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Argentina | A esquerda argentina se prepara para a greve geral dia 24/1 contra Milei

A resistência contra os ataques de Milei, novo presidente da Argentina, já começou em dezembro e terá um novo marco neste 24 de janeiro, numa paralisação nacional convocada pela CGT, a principal central sindical, e diversas organizações do movimento social e políticas, como a Frente de Esquerda e dos Trabalhadores - Unidade. Haverá uma jornada internacional de atos nas embaixadas em vários países, incluindo o Brasil. O que está ocorrendo na Argentina e por que devemos apoiar ativamente essa luta?

quinta-feira 18 de janeiro | 13:20

Milei começou o seu governo com múltiplos ataques, nos mais diversos âmbitos. Com um DNU (Decreto de Necessidade e Urgência) revogou ou alterou quase 300 leis nos primeiros dias de governo, estabelecendo uma reforma trabalhista que ataca o direito de greve, os acordos coletivos de trabalho, liberou a lucratividade ao extremo dos planos de saúde, os juros bancários e outras medidas. Em seguida, com a chamada Lei Omnibus, enviou ao congresso uma série de outros ataques para apreciação conjunta em uma só lei,
que inclui a delegação à Milei de poderes extraordinários legislativos sobre economia, finanças, problemas fiscais, “segurança”, tarifas, energia e outros setores, até 31 de dezembro de 2025 e prorrogável por dois anos, buscando poderes monárquicos. Neste vídeo, explicamos as mentiras de Milei e alguns destes ataques, que são totalmente generalizados e de uma magnitude histórica.

Neste artigo, o PTS analisa mais profundamente a correlação de forças no país e os ataques e que tipo de ditadura pretende estabelecer Milei. Nunca um governo civil atacou tanto e tão rápido na Argentina, e seguramente é dos representantes internacionais da extrema direita que mais realizou ataques tão rapidamente. A inflação e a perda de compra dos salários explodiu em um mês de governo, ampliando os problemas graves de fome e miséria que já vinham desde o governo de Alberto Fernandez.

Milei e Bolsonaro guardam semelhanças e diferenças, mas a importância do combate é a mesma. Se o combate na Argentina contra Milei vence, se fortalece a luta contra a extrema direita no Brasil e em todo mundo, e o contrário também é verdadeiro. Num cenário internacional onde Trump aparece bem colocado nas eleições norte-americanas e a extrema direita está em diversos governos internacionalmente, é ainda mais crucial este combate. Ainda mais sendo nosso país vizinho, que tem um impacto direto no Brasil de diversos pontos de vista.

A ministra da segurança, Patricia Bullrich, lançou um “protocolo” anti manifestações e o governo lançou uma ampla intimidação contra todos que saiam às ruas e ameaçou os piqueteiros que recebem ajuda estatal que perderiam seus direitos. Como parte da tentativa de intimidar a esquerda, o parlamentar de extrema direita Espert, antes dos atos de 20 de dezembro, ameaçou Myriam Bregman, deputada federal do PTS e ex candidata à presidente, principal figura da esquerda argentina. Espert disse nas redes sociais explicitamente “Prisão ou bala” para Myriam, o que gerou um forte repúdio em todo o país.

Mas a resistência também começou muito rápido, com a esquerda argentina mostrando o caminho de como enfrentar a extrema direita e seus ataques, chamando nos primeiros dias de governo um ato no dia 20 de dezembro, se negando a aceitar a repressão autoritária que quer impedir o protesto social. O PTS, a Frente de Esquerda e dos Trabalhadores - Unidade (FIT-U) e alguns movimentos sociais chamaram a sair às ruas, enquanto o conjunto do peronismo chamou a ficar em casa.

O PTS teve uma participação com um peso importante nessas manifestações do 20 de dezembro, como se expressou na imprensa burguesa, enfrentando as barreiras policiais que queriam impedir a manifestação, com o deputado federal Nicolás Del Caño à frente.

Esse papel de vanguarda da esquerda foi crucial para encorajar a que no mesmo dia 20 de noite amplos setores populares saíssem às ruas com panelaços, o que foi uma mobilização espontânea, especialmente de uma base votante da FIT-U, além de setores da base do peronismo que não aceitaram o chamado de suas referências a não protestar e “ter calma”. Nessa noite, foram retomados diversos cantos do histórico 20 de dezembro de 2001, momento em que havia uma forte crise econômica na Argentina e foram derrubados 5 presidentes em 15 dias. “Que se vayan todos” ecoou novamente em manifestações, assim como também muitos cantos de exigência à CGT de convocar uma paralisação nacional.

