×

Às vésperas do dia 15, Bolsonaro atiça base com acusação de fraude eleitoral

terça-feira 10 de março de 2020 | Edição do dia

"Pelas provas que tenho em minhas mãos, que vou mostrar brevemente, eu fui eleito no primeiro turno mas, no meu entender, teve fraude", disse Bolsonaro.

Apesar de alegar que apresentaria as supostas provas, a afirmação ficou apenas nas palavras. Mas as palavras aparentemente lançadas ao vento pelo presidente tinham sim um claro destinatário, a sua base bolsonarista que sairá às ruas neste 15 de março.

Falando para uma plateia de apoiadores brasileiros em Miami, após ter tido encontro para lamber as botas de Trump, Bolsonaro renovou a carga anti-regime acusando a fraude eleitoral no primeiro turno.

A declaração ataca a justiça eleitoral, a mesma que beneficiou Bolsonaro escandalosamente quando numa manobra cancelou o título eleitoral de milhões de eleitores do nordeste, votantes que favoreceriam Haddad; ou ainda, quando ignorou os massivos disparos de pacotes de mensagem via whatsapp feitos por sua campanha de maneira ilegal. Bolsonaro mostra a face da ingratidão aos atores golpistas que o beneficiaram fartamente como herdeiro ilegítimo do golpe e de sua agenda de ataques contra os trabalhadores.

A verdade é que o presidente vem oscilando em suas declarações em relação aos atos bolsonaristas, conforme a conjuntura se desenrola. Num primeiro momento, foi revelado que o próprio Bolsonaro estava convocando através do whatsapp as manifestações, como ficava claro pelo vídeo compartilhado por ele nas mensagens. Depois da enorme repercussão com diversos atores institucionais, como Maia, ministros do STF e a mídia, condenando a convocatória ao ato autoritário, Bolsonaro em uma das suas lives semanais negou pateticamente que o vídeo seria referente ao ato deste ano, e afirmou que seria de 2015, sendo que o episódio da facada é narrado no vídeo.

Mais recente, antes de sua viagem e depois de aparente acordo com o Congresso em torno do orçamento impositivo, Bolsonaro fez um chamado público às manifestações, ainda que buscasse deslocar o eixo da convocação, alegando que os atos eram pró-Brasil, buscando torná-lo mais uma agenda pró-reforma, contemplando os demais atores golpistas que se delimitavam dele. Ainda que em última instância a demonstração de força seria canalizada para ele.

LEIA TAMBÉM: Maia critica Bolsonaro mas implora rapidez para aplicar ataques aos trabalhadores

Dessa vez, ainda que não mencione os atos, o intuito é claramente jogar gasolina na sua base. Bolsonaro também declarou que a população não quer o Parlamento como "dono do destino de R$ 15 bilhões" do orçamento, aparentemente rompendo com o acordo que havia se dado em torno da divisão dos R$ 30 bilhões, e novamente polarizando com as demais forças do regime.

O avanço autoritário e a relação com as reformas

O pano de fundo para esse último zigue-zague de suas declarações parece ser os eventos catastróficos dessa segunda-feira que levaram a um derretimento das bolsas de valores ao redor do mundo, e o pior resultado da Bovespa desde 1998. Enquanto os choques do preço do petróleo e do coronavírus pressionam ainda mais as tendências recessivas da economia, a burguesia também aumenta a pressão para que se acelere as reformas e as privatizações.

O fato de Bolsonaro citar nesse mesmo discurso seus pares da direita, Mauricio Macri ex-presidente da Argentina, e Sebastián Piñera presidente do Chile, dizendo que os dois bobearam, possibilitando a volta da esquerda, aponta que a lição extraída por ele dessas derrotas da direita é que para seguir aplicando os ajustes exigidos pela burguesia é necessário contar com o autoritarismo.

"Você tem de afastar, não pode ser complacente. Foi o [Mauricio] Macri na Argentina complacente, perdeu. Foi o [Sebástian] Piñera também, está com problema seríssimo, conta com manifestações quase que diárias, quando começaram os movimentos que diziam que era espontâneo mas mais de uma dezena de estações de metrô foram queimadas simultaneamente, então é orquestrado, sim, não há dúvida que pelo pessoal do Foro de São Paulo. E o Brasil? Será que estamos livres disso? Eu acredito que se bobearmos, volta em 2022, no mínimo. E temos que trabalhar contra essa proposta."

Macri e Piñera seguiram a risca o receituário neoliberal, e mesmo assim o nível crescente de crise social, com o aumento da desigualdade social fruto dos ataques a condição de vida da casse trabalhadora resultou na queda de Macri via eleições e em massivas jornadas no Chile que seguem se desenvolvendo e ainda que não tenham derrubado Piñera, devido a atuação do restante do regime para pactuar uma saída para crise de Estado, minaram totalmente seu poder.

Há de se lembrar de que no período de maior efervescência da luta de classes no Chile, Bolsonaro e seu clã começaram a aventar a necessidade de um AI-5 por aqui frente a possibilidade de contágio. Hoje por hoje, a possibilidade de contágio que existe não é da luta de classes, ainda que a maior greve de petroleiros dos últimos anos tenha mostrado um desafio ao projeto de privatizações e entreguismo do governo, mas sim do coronavírus e da ameaça de recessão para a economia global que está impondo. Mesmo assim, o diagnóstico de Bolsonaro parece ser bastante parecido, da necessidade de fazer avançar o autoritarismo do regime para contar com o poder do sabre na aplicação das reformas.

Econômica e politicamente a situação ainda está longe de evoluir para os cenários da Argentina, em que Macri teve 4 anos de apoio da burguesia para fazer a economia crescer e apenas aprofundou o endividamento e a piora das condições de vida da população sendo derrotado eleitoralmente pelo reformismo de Alberto Fernández, que segue negociando com o FMI; ou do Chile, em que a continuidade de anos de herança do regime autoritário e neoliberal de Pinochet explodiu numa revolta sem precedentes da população. Mas a intenção de Bolsonaro parece ser seguir empurrando a correlação de forças do regime a direita, em prol de seu projeto autoritário, e para se precaver das duas perspectivas, seja da queda eleitoral, ou de um possível ascenso de massas.

A luz dos próprios acontecimentos do Chile temidos por Bolsonaro, somente a luta de classes que pode derrotar seu avanço autoritário e o conjunto das reformas. Por isso é necessário que no dia 18 de março se expresse uma contundente resposta da classe trabalhadora, com a organização de uma paralisação nacional. Partindo desde a construção de um forte dia 14 de março por justiça a Marielle, em que se completarão 2 anos da execução de Marielle, ainda sem resposta. Nos organizando desde cada local de estudo e trabalho, com assembleias massivas, tendo nossos sindicatos e entidades estudantis como ferramentas para fomentar essa organização. Batalhando para que essas demandas sejam tomadas pelas grandes centrais sindicais e estudantis como a UNE, a CUT e a CTB.

LEIA TAMBÉM: Com a força internacional das mulheres, por justiça para Marielle e uma forte paralisação no 18M




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias