quinta-feira 7 de janeiro de 2016 | 00:00
Em canal do Youtube, Preta Aline Custódio aborda temas desde maquiagem para peles negras até feminismo falados pelo ponto de vista da responsável pelo canal, formada em psicologia, que há cerca de 1 ano e meio mora nos Estados Unidos. Nos comentários do vídeo foram deixados pelo usuário identificado como Andrei Kotov comentários de que ela deveria “voltar para a África”, “que seu lugar não é em meio a gente civilizada” e que “Os teus irmãos de pelo escuro e que comem grama estão lá na África”.
O racismo, assim como os demais tipos de discriminação como a xenofobia, costuma se aprofundar nos momentos de crise econômica, sendo uma das maneiras que o capitalismo tem de colocar os trabalhadores competindo uns contra outros, com o crescimento das taxas de desemprego, enquanto as empresas mantêm suas margens de lucro inalteradas. Apesar de ser uma ação condenável de pessoa que o comete, o racismo não deve ser analisado por fora do contexto social que o cerca: vivemos em uma sociedade com valores racistas. Para podermos lutar de verdade contra o racismo, devemos destruir a estrutura que ele sustenta, que é o capitalismo. Apenas assim poderemos nos colocar livres deste e dos demais preconceitos que oprimem mulheres e homens no mundo todo.
O Esquerda Diário se solidariza com qualquer negra ou negro que sofra racismo em qualquer lugar do mundo e nos solidarizamos com o caso de Aline. Abaixo segue carta de resposta de Aline Custódio sobre o caso:
“Racistas não passarão
Boa tarde,
Tenho um canal no Yotube no qual abordo diversos assuntos, inclusive sobre beleza negra, pois acredito que a valorização e auto estima contribua para o fortalecimento e empoderamento de muitas mulheres negras no sentido de fortalecimento de sua identidade.
Hoje recebi meu primeiro comentário racista, era um vídeo no qual eu compartilhei minha experiência em vistos americanos negados, um rapaz disse que eu deveria ter ido para África, pois não me negariam, pois lá eu iria encontrar meus irmãos de pelo que comem grama.
Ah, mal sabe ele das riquezas culturais e naturais deste continente lindo. Como graduada em Psicologia, fiquei refletindo o que leva uma pessoa perder alguns segundos do seu tempo para atacar o outro de forma gratuita, seria uma busca em atenção? Alguma desordem que para suprir suas necessidades é preciso ofender o outro?
Acredito que ninguém nasce racista/preconceituoso, creio que estes são comportamentos aprendidos através do meio social, cultural e do contexto que a pessoa vive, por isso acredito que quanto mais pudermos educar e esclarecer nossas crianças, melhor será o futuro. Muitas vezes dentro de nosso lar, pequenos comentários, atitudes e frases que muitos julgam "brincadeira" contribuem para a formação de uma personalidade preconceituosa. Frases do tipo: " Coisas de preto", "Amanhã é dia de branco ", "você precisa embranquecer a família ", "cabelo ruim", etc. Imagine uma criança crescer em um ambiente ouvindo estas falas, como será a auto estima dela? Fora as poucas referencias que temos, quantas princesas da Disney são negras para as crianças se identificarem? (Apenas 1 se não me engano), quantos negros em posição de destaque vemos na mídia televisiva? Como descontruir? Através da educação e não se calar diante destes atos.
Sei que não sou a única, não sou Maju, não sou Tais Araújo, isso corre DIARIAMENTE, constantemente, este foi o primeiro de vários ataques que sofrerei, tanto em rede social quanto na vida. O negro em ascensão incomoda, e quero e vou estudar cada vez mais para incomodar e muito, racistas não passarão.
Os comentários do vídeo não vou apagar, pois quero que todos vejam, pois infelizmente há quem diga que racismo não existe, destas pessoas sinto a mais pura pena, pois gente assim, dificilmente será descontruída. O importante é não se calar jamais! ”
Veja o Vídeo com os comentários
