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Crise capitalista | No governo Bolsonaro, a inflação acumulada até setembro nos alimentos é a maior desde 1994

Bolsonaro diz que a economia está “decolando” e o eleitoreiro Auxílio Brasil não deixa ninguém passando fome. Mas os dados do IBGE apontam que o índice de inflação de janeiro a setembro (9,54%) é o maior desde a hiperinflação anterior ao Plano Real. O Auxílio Brasil só compra a cesta básica em 5 capitais

Rosa Linh Estudante de Relações Internacionais na UnB

quarta-feira 19 de outubro de 2022 | Edição do dia

Segundo consulta da Folha, essa é a maior alta para os nove primeiros meses do calendário em 28 anos, ou desde o início do Plano Real, apontam dados do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), ou seja, o avanço mais intenso para o acumulado de janeiro a setembro desde 1994 (915,08%).

Fatores como a política de preços pró-imperialista de Bolsonaro em relação aos combustíveis, privatização de refinarias combinado a guerra na Ucrânia fizeram a inflação disparar no Brasil. No acumulado do ano, o melão foi o alimento que mais subiu, alcançando 74,37% ; a cebola (63,68%) e leite longa vida (50,73%) vieram em seguida. Isso para não falarmos da carne, item fundamental da dieta brasileira, se tornou quase impossível de ser adquirida por inúmeras famílias trabalhadoras. Se hoje a inflação desacelerou um pouco pelo decreto de corte no ICMS de Bolsonaro, que apenas reduziu alguns centavos no preço geral da gasolina, e os ritmos da guerra na Ucrânia, quem continua pagando a crise é a classe trabalhadora e o povo pobre.

Como escrevi em um outro texto recentemente, a inflação brasileira é a 8ª maior dentre as 20 principais economias do mundo. A inflação da cesta básica, que afeta mais os mais pobres, era de 25,9% em 12 meses, de acordo com estudo da PUC-PR. Isso é bastante o contrário do que pinta Bolsonaro em sua campanha para reeleição, dizendo que com ele o país está decolando. Bolsonaro apenas está fazendo demagogia com a miséria do povo com o Auxílio Brasil - programa eleitoreiro que ele nunca quis criar.

Mesmo o Auxílio de R$ 600 não compra a cesta básica na maioria das capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Brasília etc, mas apenas em 5 delas, como Recife, Natal e Salvador. Isso ajuda a explicar porque, apesar dos índices e os esforços de Bolsonaro em conquistar votos com o Auxílio Brasil, a maior parte dos beneficiários (55%) afirma que a situação econômica do país piorou.

Além disso, as projeções não sinalizam novas deflações para o grupo de alimentos até o final de 2022, e o crescimento médio global deve ficar em 1,8% ao ano. Para 2023, a projeção é de crescimento de 0,5% no Brasil. Diante do arrocho salarial, trabalho precário e desemprego, é preciso lutar para derrotar essa corja de extrema-direita que levou nosso país para o buraco junto da crise capitalista que eles ajudaram a criar internacionalmente. Precisamos lutar para que sejam os capitalistas que paguem pela crise e não a classe trabalhadora.

É preciso congelar os preços dos itens básicos em níveis pré-pandemia, combinando isso com o reajuste salarial mensal de acordo com a inflação; revogação integral de todas as reformas, como a trabalhista, e privatizações; reforma agrária radical, com expropriação de todos os latifúndios e estatização sob gestão operária de ramos estratégicos da indústria alimentícia, dos transportes e da energia; redução da jornada de trabalho para 30 horas semanais, 5 dias na semana e dividir essas horas entre empregados e desempregados para acabar com o desemprego e o trabalho precário. Isso sim pode dar uma resposta de fundo à fome e à alta inflacionária.

Longe de qualquer perspectiva desse tipo, Lula e o PT preferem fazer campanha com o passado, de que o povo voltará a comer churrasco nos finais de semana simplesmente com financiamento de bancos públicos à atividade produtiva nacional, como disse no Flow Podcast ontem, mantendo intacto todo o legado econômico do golpe institucional e as reformas de Temer e Bolsonaro. Exemplo disso é quando se comprometeu a não revogar a reforma trabalhista e regulamentar o trabalho precário. Da mesma forma, ele está de mãos dadas com o grande capital financeiro, encarnado em Alckmin, assegurando de que irá conter a mobilização dos movimentos sociais, estudantil e operário por meio das direções burocráticas da UNE, CUT etc.

Diante dos parâmetros da crise internacional, com a enorme pressão dos capitalistas por mais ataques, com um Legislativo recheado pela extrema-direita, mesmo se Lula vencer as eleições - o que evidentemente é distinto em um cenário da extrema-direita vencer com relação aos ritmos e intensidades de ataques aos trabalhadores e oprimidos - haverá grande dificuldade no âmbito da economia e dos direitos sociais. Por isso, nossa confiança precisa estar não nas alianças com Alckmin, a direita e os patrões, que apenas abrem espaço para o bolsonarismo, mas na força organizada, em cada local de trabalho e estudo, da nossa classe aliada aos estudantes, LGBTQIAP+, mulheres e movimentos sociais, exigindo que as burocracias rompam sua paralisia e organizem um plano de lutas para botar abaixo o legado econômico do golpe institucional de Bolsonaro e Temer, numa perspectiva de avançar pelo fim desse sistema capitalista de miséria.

Leia mais: Enfrentar Bolsonaro e as reformas em um país mais à direita




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