Na região metropolitana de Buenos Aires, La Matanza, os candidatos nacionais, estaduais e municipais da chapa 136 A da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores Unidade (FIT-U) encerraram sua campanha para as prévias eleitorais, chamadas de PASO (Primárias, Abertas, Simultâneas e Obrigatórias) que ocorrem neste domingo, com muitos apoios de lutadores pela moradia, saúde e contra a precarização, em defesa de um voto que é a única mensagem clara contra os candidatos dos ajustes e do FMI.
quarta-feira 9 de agosto de 2023 | Edição do dia
A campanha a plenos pulmões e desde baixo, realizada por apoiadores, amigos, familiares, trabalhadores, jovens estudantes. Esse foi o pano de fundo para uma grande passeata de encerramento da campanha de Myriam Bregman e Nico del Caño, dirigentes do PTS, partido irmão do MRT na Argentina, e pré-candidatos da FIT-U junto com a Izquierda Socialista (IS). Em alguns momentos, seu avanço se deu em ritmo lento pelas constantes fotos solicitadas aos pré-candidatos, que há anos mostram que a esquerda está onde precisa estar, o que é reconhecido por dezenas de jovens e trabalhadores que vêm conversar e tirar uma foto com Nico toda vez que ele vem em La Matanza.
“Te apoio muito Myriam”; “é quem fala o que nós passamos”, "todo mundo tem que votar em você porque isso fortalece cada uma de nós" foram alguns dos comentários feitos a Myriam das muitas mulheres que vieram cumprimentá-la e reconhecê-la por sua trajetória na luta pelos direitos humanos e das mulheres.
Trabalhadores, lutadores dos bairros populares que lutam por moradia, professores e estudantes vieram mostrar seu apoio, tirar uma foto e pegar panfletos da chapa 136 A. Além disso, comerciantes da região abordaram Nico para lhe dizer que pagam muitos impostos mas não lhes devolvem nada, ao que ele respondeu que "somos a favor de impostos progressivos e que, como você diz, o dinheiro não seja levado pelos ricos. Mas para isso quem tem que controlar os bancos são os trabalhadores e assim evitar a fuga de capitais e a especulação”.
Em San Justo, o passeio que começou no cruzamento de Indart e Arieta terminou na praça central com uma foto com as mulheres à frente e dois breves discursos. Um de Natalia Hernández, professora, atual vereadora e pré-candidata a prefeita de La Matanza, e outro de Olga Ortigoza, pré-candidata a vereadora. Ambas pediram mais um esforço para fortalecer a atividade na última semana e preparar uma grande fiscalização para garantir votos e fortalecer uma alternativa de esquerda contra os candidatos dos ajustes.
Também fizeram parte da passeata, Nathalia González Seligra pré-candidata a vice-governadora, Ariel Moreno, eletricista e candidato a vereador, todos do PTS, além da dirigente ferroviária Mónica Schlottauer, do FF.CC Sarmiento pré-candidata à deputada nacional, Graciela Calderón à senadora e Juan Carlos Giordano, entre outros candidatos da Izquierda Socialista que integram a chapa "Unir e fortalecer a esquerda".
“Há um problema habitacional muito sério, muitos despejos violentos. Hoje o acesso a uma casa é impossível, o aluguel é absolutamente impossível e as mais afetadas são as mulheres”, explicou Myriam Bregman em entrevista concedida à TV Pública, referindo-se à situação de La Matanza.
Minutos antes, ela havia compartilhado uma conversa com as mulheres do bairro Unión y Fuerza de Virrey del Pino, que denunciaram que "a única resposta da prefeitura é a repressão, o assédio, as ameaças constantes e até o incêndio de nossas casas com as pessoas dentro." Da bancada do PTS-FITU, foi apresentado no Conselho Deliberativo um repúdio à repressão, exigindo um plano habitacional real e que tenha que ser controlado pelos trabalhadores e moradores, os únicos realmente preocupados em solucionar a emergência habitacional do bairro.
