Temer ligou ainda ontem para Moraes, logo após sua declaração que foi feita em uma atividade de campanha eleitoral em Ribeirão Preto, para discutir sobre sua “bola fora” e marcar uma reunião com o ministro. A reunião deveria ter acontecido na tarde dessa segunda, mas foi remarcada para terça, 27, pois Moraes não estava em Brasília. Porém, segundo a agenda do ministro, não consta nenhuma reunião com Temer para terça.

De acordo com interlocutores do presidente, "pegou muito mal" a declaração de Moraes por diversas razões e por isso Temer o convocou para essa reunião. A negativa para a reunião também não foi vista com bons olhos pelo Planalto. Interlocutores do presidente confirmaram que a conversa ficou para amanhã.

Além de trazer para "o colo do governo" um suposto vazamento de operação, a fala de Moraes amplia a crise de comunicação já existente, que motiva inclusive Temer a tentar "importar" reforços do MBL e outros movimentos da direita. Na conversa, Temer quer pedir mais cuidado, cobrar explicações e também alertar o ministro que é preciso ter cautela em participação em campanhas eleitorais. "Ele falar demais em campanha é outro fator complicador e o presidente fará recomendações neste sentido", disse uma fonte. Não faltam especulações que Temer gostaria de demitir Moraes, mas isso implica em outras contradições, com o tucanato, que trataremos mais abaixo.

O fato de envolver a Lava Jato, segundo interlocutores, deixa Temer em uma situação delicada já que o governo tem sido acusado de usar politicamente a Operação. "Isso desagradou ainda mais o presidente", disse um interlocutor.

Crise com o judiciário

A fala de Moraes atinge a imagem de imparcialidade e sacralidade da Lava Jato. Do alto do pedestal vitorioso do tucanato, que está relativamente bem na campanha eleitoral, e conseguindo pressionar Temer a contento, Moraes falou o que não podia falar. Evidente que o tucanato tem conhecimento de diversas operações de antemão, tal como tem a mídia que "prevê" movimentos, não só para estar a postos e filmar mas em matérias, editoriais.

Essa imagem somada a crescente visão da parcialidade da operação deve redundar em maior rigor, mesmo que seja só para "mostrar serviço", contra o PMDB e, quem sabe até mesmo o PSDB o que implicará em maiores riscos para Temer. Daí que para aplacar futuras "iras" do judiciário talvez fosse útil a Temer se livrar de Moraes. Avaliamos nesse outro artigo as complicações e possíveis consequências do dia de hoje quanto ao poder judiciário e à Lava Jato.

A difícil relação com o tucanato, aliado e adversário de primeira hora

Para entrar no governo o tucanato demandou uma série de medidas e ainda a promessa de não tentativa de reeleição por parte de Temer. No dia votação do impeachment no Senado, o líder tucano naquela casa, Cássio Cunha Lima e o líder do governo o também tucano Aloysio Nunes ameaçaram romper com o governo devido a votação de parte do PMDB em não punir Dilma ("não dar um coice em quem já foi derrubado, nos dizeres de Renan). Depois disso, contida a onda de ruptura foi a vez de Aécio levantar o tom, se a reforma da previdência não for entregue essa semana reavaliará a relação com o governo Temer.

No encaixe difícil de um governo pressionado pela Lava Jato e as intermináveis citações de PMDBistas envolvidos, entre o tucanato, a mídia e empresário demandando ataques já, e, por outro lado, crescente descrédito popular de seu governo, Temer tem uma encruzilhada quando se trata de mexer em algum tucano. Estaria ele precipitando a ruptura de alguma ala com seu governo? E se isso ganhar força pode ele sobreviver, ou o PSDB com sua maior influência e relação com os partidos da mídia e judiciário podem acelerar seu desfecho? Por outro lado nada fazer também terá seus custos perante a opinião pública e com o próprio judiciário.

O relacionamento entre o governo golpista, seus ministros corruptos e a nada neutra Lava-Jato

Alexandre de Moraes é o quarto ministro desde que se aprovou a abertura do processo de impeachment no Senado em maio que protagonizou polêmicas ligadas ao governo e à operação. Os outros três se afastaram do cargo assim que que os escândalos vieram à tona.

O primeiro e mais emblemático foi o senador Romero Jucá, investigado na operação e que pediu exoneração após o vazamento de áudios em que sugeria um “pacto” contra a operação, que incluía o avanço do golpe institucional. Os outros dois foram então ministro da Transparência, Fabiano Silveira, que deixou o cargo em maio após a revelação de uma conversa na qual ele criticava a condução das investigações da Lava Jato pelo Ministério Público Federal; e Henrique Alves, ex-ministro do Turismo, investigado na Lava Jato e citado em delação premiada, que pediu exoneração após receber a informação de que investigadores haviam descoberto uma conta secreta dele na Suíça.

Será que agora, que se escancara cada vez mais a não neutralidade do Judiciário, como diversas vezes denunciamos aqui, Temer vai procurar dar uma cara imparcial ao seu governo golpista e usará Moraes como exemplo, afastando o ministro que não possui travas na língua? Ou o presidente golpista continuará com sua linha de blindar seus aliados e defenderá o ministro da Justiça para manter até o fim a defesa de que o governo não possui acesso às informação da Lava Jato e a mesma não está sendo utilizada politicamente em prol do governo golpista?

Nesses últimos dois dias já assistimos ao spoiler de Alexandre de Moraes e mais um episódio com muita convicção de prisão de petistas, enquanto os tucanos e a direita, mesmo com provas e nomes citados na mesma lista da Odebrecht que leva à prisão de Palocci, seguem livres e impunes. Sobram interesses de acertar o PT, para isso cresce a necessidade da Lava Jato recuperar sua aura de imparcialidade, o que exigirá denúncias mais generalizantes do que as atuais, todas focadas no PT. Aguardemos agora as cenas dos próximos capítulos de uma crise nacional que não se fechou com o impeachment.