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MÁFIA DAS MERENDAS | Chefe da máfia das merendas diz ser amigo de Capez do PSDB

Duas mensagens de whatsapp e uma delação premiada, ambas sobre o esquema do merendão tucano, surgem pelas investigações e deixam mais claro o envolvimento direto do deputado e Fernando Capez do PSDB, atual presidente da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

Maíra MachadoProfessora da rede estadual em Santo André, diretora da APEOESP pela oposição e militante do MRT

quinta-feira 14 de abril de 2016 | Edição do dia

“Aquele dia q peguei o dinheiro do pessoal de sp comissão parece q faltou 5 mil justo da parte do dep. Tô tentando enrolar Marcel para resolver isso depois” (sic). Essa é uma das mensagens que seria de um dos envolvidos no esquema enviada ao presidente da cooperativa Coaf, Cássio Chebabi, que é a principal empresa envolvida nas fraudes da merenda escolar. Cássio, em outra mensagem, diz: “Agora estamos com amizade com um promotor e deputado Capez de São Paulo” (sic). “Marcel” (que figura na primeira mensagem) seria Marcel Julio, lobista da Coaf.

No bojo das investigações, também se apurou em delação premiada do próprio lobista que este se encontrou com Fernando Capez (o “dep.”?) por duas vezes no fim de 2014. E ele relata que em uma delas Capez liga para Fernando Padula, que era chefe de gabinete da Secretaria Estadual de Educação, para agilizar um contrato com a Coaf, e logo em seguida sinaliza – esfregando o dedo indicador ao polegar – que queria dinheiro. Além disso, Julio também afirma que valores foram entregues a pelo menos dois aliados de Capez: Merivaldo dos Santos e Jéter Rodrigues.

A operação de investigação – sobre o superfaturamento e fraude de licitações dos produtos destinados para a merenda dos alunos do estado e de 22 municípios – apurou que a Coaf cadastrava famílias do campo para fornecimento de suco de laranja destinado à merenda escolar; e revendia o suco a preços superfaturados para prefeituras. Sob a direção de Chebabi, a Coaf infiltrou-se em administrações municipais e também mirava em contratos da Secretaria da Educação do governo Alckmin (PSDB).

O que as investigações apuram, já é mais que claro para professores e alunos

Como denunciei ontem no artigo “Quem vai punir os ladrões da merenda?”, estamos em meio a um caos na educação. Alunos e professores sofrem com falta de itens básicos para o dia a dia na escola, sem falar dos salários miseráveis que ganhamos, a superlotação de salas e uma lista sem fim de problemas. É a situação que mostra em realidade o projeto do governo explicitado na declaração do secretário da educação Nalini, de que a educação não é um direito básico, e portanto o estado não deve ser obrigado a garanti-la. E, nesse bojo, impor que as mães mandem de casa as merendas dos filhos – ou no máximo oferecer “merenda seca” ou diretamente estragada – é mais um elemento dessa política que vem sendo implementada pelo governo Alckmin. Para quem está na escola, está claro que os alunos estão tendo sua merenda arrancada por alguma mão.

Afinal, o que são alguns milhões roubados da merenda, já que acham que sequer o direito à educação os filhos dos trabalhadores têm? “Vamos tirar de lá, está sobrando. Quem se importa se aluno de escola pública come ou não?” Dá até pra ouvir os excelentíssimos políticos trocando suas figurinhas.

O fato é que as investigações existem, levantam esses dados, porém no limite não serve a que as crianças voltem a ter a merenda e que os ladrões dela sejam punidos. Pois nessa democracia dos ricos, onde o que é determinante é a busca por lucro, não é possível impor que aqueles que controlam o poder em nome dos capitalistas sejam punidos por favorecer os capitalistas em detrimento de alunos de escola pública. Prova disso é que a própria Comissão de Educação da Assembleia Legislativa, onde poderiam ser processadas tais investigações, não têm funcionado por falta de quórum das sessões. Coincidência?

Quem, então, vai punir os ladrões da merenda?

No marco de toda essa realidade escancarada para quem vive a escola pública, no marco destas investigações que vão evidenciando os roubos, e no marco de manifestações regionais contínuas de alunos e professores pela punição dos ladrões da merenda, o que defende a direção da Apeoesp ligada ao PT? Instalação de CPI. Pra ser organizada pelos mesmos que organizam o desmonte da escola pública. Daquelas que todos, por senso comum, já sabem que “sempre acaba em pizza”.

Na verdade, faz isso pois não está interessada em que os interesses dos professores e dos alunos sejam defendidos pela própria força destes, aliados aos trabalhadores que precisam da escola pública para educar seus filhos. A direção da Apeoesp tem medo de que uma real mobilização avance para além de seu controle (vide o que ocorreu na última assembleia dos professores) e chegue a questionar, não somente os roubos e políticas precarizadoras do PSDB, mas também os dos governos do PT, federal e municipal.

Em meio à atual crise econômica e política que estamos passando nacionalmente, em que a direita quer um governo ainda mais ajustador do que o do PT, que já corta bilhões da educação e quer congelar salários dos servidores públicos, vemos que a corrupção é um método de todos os governos, e hoje somente um pretexto para a direita assumir o governo federal. Para avançarmos numa resposta nossa, dos trabalhadores, é exatamente disto que precisamos: de uma mobilização dos professores e alunos unidos, independente dos governos. Os secundaristas, a partir da experiência da sua luta no ano passado, vêm se manifestando contra os roubos das merendas, assim como professores começam a se somar em várias partes do estado. É esse o caminho que devemos seguir e aprofundar; a partir de uma grande mobilização podemos impor uma Assembleia Constituinte que responda realmente aos ataques do governo federal e estadual, e que passe por punir os ladrões da merenda, arrancar os direitos e defender a educação pública dos interesses privados de um punhado de empresários.




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