Na volta para casa levaram pilhas de panfletos e cédulas, para que seus vizinhos e familiares ajudassem a continuar ampliando a campanha de quem está sempre com quem luta por moradia.
Por isso também estiveram presentes moradores do bairro Nueva Unión, de Rafael Castillo, que também têm seus candidatos do bairro. Além disso, Rosana, uma vizinha do bairro “23 de Agosto” de Los Ceibos, disse com orgulho que colocou os cartazes de Myriam e Nico nos postes de luz do bairro e reconheceu que “eles foram muito importantes porque nos apoiaram em tudo, desde o primeiro momento. Tenho certeza que é isso que pensa grande parte do bairro”.
Eles também vieram conhecer Myriam e Nicolás, vizinhos que estão organizados na assembléia do Bairro La Esperanza de Virrey del Pino para exigir que a prefeitura realize as obras necessárias para dar acessibilidade ao isolamento que causaram aos mais de 70.000 habitantes com as obras realizadas na rodovia Presidente Perón. “É incrível que façam esse trabalho e não se importem com a vida de milhares. A mesma coisa acontece com o transporte, eles nos deixaram isolados.”
"Você tem que lutar, não é hora de abaixar a cabeça ou de se resignar" foram algumas das palavras que Myriam Bregman deixou ecoando em La Matanza, onde ainda falta uma semana para continuar lutando pelo voto à esquerda. A única força que fala do que acontece com as maiorias trabalhadoras, se organiza nos locais de trabalho e estudo contra a resignação “malmenorista” que os candidatos do ajuste e do FMI como os peronistas do governo Sergio Massa ou seu ajudante Juan Grabois procuram impor.
Como parte dos setores que não se resignam, esteve presente Miguel Miranda, pré-candidato a vereador e referência na luta contra o esvaziamento do Hospital del Niño de La Matanza, que junto com seus colegas se somaram a caravana realizada como parte das medidas de combate à precarização da saúde.
Nicolás del Caño acompanha a luta dos trabalhadores e aproveitou para denunciar diante das câmeras que “o Hospital Infantil não tem pediatras. É por isso que quando questionamos e dizemos que essa dívida não deve ser paga (a dívida com o FMI que Macri assumiu e o Peronismo aprovou) é porque ela não foi usada para construir escolas ou hospitais, mas para beneficiar alguns poucos.”
Também estiveram presentes professores e ativistas que consideram necessário fortalecer a esquerda que tem em suas chapas um grande número de professores lutadores: Nathalia González Seligra, à vice-governadora, Natalia Hernández à prefeita de La Matanza, Graciela Calderón à senadora, Olga Ortigoza à vereadora, à qual se somam dezenas de dirigentes de escolas do distrito.
O carinho, as palavras de incentivo e os debates gerados em San Justo e em Laferrere com os candidatos da esquerda contrastam com a raiva que se sente nas ruas com o restante dos políticos. “Temos que dar novas oportunidades porque todos os outros nos têm enrolado”, respondeu uma mulher que passou e pediu a Myriam Bregman uma foto com a filha. A raiva e a decepção de milhões são compreensíveis, porque o Juntos por el Cambio, coalizão de direita, prometeu pobreza zero e mentiu. E os reformistas do peronismo, que prometiam “encher a geladeira”, aplicam os ajustes de inflação, tarifas, e seu principal candidato, Sergio Massa, é o ministro que segue as receitas do FMI.
Os alunos das escolas secundárias de La Matanza, terciárias e da UNLaM também acompanharam os candidatos de esquerda. Até os feirantes que ficam na Plaza de San Justo vieram conhecê-los.
Uma semana antes das PASO, onde os partidos tradicionais promovem a resignação e a criação de um senso comum onde o ajuste parece inevitável, o grande apoio e reconhecimento da esquerda operária e socialista encabeçada por Bregman e Del Caño, mostra que há força para lutar. "Votar na esquerda é uma mensagem de quem diz basta, e quem nos acompanha com seu voto fortalecerá uma alternativa política para continuar lutando contra tudo isso", disse Myriam.
