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Novo Ensino Médio | 92,7% dos estudantes concluintes de SP defendem a revogação do NEM, diz pesquisa da REPU

Na última semana, a Rede Escola Pública e Universidade (REPU) - que engloba pesquisadores da área de educação da USP, Unesp, Unicamp, Unifesp, UFScar, UFABC, IFSP e professores da rede estadual de educação - divulgou em sua página uma pesquisa realizada com a primeira geração de estudantes concluintes do NEM (2021-2023) que contradiz os dados das tendenciosas pesquisas de opinião anteriores.

Gabriel DolceMilitante do Movimento Nossa Classe

segunda-feira 1º de abril | Edição do dia

Desde que o Novo Ensino Médio começou a ser discutido em 2016 pelo governo golpista de Michel Temer (MDB), pesquisas de opinião foram encomendadas pelo Governo Federal, Industriais e monopólios da educação para provar uma suposta aceitação popular da reforma. Essas pesquisas foram feitas sem que a população tivesse conhecimento de suas implicações e com promessas genéricas como “os estudantes terão maior liberdade de escolha do currículo” ou “os estudantes passarão mais tempo em sala de aula” [1].

Na última semana, a Rede Escola Pública e Universidade (REPU) - que engloba pesquisadores da área de educação da USP, Unesp, Unicamp, Unifesp, UFScar, UFABC, IFSP e professores da rede estadual de educação - divulgou em sua página uma pesquisa realizada com a primeira geração de estudantes concluintes do NEM (2021-2023) que contradiz os dados das tendenciosas pesquisas de opinião anteriores. A pesquisa foi realizada com 770 alunos de 6 escolas estaduais de SP localizadas na Grande São Paulo. Vamos aos resultados.

O dado apresentado pela pesquisa que mais salta aos olhos é o que está no título dessa nota: 92,7% dos/as estrevistados/as responderam que o NEM deve ser revogado. Quando perguntados sobre como foi cursar o ensino médio durante a implementação da reforma, 87,2% avaliaram como “ruim” ou “péssimo”. Além disso, constatou-se que: 6 de cada 10 estudantes entrevistados (64,5%) não cursaram os itinerários formativos que escolheram - o que desmente o argumento falacioso de que a reforma aumentaria a liberdade de escolha dos estudantes -; 81,5% estão insatisfeitos com os componentes curriculares do NEM; e 79,3% consideram que a redução das disciplinas comuns no currículo vai impactar negativamente nas suas vidas.

Quanto ao aumento da carga horaria, outra promessa dos reformadadores, a resposta dos/as entrevistados/as deixa claro que se trata de uma mentira: 61,8% dos estudantes não frequentaram as aulas de expansão e 45,7% não aumentaram seu tempo de permanência na escola, pois as aulas foram ofertadas a distância mostrando que há indícios de que o uso de educação a distância na educação básica está sendo utilizado pelo governo do estado de São Paulo para economizar na contratação de professores.

Sobre o futuro dos entrevistados, 55,3% dos/as estudantes entrevistados/as não consideram que as mudanças no ensino médio os/as preparem melhor para o Enem (33,2% responderam que sim), 64,5% dos/as respondentes afirmaram que o aumento de carga horária no ensino médio não os/as prepara para conseguir trabalho (24,7% disseram que sim) e 58,3% disseram que não os/as ajuda a entrar na faculdade (29,7% afirmaram que sim).

Os resultados da pesquisa trazem para o universo acadêmico algo que é sentido cotidianamente pelos professores da rede pública: o descontentamento entre os estudantes com o NEM. Em outras palavras, os resultados são a expressão do mal-estar da juventude com uma educação precarizada, vazia de conteúdo e sem sentido que os prepara para um futuro em um mercado de trabalho igualmente precário, terceirizado e uberizado.

Não foi objeto da pesquisa, mas é sempre bom citar: o NEM também acarreta em precarização do trabalho do professor, com a tendência à desprofissionalização docente, como por exemplo nas aulas do itinerário formativo e na aprovação do “notório saber” que legaliza a docência de pessoas não formadas na rede básica de ensino. No caso do estado de SP, a precarização docente avança a passos largos devido aos ataques do governo de extrema direita de Tarcísio de Freitas que faz parte do Republicanos, partido que compõe a Frente Ampla.

Como escreveu Danilo Paris em matéria sobre o NEM, “todo projeto de sociedade precisa de um projeto de educação que lhe corresponda” e o NEM é a reforma educacional de um Brasil pós-golpe que aposta em um neoliberalismo mais agressivo, com mais precarização e maior retirada de direitos. Não à toa o NEM foi aprovado junto à reforma da previdência e à reforma trabalhista. Nesse sentido, o governo de Frente Ampla de Lula-Alckmin mantem esse projeto de país precário e por isso não revogou as reformas. Pelo contrário, aprovou a PL dos apps que legaliza, dentre outras coisas, a jornada de trabalho de 12h.

No que diz respeito à Educação, foi recém aprovada uma “reforma da reforma” (PL 5230/2023), como resultado de acordos do governo com a direita, que sobe a carga de matérias básicas para 2400h (uma demanda de professores e estudantes) mas mantém os itinerários formativos e a carga de 1800h para as escolas que escolherem os cursos profissionalizantes, além de liberar o notório saber e o ensino a distância. Obviamente, tais medidas resultarão em uma pressão para que as escolas públicas escolham os cursos profissionalizantes, reforçando a divisão que já existe na educação entre uma voltada para os alunos que irão cursar o ensino superior, com uma carga de 2400h (majoritariamente em colégios particulares), e outra tecnicista e precária, que contará agora com uma carga de 1800h para os trabalhadores e os mais pobres que vão servir de mão de obra barata

Esse compromisso com a manutenção do NEM ilustra a preocupação do governo com os interesses dos monopólios da educação, como a Fundação Lemann, Itaú e Todos pela educação. Da mesma forma, a entrada do reacionário transfóbico Nikolas Ferreira na presidência da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados como parte dos acordos do governo de Frente Ampla mostra que a conciliação de classes leva à mais ataques e ao fortalecimento da extrema direita.

Enquanto isso, a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE), dirigida majoritariamente pela CUT (dirigida pelo PT), e a UBES (dirigida majoritariamente pelo PCdoB) seguem como uma extensão da política do governo de frente ampla entre os trabalhadores da educação, e abandonaram a defesa da Revogação do NEM. Quem perde com isso são estudantes e trabalhadores da educação, que ao longo dos últimos anos demonstraram em distintos momentos disposição de luta para revogar o NEM e que agora terão que lidar com seu aprofundamento como resultado amargo de mais uma política de conciliação de classes.

Em meio a greve dos técnico administrativos das universidades federais, que se enfrentam com o arcabouço fiscal aprovado pelo governo Lula-Alckmin, é urgente que as direções da CUT, CTB, UNE, UBES parem de servir como correia de transmissão dos acordos da frente ampla (cada vez mais ampla) e convoquem pela base uma luta nacional unificada da educação pela revogação do NEM, pelo piso nacional da educação e contra o arcabouço fiscal que garante a precarização da educação de conjunto.

[1] É o caso das pesquisas feitas pelo Ibope em 2016 (encomendada pelo Governo Federal), pela FBS em 2021 e 2023 (encomendadas pela CNI e Senai), e pelo data-folha em 2022 e 2024 (encomendadas pelo Todos pela a educação.




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