Os Agentes de Organização Escolar do estado de São Paulo fizeram neste dia 18 paralisações exigindo não somente o direito ao abono que o estado está prometendo conceder aos outros educadores, mas também o reconhecimento de sua função como parte essencial da educação e também o reajuste salarial, aumento do V.A., entre outras importantes demandas, como relata a agente Andreia Assunção, de São Roque, em depoimento ao Esquerda Diário: “Não é só pelo abono, é por todas as outras coisas que ao longo de muitos anos vem acontecendo, o nosso não reconhecimento, o nosso salário que é vergonhoso...”

Os abonos ainda estão aguardando aprovação da Alesp, e não suprem todo o déficit da categoria, pois são um "bônus" que somente o quadro de magistério vai receber, diante do fato de que a categoria de educadores no geral vive com salários há anos defasados, sem reajuste e com direitos cada vez mais atacados.

Daniel, da Escola Miguel Arraes, também desabafa: “Estamos aqui lutando pelos nossos direitos porque nós sempre fomos esquecidos pelo Estado”. Outra trabalhadora se indigna com o fato de que os agentes tiveram que trabalhar durante toda a pandemia, sem direito a teletrabalho ou licença remunerada, e mesmo assim são tratados pelo governo com esse descaso: “Durante a pandemia nós éramos funcionários da educação essenciais, estivemos presentes nas escolas todos os dias. Agora, no abono, aí deixamos de ser funcionários da educação essenciais?”.

Sem esses trabalhadores, a vida escolar torna-se impossível, já que são parte fundamental do funcionamento da escola. “Nós ficamos no portão sob sol e chuva, nós fazemos de tudo numa escola, somos psicólogos dos alunos, apartamos as brigas, nós consolamos os alunos quando têm problemas em casa e vêm chorando... Então nada mais justo que nós tenhamos o mesmo direito de um educador, porque afinal de contas também somos educadores”, relata outra agente escolar que trabalha há 8 anos neste posto.

“A gente está lutando não é só pelo abono, o abono foi a gota d’água que transbordou o copo”, relata outra trabalhadora. “A gente quer valorização, nosso salário está defasado há anos, vale refeição de 12 reais, a gente quer ser valorizado, ser reconhecido como povo da educação. A gente também é da educação. A escola não anda sem o agente, sem a merendeira, sem a tia da limpeza…”

O AFUSE, sindicato que representa os agentes (dirigido pela CUT), tentou desmobilizar a categoria, mas os próprios trabalhadores se organizaram por grupos de whats app e mostraram sua força em um forte ato em frente a Secretária de Educação Estadual na capital de São Paulo e também em muitas outras cidades do estado, como relata essa mesma trabalhadora relata: “Nós criamos grupos no whats app, no face, no telegram, chamando todos os agentes para estarem aqui hoje, para fazerem a paralisação nas suas escolas”.

Com o intuito de dividir os educadores, Doria tentou manobrá-los declarando que, caso o PLC 26 seja aprovado - projeto que implementaria a nova reforma administrativa contra os servidores e os serviços públicos - os agentes escolares poderiam receber o abono, pois passariam a integrar o quadro de magistério. Mas os trabalhadores não cairam nessa armadilha, pois mesmo com a aprovação desse projeto, para serem reconhecidos teriam que fazer algum curso de especialisação, como relata Anderson, agente de uma escola no Jardim Peri: “Agora colocaram a PL 26, onde colocam que todo agente escolar terá que fazer a faculdade ou curso técnico pra poder se enquadar e ter uma progressão maior dentro disso, sendo que quando a gente fez o concurso público era só ensino médio.”

Ilda, da norte 1, também comenta essa chantagem absurda do PLC 26: “Só queremos ser valorizados, nós não precisamos fazer uma faculdade para conseguir aumento (...). Agora querem atrelar o nosso aumento a uma PL 26, nós somos obrigados a fazer uma faculdade para ter um aumento. Em nenhum dos cargos maiores do país, governador, prefeito, presidente, ninguém precisa fazer faculdade para ter aumento abusivo que eles têm.”

Veja mais: Respondendo Rossieli, agentes escolares do estado não caem em manobra e rejeitam PLC 26

A professora Marcella Campos da rede estadual de São Paulo e do Esquerda Diario esteve presente no ato em solidariedade aos trabalhadores e exigiu dos sindicatos de professores que apóiem e unifiquem a luta: “Por que até agora a APEOESP não soltou uma linha em apoio a vocês? A gente tem que lutar junto, a gente é uma só categoria: educadores. AFUSE, APEOESP, SINDSEP, todos eles estão agora organizando as nossas categorias em separado, por que isso? (...) A gente é educador. E sabe por que a gente tem que lutar junto? Porque Bolsonaro, Doria, Guedes, congresso, Ricardo Nunes estão todos juntos contra a gente!".

Nós do Esquerda Diário nos solidarizamos com a luta dos agentes e organização escolar e colocamos nossa mídia à disposição desses trabalhadores. É só a força da nossa classe organizada e unificada que pode vencer os ataques dos patrões e governos, e fazer om que sejam os capitalistas que paguem pela crise.