trabalhista obtenha mais de 300 votos. Ainda no caso de que Miliband consiga o apoio do líder do Partido Liberal Democrata e de alguns deputados da Irlanda do Norte, não chegaria às 326 cadeiras necessárias para obter a maioria, ficando submetido ao Partido Nacional Escocês. Além disso, para ganhar 300 cadeiras, o Trabalhismo necessita arrancar 60 cadeiras dos tories – numero similar às regionais arrancadas pelos tories dos trabalhistas nos últimos cinco anos.

A necessidade do trabalhismo de recuperar os votantes que transitaram para o Partido Nacional Escocês (SNP) parece haver se convertido em um esforço épico e cada vez mais destinado ao fracasso. Como indicam os resultados do British Election Study [Estudo das Eleições Britânicas, n.t.], os votantes que passaram ao SNP voltarão a votar na opção nacionalista. Na Escócia, o SNP conta com 44% de apoio, enquanto que o Trabalhismo com apenas 27%. Um grande giro em comparação com os 42% de votos obtidos pelo trabalhismo na Escócia em 2010, o que representou 41 cadeiras na Casa dos Comuns. Segundo a sondagem de YouGov, o trabalhismo poderia cair na Escócia de 41 a 10, enquanto o SNP poderia crescer de 6 a 47.

Por outro lado, Cameron precisa aumentar seus votos gerais se quiser seguir sendo primeiro ministro. Em 2010 pode formar governo em aliança com o Partido Liberal Democrata e conta a seu favor que suas políticas econômicas sejam apreendidas de maneira positiva por uma parte do eleitorado que culpa o trabalhismo de esbanjar no estado de bem estar social.

É fato que o impactante dado de que 13 milhões de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza, seja por terem perdido seus trabalhos, ou por baixos salários, põem em cena a política econômica do governo de coalisão. Segundo o The Trussel Trust, uma organização de caridade que gere a maior rede de bancos de comida no Reino Unido, entre abril de 2013 e março de 2014, cerca de 913.138 pessoas dependeram de cestas básicas gratuitas para poderem se alimentar – desses 330.205 são crianças. Este número representa um drástico aumento em comparação com as 128.697 pessoas no período de abril de 2011 a março de 2012. Na atualidade existem 620 bancos de comidas em todo o país, é previsível que a tendência siga aumentando ao se considerar que no orçamento para 2015-16 anunciado em 18 de março o governo implementará novos cortes de 12 bilhões de libras.

Com um resultado incerto como pano de fundo, os partidos minoritários influenciam na decisão. Os resultados do Partido Verde, Nacional Escocês e UKIP [Partido Independente do Reino Unido, N.T.] podem fazer oscilar a balança eleitoral. O SNP em particular considerou cultivar, durante o referendo, os votantes descontentes com os partidos tradicionais e a concentração de poder em Westminster. Esta formação viu duplicar suas fileiras logo após a derrota do Sim no referendo e com 92.000 afiliados é o terceiro partido em quantidade de militantes após o trabalhismo e o partido conservador. O Partido Verde também melhorou sua performance. Segundo uma nota do The Guardian de janeiro de 2015, os verdes cresceram num ritmo de 2.000 afiliados novos por dia depois de sua exclusão no debate de líderes políticos. Torna-se assim, com 44.713 membros, o quarto maior partido do Reino Unido. Para a antieuropeista UKIP, que aumentou sua visibilidade nas eleições locais, seu cavalo de batalha é colocar cercas na imigração e propõe um sistema de cotas similar ao que existe na Austrália.

Da esquerda existem duas propostas eleitorais: de um lado a coalisão TUSC (em inglês, Trade Unionist & Socialist Coalition [União Sindicalista & Coalisão Socialista, N.T.]) conformada pelo Socialist Party [Partido Socialista, N.T.] e o SWP junto a independentes, que apresenta candidatos com uma agenda contra os cortes e privatizações. Do outro lado, a aliança Left Unity [Unidade Esquerda, N.T.], composta pelos Socialist Resistance (Secretariado Unificado) e vários partidos de esquerda e independentes, lançará seu programa eleitoral amanhã (quarta-feira) em uma casa ocupada e contará com a presença do direitor de cinema Ken Loach.

Infografia:
A sondagem de YouGov deu ao partido de Ed Miliband quatro pontos à frente dos conservadores.

britain Elects @britainelects
nada
Latest YouGov poll (27 Mar):
LAB - 36% (+2)
CON - 32% (-4)
UKIP - 13% (-)
LDEM - 8% (+1)
GRN - 6% (+1)

Estatísticas do The Trussell Trust em http://www.trusselltrust.org/stats


Foto: Morguefile.com




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