No momento em que se inicia a campanha salarial dos bancários a nível nacional, o Banco do Brasil faz uma proposta que se apresenta como um escárnio para seus funcionários: reajustar o salário da atual presidente em 57%, índice sem dúvida muito acima do que será oferecido para os funcionários nas mesas de negociação.

A proposta que foi rejeitada na assembleia de acionistas nesta sexta (26/4), com certeza preocupados unicamente com a imagem que isso poderia passar parar o mercado, elevaria o salário de Tarciana Medeiros para R$ 117 mil, que se somados às outras remunerações que ela recebe, chegaria a 4 milhões de reais por ano. A vice-presidente teria um aumento de 34,4% e os diretores, de 21,7%. A título de comparação, os bancários tiveram reajuste de 4,6% em 2023.

O BB justifica a proposta citando o lucro recorde atingido pelo banco em 2023, que foi de mais de R$ 35 bilhões. Este lucro foi construído através das taxas de juros altíssimas cobradas dos trabalhadores, chegando a passar de 5% ao mês, e maior pressão sobre os bancários, com metas praticamente inatingíveis e assédio das chefias, e de uma política que busca aumentar o peso das remunerações variáveis entre a remuneração total dos trabalhadores. Assim, o banco tentou acabar com a função de caixa, diminuiu as gratificações de função em 2020, e criou o Programa de Desempenho Gratificado (PDG), que dá bônus semestrais para apenas 40% dos funcionários de acordo com ranking, o que serve para aumentar a competição entre os trabalhadores e como mais uma pressão para aumentar as vendas.

Foi citada ainda a diferença da remuneração que a presidente do BB recebe em comparação com os de bancos privados, onde o presidente do Itaú recebeu R$ 53 milhões em 2021. Ora, esses números só mostram como os salários e benefícios pagos aos trabalhadores bancários, que geram estes resultados, poderiam ser muito melhores do que são hoje.

Em grupos de Whatsapp e redes sociais internas, muitos trabalhadores expressavam sua irritação com a decisão do banco, comentavam as dificuldades que apareciam para sustentar a família com o salário de escriturário e reclamavam dos acordos coletivos aceitos pelos sindicatos.

A política de Lula para o BB espelha a política da Frente Ampla, que mantém os ataques implementados durante a gestão de Bolsonaro e oferece reajuste zero para os servidores federais, se enfrentando agora com uma forte greve de trabalhadores, docentes e estudantes das universidades federais. E assim como foi feito na Petrobras, a direção do BB indicada pelo governo Lula também aumentou o percentual de dividendos distribuídos aos acionistas, chegando a 45% do total de lucros neste ano.

Os sindicatos de bancários são um pilar fundamental da burocracia cutista em todo o Brasil. A Contraf irá aceitar de braços cruzados essa provocação do BB, para manter sua política de passividade com o governo e os banqueiros?

Mesmo tendo sido rejeitada, essa proposta tem que servir de combustível para que se organize uma verdadeira luta dos bancários em defesa de suas remunerações e de sua saúde física e mental, contra o assédio moral das chefias que nos levam ao burnout e a DORT, contra as demissões no Bradesco, a terceirização no Itaú e nos outros bancos, que só servem para aumentar os bônus dos acionistas. Exigimos que os sindicatos organizem e construam assembléias para levar a frente essa luta, ao contrário de apenas fazer um teatrinho com a Fenaban!