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32 ANOS DA MORTE DE C.L.R. JAMES | C.L.R. James: o legado da questão negra e do marxismo há 32 anos de sua morte

Hoje completam 32 anos da morte de C.L.R. James que foi um marxista negro fundador da IV Internacional, militou no trotskismo durante anos de sua vida, lutou contra a burocratização stalinista e deu um combate de morte contra o racismo e o capitalismo. Esse é um texto sobre sua contribuição política e teórica ao marxismo e às gerações de militantes que se inspiram em sua trajetória.

Renato ShakurEstudante de ciências sociais da UFPE e doutorando em história da UFF

segunda-feira 31 de maio de 2021 | Edição do dia

Cyrill Leonel Robert James nasceu em Trinidad e Tobago em 1901, seus tataravós foram escravizados, seu tataravô comprou sua tataravó de um senhor, para que pudessem ter a liberdade e assim pudessem se casar (1). Era filho de Robert Alexander James, professor e Ida Elizabeth “Bessie” Rudder, dona de casa.

Apaixonado por cricket desde a infância conseguiu um emprego de jornalista esportivo em Londres assim que saiu de sua cidade natal para a capital britânica em 1932. Durante esse período escreveu diversos artigos e publicou livros sobre cricket, um romance, política nas índias Ocidentais, entre outros temas. Até que então encontrou o marxismo revolucionário, e como ele próprio afirmou, um dos livros que o fez se tornar marxista foi A História da Revolução Russa de Leon Trotski.

Sua relação com o trotskismo começou na Inglaterra, onde ingressou no Internacional Labor Party (ILP) e na fração “Marxist Group” que surgiu em 1932 e rompeu com ILP em 1936. Nesse período editou um jornal de tempo curto chamado Fight.

Em 1935, James, George Padmore, Jomo Kenyatta e Amy Ashwood Garvey criaram o International African Friends of Ethiopia (IAFE), interessados em combater o fascimo e o imperialismo na África. O IAFE foi dissolvido em 1937 e James cria junto com Padmore o Internacional African Service Bureau (IASB) e edita o jornal dessa organização, o Internacional African Opinion (IAO) por um curto tempo até 1938 (2).

Nesse mesmo ano ele escreveu uma de suas principais obras, Os jacobinos negros, uma grande contribuição sobre a luta revolucionária de negros escravizados que colocaram abaixo a o sistema escravista que conta a história da Revolução do Haiti. Além disso, escreveu também importantes obras como Uma história da revolta negra (1938) que conta história da luta revolucionária de negros nas Américas e na África; e A Revolução Mundial (1937), um livro que denuncia a burocratização da URSS e as traições do stalinismo.

Em outubro de 1938 foi aos Estados Unidos no intuito de passar 6 meses para dar palestras e acabou ficando por 15 anos, lá se filiou ao Socialist Workers Party (SWP). Enquanto militante da principal corrente da IV Internacional, desenvolveu debates estratégicos, principalmente com Leon Tortski, sobre a auto determinação do povo negro norte americano deixando um grande aprendizado a luta dos trabalhadores de que a luta por autodeterminação do povo negro pode colocar em movimento uma luta revolucionária contra a burguesia imperialista.

Nesse sentido, escreveu nas resoluções do SWP sobre a questão negra:
“Os membros negros da Quarta Internacional, entretanto, tem todo o direito de participar na formação da ideologia de sua própria raça com tais consignas e propaganda para corresponder ao desenvolvimento político e ao despertar revolucionário das grandes massas do povo negro e enquanto consciente dos objetivos finais do socialismo, deve reconhecer o caráter progressivo e revolucionário de qualquer demanda que se desdobra entre as grandes massas negras por um estado negro e se necessário defendê-la vigorosamente” (3).

Suas contribuições não param por aí, na imprensa trotskista publicou um texto extraordinário chamado A revolução e o negro, recobrando a importância dos negros como vanguarda do movimento revolucionário. Além disso, defendeu que assim como em outros momentos da história, os negros foram chave na transição do feudalismo para o capitalismo, serão ainda mais fundamentais na transição do capitalismo para o socialismo, cumprindo um papel revolucionário.

Certamente há uma grande contribuição de C.L.R. a juventude e trabalhadores que hoje se inspiram no Black Lives Matter e percebem que só dá para acabar com o racismo combatendo o capitalismo, numa luta internacional que não caia no grande erro estratégico de limitar a revolução às fronteiras nacionais, como defendeu Stalin e sua teoria do socialismo em um só país. Dedicou grande parte de sua vida para refletir com Trotski a importância da Teoria da Revolução Permanente e a questão negra. Segundo o historiador Frank Rosemberg que biografou James, ao longo de sua vida adulta, há alguns elementos que marcam sua vida toda desde Trinidad e Tobago até seu último dia de vida na Inglaterra, segundo ele, James a medida em que ia tomando consciência da história dos negros, ia também tomando uma decisão cada vez mais consciente da luta contra racismo, da luta pela sua raça.

Notas

1. Frank Rosemberg, The urbane revolutionary.
2. Pablo Mattos, Silent Hero.
3. SWP minutes and resolutions, 1938-1939.




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