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Ao contrário de estar tudo derrotado, a não ser o próprio PT como partido, o que de fato se esgotou foi o modelo de conciliação de classe, reformista e do “mal menor”, como forma ideal de responder a crise política, econômica e social. A saída é pela esquerda, nas ocupações e nas lutas contra o governo golpista de Temer.

Felipe GuarnieriDiretor do Sindicato dos Metroviarios de SP

quinta-feira 17 de novembro de 2016 | Edição do dia

Um clima de insatisfação é perceptível nos locais de trabalho. Não é por menos. O golpe institucional revela a cada dia que, muito além de atingir o PT, teve como objetivo atacar os trabalhadores e a juventude. Os ajustes começam a ser feitos no Congresso. O PEC 241 (agora PEC 55, que tramita no senado federal), conhecido como PEC do “fim do mundo”, é apenas o prenúncio de novos ataques, como Temer e seus aliados almejam com a reforma trabalhista e previdenciária. Uma série de medidas que coloca a conta da crise para os trabalhadores, ao passo que se mantém o lucro dos empresários, o privilégio dos políticos e o fortalecimento do poder judiciário como uma instituição “legitimada pela Lava jato” para aplicar esses ajustes.

Entretanto, a crise política e econômica não se restringe as fronteiras nacionais. Toda América Latina vive o processo de “fim de ciclo de crescimento”, aumenta a crise de representatividade dos partidos de centro esquerda e de conciliação de classes, que triunfaram nos anos pós-neoliberais e que veem despencando, como foi o kichneirismo, na Argentina, e o PT, no Brasil. Um cenário de relocalização política da direita tradicional vem ganhando cada vez mais espaço nos países latino-americanos, e recentemente com uma cara nova, do “empresário que não é político” (slogan semelhante de Dória para conquistar a prefeitura de SP) retirou o partido Democrata da presidência norte americana a partir da vitória de Trump contra Hilary Clinton.

Esse processo de mudança no cenário político desperta um sentimento, apoiado por bases reais de insatisfação popular, de que “tudo vai mal”. Aonde parece que nada é possível ser feito, de que “fomos derrotados”, e rapidamente a insatisfação se transforma em ceticismo, resignação e conformismo.

O PT, o “mal menor” e a “onda conservadora”

Se centenas de milhares de trabalhadores começam a ter esse sentimento movido pelo descontentamento com a política tradicional, não é o mesmo quando isso sai dos discursos e das ações do PT e PC do B. A tese criada pelos intelectuais desse partido, sob a qual vivemos diante a uma onda conservadora, aonde não há nada que possa ser feito a não ser se apoiar em pequenos avanços e o “mal menor” nas eleições, tem 2 objetivos centrais: o primeiro em justificar a crise que passa hoje o partido depois de passar anos governando com a direita, traindo os trabalhadores, e, um segundo, baseado em manter a paz social, promovendo uma trégua, a partir das principais centrais sindicais como a CUT/CTB, que se traduz em nenhuma ação efetiva, não somente na época do golpe, mas também com os ataques que seguirão.

Ao contrário de estar tudo derrotado, a não ser o próprio PT como partido, o que de fato se esgotou foi o modelo de conciliação de classe, reformista e do “mal menor”, como forma ideal de responder a crise política, econômica e social.

A saída é pela esquerda, nas ocupações e nas lutas contra o governo golpista de Temer

O que fica escondido intencionalmente na tese petista são as lutas, pois se tudo vai mal e não há resposta para nada, como explicar os explosivos processos de luta e resistência que acontecem nas escolas e universidades em diversas cidades e principais capitais do país? São milhares de jovens no Paraná, Minas Gerais, Rio de Janeiro, no Rio Grande do Sul, que comprovam que há muitas contradições na dita consolidação da “onda conservadora”. Já que, de forma independente do PT, e muitas vezes espontânea, vem surgindo uma onda de mobilizações contra o governo golpista de Temer, e que começa a se estender ao próprio funcionalismo, como acompanhamos nos últimos atos no Rio de Janeiro.

Se os trabalhadores passam a se ligar profundamente as manifestações, essas passariam de um caráter explosivo para serem, diretamente, atos devastadores contra os governos, e esse é o principal medo deles. Um medo que fica visível em cada pronunciamento.

Diferente do petismo, a esquerda é capaz de derrotar a direita, mas para isso deve ser uma alternativa independente, que não tente reeditar o petismo, como Freixo do PSOL baseou sua campanha para milhares no Rio de Janeiro, mas também não deve se adaptar ao golpismo, reivindicando e comemorando a Lava Jata, como Luciana Genro faz constantemente nas redes sociais, ou com o “Fora Todos” que nada mais é do que uma maneira disfarçada que se mistura com os golpistas da direita com os gritos contra Dilma, Lula e o PT. A esquerda precisa levantar uma 3ª posição a nível nacional para confluir a luta da juventude com a dos trabalhadores, provando que é possível lutar contra os ataques golpistas, mas sem se ligar ao que foi o petismo. Sem dúvida essa é a tarefa que está colocada para que os trabalhadores possam vencer a direita.

foto: servidores do RJ em manifestação dia 16 de novembro/Midia Ninja




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