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Dossiê Stonewall | Espanha e Stonewall: Uma história de luta pelos direitos LGBTI

Em 28 de junho de 1968 explodiram as manifestações mais conhecidas da luta LGBTI no bar Stonewall, em Nova Iorque, começando, assim, a luta organizada pelos direitos da comunidade LGBTI e das diferentes organizações.

quarta-feira 1º de julho de 2015 | 13:29

Atualmente vemos como na Espanha e em outros países estão sendo alcançadas diversas conquistas importantes – casamento igualitário, adoção e a lei contra a homofobia na Catalunha. Mas o problema que está surgindo entre as novas gerações LGBTI nos países com esses direitos conquistados, é a falsa ideia de que já vivemos em uma sociedade igualitária e, consequentemente, muitas pessoas deixando de se preocupar ou de seguir lutando pelos direitos LGBTI.

Um exemplo claro é o dia do Orgulho Gay, um dia que se tornou um negócio e perdeu toda a essência reivindicativa e de luta social. É neste negócio, em geral, onde encontramos uma separação dentro da comunidade LGBTI, que já se dá no restante da sociedade: a separação entre ricos e pobres.

Sobre os estereótipos com que o patriarcado tem inundado a sociedade se construiu um forte negócio, e quase sempre dado em conjunto com empresários e empresárias LGBTI.

Atualmente na Espanha podemos observar como em certas cidades tem se construído “guetos” LGBTI, o mais famoso de todos eles é, sem dúvida, o bairro de Chueca em Madri. Na própria Barcelona encontramos a famosa zona chamada gaieixample, uma zona dedicada a comércios e vida noturna LGBTI. Outro exemplo é o povoado de Sitges no Garraf (Catalunha), importante área de turismo LGBTI. Mas o que todos esses espaços tem em comum é que todos são espaços destinados a um público LGBTI com alto poder aquisitivo.

Na década de 70 os movimentos LGBTI foram muito progressistas nas exigências que colocavam. Criticaram os guetos como única forma de socialização e resistência do coletivo LGBTI. A existência dos guetos é, em si, uma agressão, embora possa ser “utilizado” como “fortaleza” em momentos de grande violência. O gueto como um reduto de socialização em uma sociedade homofóbica é algo reaccionariamente estratégico, ainda que taticamente possa ser progressivo.

Apesar disso, não podemos esquecer que os guetos gays se constituem atualmente por causa da proliferação de negócios dos empresários LGBTI em uma área, não pelo avanço das lutas pela liberação sexual que tem arrancado concessões como o casamento igualitário ou a revogação de leis persecutórias – por exemplo, a eliminação da homossexualidade como “doença”.

Estes espaços serviram para impulsionar a luta LGBTI e oferecer um lugar para se expressarem livremente. Mas devem ser como uma transição, e não como um fim.

Espaços para poder levar a luta para o resto da sociedade e não ficar separados do resto da sociedade. Estes acabam sendo gerenciados para setores de alto poder aquisitivo e, desse modo, acaba ocorrendo uma dupla segregação. A primeira com o resto da sociedade e, a segundo, com a comunidade LGBTI dos setores populares e da classe trabalhadora.

A história do movimento LGBTI tem marcos combativos, como os dos bairros operários e fábricas alemãs nos finais dos anos 20 e começo dos anos 30, quando foi criado círculos de debate dirigido por Wilhelm Reich sobre o machismo, homofobia e a repressão sexual da juventude ligado ao Partido Comunista Alemão de 40.000 membros.

Durante os anos 70 não somente lutavam pela despatologização da homossexualidade, mas também pela subversão da sexualidade capitalista. É nesse contexto de luta que aparecem diferentes frentes de liberação gay ao redor do mundo. Os mais importantes, ou mais relevantes em relação a conquista de direitos são: a FAGC (Frente de Liberação Gay da Catalunha) de Catalunha, o GLF (Frente de Liberação Gay) dos EUA e a FLH (Frente de Liberação Homossexual) da Argentina. Estas frentes antirracistas, feministas, anti imperialistas (como a dos EUA contra a guerra do Vietnã), movimentos revolucionários, pró-trabalhadores e solidários, questionavam as relações sociais patriarcais.

No entanto, seu aspecto subversivo se perdeu nos anos 80 e 90. Nos anos 80 houve um golpe muito duro, sobretudo pela aparição da AIDS – conhecido antes como GRID-Deficiência Imunológica Relacionada com Gays – e a ofensiva homofóbica, deixando o movimento muito na defensiva e lhe dando um caráter reformista de conquista de direitos. Por outro lado, a conquista de alguns direitos foi acompanhada pelo desemprego e a maior precarização do trabalho, sendo então, um momento de retrocesso para os movimentos sociais. Foi incentivada uma maior institucionalização, cooptação, fragmentação e despolitização.

Hoje vemos como a origem combativa e de questionamento radical das barricadas de
Stonewall é invisibilizada pelas paradas de orgulho gay. Paralelamente, os lobby gay atuam sem ter como interesse outra coisa a não ser seus interesses econômicos, os que se relacionam com o chamado “capitalismo rosa”. O último caso foi entre os organizadores do “Orgulho Madri”, que chamavam a toda a comunidade LGBTI de Madri a votar na reacionária e direitista do Partido Popular (PP) Esperança Aguirre, sem importar que nunca tenha se pronunciado contra a discriminação e as agressões homofóbicas. A luta do movimento LGBTI deve ser em aliança com os outros setores oprimidos pelo capitalismo.

Precisamos de movimentos que recuperem esta tradição e que voltem a questionar as relações sociais patriarcais.

Como coletivo gay continuamos oprimidos e descriminados, apesar das importantes conquistas alcançadas. O sistema capitalista perpetua as desigualdades e a discriminação sexual e as relações de opressão aos gays, lésbicas e transexuais. Retomar a luta nas ruas e a luta anti-capitalista é o melhor que podemos fazer aos movimentos combativos que lutaram para conseguir importantes conquistas, e é o caminho para avançar na luta contra as múltiplas opressões deste sistema opressor e explorador.

Tradução: Ana Fulfaro




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