Essas ações da esquerda e espontâneas do progressismo foram um fator de pressão por baixo para que as burocracias sindicais fossem obrigadas a se mover. Chamaram uma manifestação ainda antes do fim do ano, controlada, nas portas do judiciário, mas que concentrou dezenas de milhares de pessoas. A pressão social fez com que depois disso a CGT chamasse um dia de paralisação nacional (o que no Brasil chamamos de greve geral) que vai acontecer dia 24 de janeiro.

O ex-candidato presidencial do peronismo, Sergio Massa, (que foi apoiado por parte da esquerda brasileira nas eleições) se reuniu com a cúpula da CGT para dizer que era apressado chamar uma paralisação para o dia 24. Na mesma linha, Cristina Kirchner disse que era necessário esperar o efeito do ajuste ser sentido e que era apressada a paralisação. Ou seja, diretamente defende que se amplie a miséria sem resistência. Não estranha essa postura. O peronismo chamou a “derrotar o fascismo” nas urnas e agora quer impedir a resistência nas ruas e está sendo ponto de apoio para Milei em diversos âmbitos. Por exemplo, Daniel Scioli, ex candidato presidencial do peronismo em 2015 e que era embaixador no Brasil de Alberto Fernandez, continuou agora sendo embaixador do Milei. O peronismo já está pensando nas eleições de 2027, em como capitalizar novamente eleitoralmente o desgaste de Milei pelos ataques, mas não em como impulsionar qualquer tipo de resistência para que não ocorram.

É por isso também que as figuras políticas que estão emergindo no enfrentamento com Milei e seus ataques são os parlamentares do PTS, fortalecendo também a partir deste terreno a luta extra-parlamentar, e a FIT-U como referência. São os que verdadeiramente combatem Milei e a extrema direita, em todos os terrenos. Cada intervenção dos parlamentares do PTS nas comissões que estão analisando os ataques do governo estão tendo ampla repercussão em toda a imprensa oficial e desmascarando cada ataque do governo. É possível ver traduzido neste vídeo do novo deputado federal eleito e dirigente do PTS Christian Castillo uma das intervenções, e diversos outros videos podem ser vistos nas páginas de Myriam Bregman, Nicolás Del Caño, do gari indígena Alejandro Vilca do PTS.

Essa projeção dos parlamentares do PTS à frente das lutas já vinha sendo uma marca na esquerda argentina. Nas recentes eleições isso se consolidou com a projeção de Myriam Bregman como candidata à presidente, que deu um salto em seu alcance com a participação nos debates televisivos presidenciais, onde se destacou no combate contra Milei, popularizando a denúncia da relação dele com os capitalistas, como quando disse que era um “gatinho mimado do poder econômico”, ao mesmo tempo que se diferenciava de Sergio Massa e sua política.

Neste marco, o La Izquierda Diario da Argentina alcançou neste período 10 milhões de reproduções de vídeos nas redes sociais, dando um salto como referência das lutas e organizando corresponsáveis nos mais diversos locais de trabalho, estudo e nos atos de rua. Neste artigo intitulado Como está o PTS para a nota etapa na Argentina?, desenvolvemos como nos preparamos como Fração Trotskista, com este partido irmão do MRT.

O que a Argentina está trazendo de mais importante é o combate à extrema direita no terreno da luta de classes, que é o que pode efetivamente trazer vitórias e debilitar a extrema direita, e não a política permanente institucional e de conciliação (como a levada adiante pelo peronismo ou pelo PT no Brasil) que, ao contrário, é impotente para barrar os ataques e a fortalece. A paralisação do dia 24 tende a ser forte. A esquerda argentina está batalhando para construí-la a partir das bases, com auto-organização, atuando nos locais de trabalho e em diversos panelaços, assembleias populares, movimentos culturais e outras ações que surgiram no último período. A luta é para derrubar o DNU, a Lei Omnibus e impor um programa operário de saída para a crise. E haverá uma grande disputa depois do dia 24 da estratégia a seguir, se o pedido de “calma” do peronismo e esperar novas eleições ou aprofundar a resposta no terreno da luta de classes.

Por isso, é fundamental somar todos os esforços no apoio à luta da classe trabalhadora e do povo pobre e oprimido argentino para que triunfem. Nesse sentido, está sendo organizada uma jornada internacional de atos em diversas embaixadas da Argentina, já confirmadas em países como França (onde será apoiada por centrais sindicais), Estado Espanhol, EUA, Alemanha, Uruguai, Alemanha, Bolívia e outros. No Brasil também estão sendo articulados atos em São Paulo e no Rio de Janeiro, que é importante que se ampliem ao máximo, com a mais ampla frente única contra Milei e seus ataques.

Participe dos atos, siga o processo de luta na Argentina pelo Esquerda Diário e apoie ativamente essa grande batalha, trazendo para o Brasil os ares de combate à extrema direita no terreno da luta de classes.




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