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NOVA DIREITA | A Joven Pan, Reinaldo de Azevedo e a crise de representatividade

terça-feira 18 de agosto de 2015 | 00:00

Na última semana, quando a maioria da grande mídia se somou ao pacto pela governabilidade e em apoio a “agenda positiva de Renan”, tratando de colocar panos quentes na situação, a rede Joven Pan foi a voz dissonante. Com seu trio de comentaristas – Rachel Sheherazade, Marco Antonio Villa e Reinaldo de Azevedo, mantiveram o tom beligerante e convocaram ostensivamente o ato deste dia 16.

Seu sucesso de audiência está justamente nesta postura “combativa”, voltada direta e sistematicamente contra o PT. Avança sobre um espaço político que o PSDB e a direita tradicional não conseguem ocupar, com sua postura de oposição responsável. Através de uma verborragia populista, usa o PT como espantalho para combater o conjunto das ideias da esquerda.

Dos três, o mais lucido, Reinaldo de Azevedo, constrói seu discurso em dois eixos ideológicos principais. Não esconde seu passado de jovem militante em uma corrente trotskista da década de setenta, a Libelu, pelo contrário, o utiliza para aparecer como alguém que conhece de dentro o que está criticando. E no seu cinismo, ele apresenta o PT como uma espécie de bolchevismo de fanfarra, uma palhaçada, mas que de alguma forma representaria os ideais da esquerda. Posto tudo no mesmo saco, “das esquerdas” em geral, a falência do PT – que de esquerda se transformou em partido da ordem – é falsamente apresentada com a falência de toda a esquerda. Os privilégios e a roubalheira do PT, são apresentados não como resultado da sua integração total ao regime capitalista, e sim como decorrentes de uma suposta herança “totalitária socialista”.

Em oposição a esses ideais corrompidos “do PT e das esquerdas”, oferece uma colagem de valores morais, que representa todos os preconceitos e concepções dos setores mais conservadores das classes médias. Assim, no ato deste domingo, estariam os brasileiros reais, as famílias que constroem o país e pagam os impostos, uma realidade que o PT e as esquerdas seriam incapazes de compreender. Uma reedição, para o século XXI, dos valores da “Marcha com Deus e a Família pela propriedade”. Tudo encoberto por um discurso apartidário tão cínico como o resto.

Contra essa direita “dura”, é necessária uma esquerda que não esconda suas ideias revolucionarias

As manifestações contra a Dilma e o surgimento de uma nova direita, como os grupos que organizam as marchas e que encontram porta vozes em mídias como a Joven Pan ou a Veja, estão despontando como alternativa para setores das classes medias tradicionais, que votaram majoritariamente no PSDB nas últimas eleições. Conseguem manter até ampliar sua base social neste setor, por que seu discurso raivoso contra o PT encontra eco em setores sociais mais amplos.

Cada vez mais camadas de trabalhadores e jovens também estão fartos deste governo petista. Para se colocar como alternativa para amplos setores de massas e disputar a hegemonia sobre as classes medias combatendo direita, é preciso uma esquerda revolucionaria irreconciliável com o PT. Que denuncie todos os privilégios da casta política e suas alianças com as cúpulas empresariais e financeiras, assim como os privilégios das burocracias sindicais. Como aponte como única alternativa ao governo Dilma e a esse regime em crise, a organização dos trabalhadores e do povo, de forma independente e baseados na mais ampla democracia de base.

Os movimentos sociais e as organizações e setores de esquerda que vão ao ato do dia 20 e misturam suas bandeiras com as do petismo, num ato em defesa do governo, cometem um erro grave. Defender uma “saída a esquerda para a crise” de braços dados com os próprios governistas, como faz Guilherme Boulos do MTST, só facilita o trabalho ideológico dos Reinaldo de Azevedo.




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