Foto: YAMIL LAGE / AFP

As manifestações surgiram contra os ajustes antioperários e antipopulares da burocracia stalinista do Partido Comunista Cubano (lembrando que a ilha vive em um regime de partido único), encabeçada hoje por Miguel Díaz-Canel e são realizadas enquanto Cuba atravessa o pior momento da pandemia, com denúncias de centros de saúde colapsados, falta de medicamentos e outros produtos de primeira necessidade.

Em meio às legitimas manifestações, consignas como "Pátria e Vida” ou “Liberdade” foram impulsionadas por setores de direita que são funcionais a uma política de maior abertura econômica e reformas pró-mercado, ou seja, de mais ataques à condição de vida da população. Esses setores só cumprem um papel: atuam como agentes diretos dos interesses imperialistas que querem a queda do governo para varrer as conquistas que restam da revolução.

O próprio presidente norte-americano, Joe Biden, já está se aproveitando da situação dizendo que os protestos são “um chamado à liberdade”. Ou seja, a direita e o imperialismo gritam em vão pela liberdade e proclamam a mentira de que a resolução dos problemas virá do capitalismo, que é o sistema falido que criou toda a crise.

O governo cubano, por sua vez, utilizou essa instrumentalização política que a direita faz para justificar a repressão e um discurso que criminaliza os protestos, sem dar qualquer resposta às demandas de milhões de cubanos. A resposta foram prisões e repressão contra os que se manifestaram, independente das suas bandeiras, buscando silenciar o descontentamento.

Diante desses fatos, é nítido que a burocracia do Partido Comunista Cubano é impotente para fazer frente às ameaças de Biden, Bolsonaro e toda a direita regional. Defende seus próprios privilégios de casta, buscando assegurar que numa eventual restauração completa do capitalismo na ilha.

Temos que defender todas as liberdades democráticas contra a opressão política do regime cubano: a liberdade de reunião, de manifestação, de imprensa, o direito de livre associação e toda forma de organização dos trabalhadores (como comitês de fábrica ou de locais de trabalho), assim como a liberdade aos que foram presos por defender as conquistas sociais da Revolução.

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Uma saída profunda, que garanta um combate efetivo à pandemia e atenda reivindicações básicas como luz e comida, só é possível mediante uma nova intervenção revolucionária das massas, política e social, que freie o curso restauracionista, derrube a burocracia castrista e acabe com seu regime de partido único que, conquistando a liberdade política para todos os partidos que defendem as conquistas de 1959. Sobre essa base é preciso impor um verdadeiro governo operário e popular baseado na auto-organização das massas e na democracia operária, onde haja plena liberdade de organização sindical e em que os trabalhadores urbanos e rurais possam planificar democraticamente a economia, revogando todas as concessões que o PC Cubano fez aos capitalistas. Uma dinâmica semelhante deveria expandir-se internacionalmente para que não caia novamente no beco sem saída do stalinismo e sua concepção utópica do socialismo num só país.