Imagem: Reprodução/TvBand

Bolsonaro no último debate eleitoral na Band não poupou sua misoginia, xenofobia e racismo ao dizer que na passeata de Lula, no Complexo Alemão no Rio, “não tinha um policial, só traficante”. Para Bolsonaro, pobre e morador da favela é tudo traficante. Sem contar as mentiras sobre a fome e a condição de vida dos trabalhadores, para Bolsonaro parece que vivemos num país sem violência policial e miséria que ataca em cheio a população trabalhadora, pobre e negra, sobretudo, nas favelas, periferias e palafitas no Brasil.

Bolsonaro é um racista declarado, inimigo da população pobre e negra brasileira, mas isso não é algo que surgiu no último debate, vem muito antes. Basta ver que na chacina do Jacarezinho não demorou para parabenizar e defender a polícia civil que assassinou 27 pessoas. Na última chacina no próprio Complexo do Alemão, Bolsonaro desdenhou do assassinato de 19 pessoas, entre elas mulheres trabalhadoras, dizendo em entrevista: “Você que se solidarize com essas pessoas, tá ok? Se eu for ligar para todo mundo que morre todo dia, eu tô..."

Não há dúvidas que Bolsonaro e sua base de extrema-direita odeiam os negros e trabalhadores, isso fica bem explícito seu racismo quando incentiva a repressão nas favelas e as chacinas. O caso do assassinato brutal e covarde de Genivaldo pela polícia rodoviária federal são expressão disso, inclusive o próprio Bolsonaro chegou a chamar Genivaldo de "marginal" e que a PRF fez um "trabalho excepcional"

No entanto, nesse mesmo debate, quando Bolsonaro questionou Lula sobre uma suposta relação/favorecimento do traficante Marcola quando Alckmin era governador e Lula presidente, ele respondeu dizendo que construiu 5 presídios de segurança máxima, quatro a mais que Bolsonaro. Como quem diz, “se tem uma pessoa que combateu o crime organizado foi eu”. 4 deles foram inaugurados durante o governo Lula e outro no governo do golpista Michel Temer tendo suas obras iniciadas no governo Dilma.

Por trás desse entusiasmo todo de Lula ao reivindicar o sistema prisional brasileiro, está o encarceramento em massa da juventude negra que aumentou consideravelmente durante os anos de governo do PT, bem como o encarceramento feminino. Além é claro, do recrudescimento da violência policial e a repressão nas favelas.

De 2000 a 2012, por exemplo, o número de mulheres encarceradas triplicou. Nem precisa dizer que esse aumento absurdo se deu em meio a precarização da vida dessas mulheres que nem sequer têm acesso a absorventes e direito à maternidade, sendo a grande maioria delas negras. O Brasil tem hoje a infeliz posição de 5º país com maior população carcerária feminina do mundo.

Desse mesmo ano até 2020 a população carcerária triplicou, sendo que 39,4% dessas prisões por tráfico de drogas e indução ao uso de drogas, ou seja, esse aumento também é resultado da política de “guerra às drogas” que tem como alvo a juventude negra e os trabalhadores. Segundo os dados do Infopen, o Sistema de Informações do Sistema Penitenciário, em 2021 mais de 770 mil pessoas presas no Brasil não foram julgadas, 64% são negras e 70% são mães.

Não pode ser que em um debate eleitoral frente a um presidente reconhecidamente racista e inimigo da classe trabalhadora, Lula se orgulhe em ter construído 5 presídios de segurança máxima que contribui com o aumento absurdo do encarceramento da juventude e de mulheres no Brasil. Mas não só isso, fortaleceu o judiciário e seu caráter racista e classista que mantém milhares de trabalhadores presos injustamente e sem julgamento. Nem falar o aumento da violência policial que o PT contribuiu também diretamente apoiando as UPPs no Rio de Janeiro e a intervenção militar no Complexo do Alemão no governo Dilma. Foi nos governos do PT que o exército brasileiro dirigido por Augusto Heleno, hoje chefe do GSI de Bolsonaro invadiu e reprimiu a população haitiana.

Mas não devemos também nos espantar “tanto” com essa declaração. Alckmin, por exemplo, já deu inúmeras provas de que é um grande inimigo da população negra, bastendo recorde de assassinato durante seu governo como denunciamos aqui.

A frente amplíssima que Lula e Alckmin estão construindo com apoio da Febraban, Fiesp, empresários e a fração democrata do imperialismo norte-americano mostram o tom de seu futuro governo caso vença Bolsonaro no 2º turno das eleições

Está mais que claro que não será se aliando com a direita que iremos derrotar o bolsonarismo, muito menos adotando um programa da direita como é do chapa Lula-Alckmin que não irá revogar as reformas e ataques. Muito menos reivindicando uma política nefasta da direita que só fez aumentar o encarceramento em massa no país que atinge diretamente a população negra e pobre. O bolsonarismo se alimenta todos os dias de preconceito contra pobres, negros e moradores de comunidades - e a saída que dão é a de mais encarceramento, mais presídios, mais polícia, mais repressão… reivindicar esse programa é o caminho para fortalecer o bolsonarismo, não derrotá-lo. A extrema-direita, as reformas e os ataques precisam ser derrotadas nas ruas, assim como demonstraram agora a pouco os estudantes que fizeram o governo Bolsonaro retroceder em um dos ataques às universidades e institutos federais.