No início desta semana a moeda norte-americana subiu 0,04% no Brasil, chegando a R$ 4,15, novamente no maior valor desde 2016. Na máxima desta terça (04), o dólar chegou a R$ 4,19 e na mínima, a R$ 4,13. Neste ano, o dólar já acumula alta de mais de 25,3% sobre o real.

As incertezas rondam o cenário eleitoral nacional e os movimentos especulativos se movem em razão disso. Apesar de toda tentativa de viabilizar o candidato dos sonhos do mercado, Geraldo Alckmin, os dois principais candidatos nas pesquisas correm por fora, pelo lado da extrema-direita Jair Bolsonaro e, por outro, o Lula que está preso.

Na última semana, acompanhamos mais um capítulo da arbitrariedade do judiciário na sua corrida para impedir a candidatura de Lula e atacar o direito democrático da população poder votar em quem quiser. Ainda assim, mesmo com as manobras judiciais, paira sobre mercados o medo de que Haddad que seria o candidato do PT, esteja mais fortalecido que Alckmin. Não à toa, nesta terça-feira (04), após a notícia de que o Ministério Público de São Paulo havia denunciado Fernando Haddad por corrupção no melhor estilo “sem provas, mas com convicção”, o dólar que estava o dia todo em alta, recuou para o patamar de R$ 4,15.

Este cenário de movimentos especulativos com a moeda brasileira como forma de pressão para que sejam garantidos, acima de tudo, os ataques aos trabalhadores como a reforma da previdência, é recorrente. No entanto, no cenário econômico e político brasileiro as incertezas da política nacional se combinam com uma situação internacional de desvalorização das moedas de diversos países tidos como emergentes.

Acima dos R$ 4,00 a alta do dólar é puxada também pelo cenário externo dos países emergentes. As tensões comerciais que advém da política protecionista do governo Trump, combinado com a alta das taxas de juros do Federal Reserve (Fed), vem impactando a Turquia que tenta aumentar a taxa de juros para conter a desvalorização da sua moeda, que já acumulou 43% desde o começo do ano. Além da Turquia, há também profunda crise que passa a Argentina, onde a inflação já chega a 30%, e a super desvalorização do peso argentino fazendo o dólar chegar a $40. Combinado com a intervenção do FMI por meio do governo Macri aumentando a dívida externa do país (paga em dólar) e pressionando por mais ataques aos trabalhadores.

Os Bancos Centrais da Índia, Indónesia, Filipinas e República Tcheca também elevaram as taxas de juros em agosto para tentar conter o movimento internacional de corrida pelo dólar. A África do Sul entrou em recessão pela primeira vez desde 2009.

A situação dos emergentes aponta para um aprofundamento da crise internacional, que já dura mais de 10 anos, e que agora avança para as economias antes colocadas como “em desenvolvimento”. Dos chamados BRICS, a China é o único país que ainda mantém certa estabilidade econômica, ainda que já tenha mudado o eixo da economia para o consumo interno, e vem tendo taxas de crescimento em queda, que para um país continental como a China e com a tensão comercial dos EUA pode mudar e entrar um cenário mais desfavorável.

A política de Trump e do FED com aumento da taxa de juros, juntamente com a valorização do dólar está causando movimentos especulativos internacionais de fuga para esta moeda. Nesse momento, os países emergentes aumentam as taxas de juros como forma de manter o preço da moeda.

No Brasil, o Banco Central ainda não se utilizou das reservas para conter a alta do dólar, nem tampouco aumentou as taxas de juros, ainda em contra-tendência em comparação aos países emergentes, e tenta ajustar o preço pela via dos swaps cambiais, ou seja, ainda pela via do mercado.

De forma geral, a alta no dólar impacta diretamente na vida das trabalhadoras e trabalhadores brasileiros. Com o aumento do dólar, encarece também os produtos importados, como combustíveis como diesel encarece e aumenta o valor dos fretes e de forma geral dos alimentos que são transportados. Também automóveis e eletrodomésticos, como celulares, se encarecem por usar insumos importados comprados em dólar. Algo que gera aumento dos preços (inflação) e afeta no bolso da população.

Apesar de ainda não ter se utilizado de todas as armas possíveis, é necessário ter em conta que o cenário internacional se torna cada vez mais adverso, somado com a aproximação das eleições deixam incertos quais podem ser os próximos impactos da moeda americana no país e torna o mercado e a burguesia em geral mais ferrenhos na defesa da necessidade de ataques aos trabalhadores, como a reforma da previdência.