A dificuldade em visualizar como seria possível uma organização verdadeiramente democrática da luta nacional contra os cortes na educação, Bolsonaro e os demais ataques se conecta com o fato de que tanto a direção majoritária da UNE (UJS, Juventudes do PT e Levante Popular da Juventude), quanto infelizmente a Oposição de Esquerda (Correnteza, Juntos, Afronte, UJC) tem uma atuação que vai na contramão de uma auto-organização democrática, isso ficou demonstrado com as assembleias-live implementadas pela UJS na UFF e em todo o país, o principal entrave para a auto-organização dos estudantes. Mas tragicamente também pela Oposição de Esquerda na UNIFESP, sem direito a voz e voto para os estudantes, e agravado na última terça-feira, quando a página do instagram Povo na Rua - Fora Bolsonaro, com a UP (Correnteza) e o MES-PSOL (Juntos) junto ao Glauber Braga convocaram uma assembleia na qual era impossível falar. No mesmo dia, a diretoria da UNE, eleita há dois anos, decidiu que a conclusão natural do 29M não é organizar a luta desde as bases democraticamente, levando os próprios estudantes a serem sujeitos da luta, mas definir datas para um congresso extraordinário e que o próximo dia de manifestações é o dia 19 de junho, um sábado. Não é tempo de atos rotineiros aos sábados, é tempo de parar todas as universidades e institutos federais para impedir sua precarização ainda maior.

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A maior unidade possível entre estudantes e trabalhadores é mais do que essencial para que possamos enfrentar os cortes nos institutos e universidades federais que são parte de um plano de ataques no qual Bolsonaro, Mourão, os militares, o STF e o Congresso Nacional estão unificados. Isso inclui a Reforma Administrativa, a demissão em massa sem acordo coletivo, a destruição da Amazônia e os ataques de garimpeiros aos Yanomamis, demissões e a privatização da Eletrobrás e dos Correios.

Viemos defendendo a existência de assembleias de base, com direito a voz e voto para os estudantes, em cada universidade e curso para definir com qual conteúdo os estudantes vão lutar e como, unificando nossa luta nacionalmente. Isso é essencial para que os estudantes possam tomar a luta nas próprias mãos. Muitos DCEs e entidades estudantis se recusaram a promover estes espaços de auto-organização, ou garantiram falas longuíssimas para representantes da UNE e para as Reitorias, mas não para os estudantes. A existência de assembleias permite com que os estudantes troquem opiniões e posições e votem democraticamente os encaminhamentos, como fizeram os estudantes da UFMG por exemplo, garantindo o direito de levar a defesa de “Unir estudantes e trabalhadores dia 29 por Fora Bolsonaro e Mourão” por exemplo.

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Agora, após o 29M, depois de toda força que demonstramos nas ruas, vemos a decisão dos rumos da mobilização ser arrancada das nossas mãos. Por um lado, a Diretoria da UNE se reúne e define que a próxima data de manifestação é o dia 19 de Junho, pleno sábado, sem nem sombra da convocação massiva de assembleias de base que possam servir de fato para organizar os estudantes, por outro lado a Unidade Popular e o MES-PSOL realizam live que chamam demagogicamente de assembleia sem permitir nem mesmo o acesso ao Zoom para aqueles que já tinham informado querer fazer uso da fala.

Defendemos as entidades estudantis como ferramentas de luta e organização dos estudantes, o movimento estudantil que apesar da atomização e ataques impostos pelo Ensino Remoto busca se reerguer, não é possível que seja essa Diretoria defina os rumos da mobilização. A UNE é uma entidade nacional de importância histórica, precisaria ser a primeira a defender que se formasse um Comando Nacional de Delegados de Base. Cada assembleia estudantil poderia votar delegados na proporção de 1 a cada 40 ou 50 estudantes, por exemplo, responsáveis por levar para as reuniões de Comando Nacional as deliberações de cada assembleia e defender seu conteúdo. Estes delegados precisam ser revogáveis, como garantia de que as posições votadas em assembleia se expressem no comando nacional. O direito de definir o conteúdo e os rumos da mobilização são uma questão política de primeira importância. Isso sim permitiria uma experiência política profunda e acelerada para preparar grandes combates.

