Um forte aumento nos preços dos combustíveis em Bangladesh provocou protestos em todo o país. O aumento, que segundo a mídia do país é "o mais alto da história", elevou os preços da gasolina e do diesel em mais de 50%. Bangladesh é outro vizinho da Índia, depois do Sri Lanka, que vive um movimento de protesto contra a precarização e a alta do custo de vida. Manifestantes cercaram postos de combustíveis exigindo que o aumento de preços fosse revertido.

Antiga colônia britânica e que conquistou a independência do Paquistão na década de 70, Bangladesh vêm de uma série de lutas operárias como as greves de 2018-2019, os protestos contra a islamofobia, pelos direitos das mulheres e denunciando a péssima administração da pandemia pelo governo em 2020, e uma série de protestos estudantis em 2021 diante da visita do reacionário e racista primeiro-ministro indiano, Narendra Modi. Revoltas que historicamente se enfrentam com uma repressão violenta, torturadora e assassina por parte da polícia, das forças armadas e até mesmo de “esquadrões da morte oficiais” treinados pelo governo britânico, como revelou o WikiLeaks há alguns anos.

O aumento nos combustíveis, estopim dos protestos atuais, foi anunciado pelo governo social-democrata ajustador de Sheikh Hasina na sexta-feira. O preço do diesel foi aumentado em 34 Taka (moeda local) por litro e a gasolina em 44 Taka por litro. Vários meios de comunicação de Bangladesh disseram que esse aumento de 51,7% no preço do combustível é o mais alto desde que o país conquistou a independência.

Vários vídeos surgiram nas mídias sociais mostrando longas filas em postos de combustível tarde da noite para encher seus tanques. A economia do país do sul da Ásia tem sido uma das que mais cresce no mundo há anos, este ano até agora crescendo 7,2% PIB/ano com o crescimento da atividade industrial, influenciada pelos baixos salários da região do indo-pacífico, que vem substituindo a China como principal eixo produtivo do capitalismo global.

No entanto, o aumento dos preços de energia e alimentos inflacionou sua conta de importação, levando o governo a buscar empréstimos de agências de crédito globais, incluindo o Fundo Monetário Internacional. Várias marchas em protesto foram realizadas contra a decisão do governo. Destaca-se nessa luta também o papel da juventude e do movimento estudantil bengali, que organizou protestos do lado de fora do Museu Nacional na capital Daca.

"As pessoas comuns já estão lutando para lidar com o aumento do custo de vida. O roubo da propriedade pública por parte do governo e a má gestão levaram as pessoas a esse sofrimento", disse um dos manifestantes pelo Dhaka Tribune. As operadoras de ônibus aumentaram o preço após o anúncio do governo, que foi rejeitado por grupos como o Bangladesh Jatri Kalyan Samity (BJKS), um movimento social de usuários de transporte público. A taxa de inflação de Bangladesh ultrapassou 6% por nove meses consecutivos, com a inflação anual em julho atingindo 7,48% e pressionando as famílias pobres e de renda média que têm dificuldades em suas despesas diárias.

Os novos protestos fazem parte de um fenômeno global de crise e alta inflação que está causando greves de trabalhadores por aumentos salariais em países europeus e nos EUA, e rebeliões e revoltas naquelas regiões que dependem mais diretamente de insumos básicos como trigo e combustíveis, afetados pela crise e pelas consequências econômicas da guerra na Ucrânia, com um impacto direto na população. Após a crise política e econômica que (ainda continua) no Sri Lanka, Bangladesh vive uma situação muito semelhante a essa série de protestos e rebeliões que começam a ser vistas em diferentes latitudes e países tão diferentes quanto Equador, Panamá ou Irã.