A convocação do Congresso Extraordinário da UNE indica uma renovação dos nomes da sua diretoria, para uma gestão provisória e curiosamente (ou não) não possui uma palavra sequer sobre eleição de delegados, anunciando um congresso formal, no qual a força dos estudantes que despertam para a necessidade de um movimento estudantil combativo e ligado aos trabalhadores, que ingressaram em meio à pandemia e odeiam Bolsonaro, Mourão, os militares e cada instituição deste regime apodrecido possam fazer pesar suas posições para batalhar por elas. Como é possível se contentar uma troca formal entre as figuras anteriores e novas das correntes que não inclua revolucionar a entidade para que esta esteja à altura dos desafios colocados, com os ventos da luta de classes internacional batendo às nossas portas? A UJS quer impor este congresso que vá na contramão de organizar os estudantes de fato desde as bases e frente a isso, chamamos a Oposição de Esquerda a se somar conosco na batalha por assembleias de base em cada universidade e por um comando nacional de delegados e que este seja o caminho que construa um congresso extraordinário com razão de ser, que revolucione o movimento estudantil.

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O conteúdo político das correntes que compõe a Diretoria da UNE explica a lógica ordeira, para que nada saia do controle rumo às eleições de 2022. O “não podemos esperar 2022” se transforma em mera frase de efeito para encobrir sua política, que para todas sem exceção termina em “Impeachment JÁ!”, apostando a confiança da juventude em que Mourão é um suposto mal menor e buscando disfarçar uma saída institucional que só poderia se dar em 2022.

A UJS, juventude do PCdoB e maior corrente da entidade, está em negociação com ninguém menos que o PSB para superar a cláusula de barreira, partido de Paulo Câmara, governador de Pernambuco cuja repressão cegou dois trabalhadores no 29M em Recife. O PT, enquanto Lula perdoa golpistas e anuncia a abertura para privatizações, buscam se cobrir pela esquerda com figuras como a deputada federal Natália Bonavides, novamente com o Impeachment. Estas duas organizações dirigem a CUT e a CTB respectivamente, tendo convocado um dia de luta separado no dia 26, precisamos exigir que organizem as bases de trabalhadores para estarem conosco nas ruas no dia 19.

Já a Oposição de Esquerda, além de votar contra esta exigência em todas as assembleias que propusemos, como no CACH-UNICAMP, com o Afronte e o Juntos, e na Ciências Sociais da UFRN, com a Correnteza, por trás de um discurso combativo caem na mesmíssima política, majoritariamente votando contra também a menção de Mourão nos blocos dos cursos. Esta política está à serviço de desgastar Bolsonaro, aumentar a confiança na CPI, colocando a diretamente nas suas faixas como faz o Afronte e preparar a corrida eleitoral de 2022 com Lula diretamente no primeiro, ou definitivamente no segundo turno, enquanto os ataques seguem sendo aprovados hoje e novamente, os que fizeram o golpe em 2016, perdoados por Lula. Chamamos a Oposição de Esquerda a romper com esta política que só serve às correntes majoritárias que querem o movimento estudantil passivizado, não podemos permitir isso.

Precisamos de um movimento estudantil combativo e disruptivo, que queira se ligar profundamente à classe trabalhadora para desafiar o poder junto à ela. Não resgatamos Maio de 68 à toa, sabemos que o capitalismo e seus governos não tem nada a nos oferecer, como dizia a Geração Z estadounidense “somos a geração que vai fazer a revolução” e por isso convidamos todes nossos leitores a compartilhar a batalha por um movimento estudantil profundamente anti-burocrático e democrático conosco, por assembleias de base e um comando nacional de delegados imediatamente.

Vem pras atividades estaduias da Faísca!