No Brasil, o racismo sempre consegue dar a volta e apelar para a crueldade. Matheus Ribeiro, instrutor de surfe, fez um vídeo em junho deste ano mostrando um casal racista no Leblon acusando-o falsamente de ter roubado uma bicicleta. O vídeo ganhou enorme repercussão por escancarar o racismo que os negros vivem cotidianamente.

Veja: [VÍDEO] Casal racista no Leblon acusa falsamente homem negro de roubar bicicleta

Mas o casal, Tomás Oliveira e Mariana Spinelli, estava errado e a bicicleta era de Matheus. Dias depois encontraram o verdadeiro assaltante da bicicleta do casal, que ironicamente era branco e conhecido como “lorão”, e acabou preso. Foi aberto um inquérito sobre crime de calúnia contra o casal racista e, no início de agosto, o juíz Rudi Baldi Lowenkron acolheu pedido da promotoria e arquivou o processo. O casal acabou inocentado pela justiça.

Agora a história ganhou nova reviravolta. Matheus, que não fez nada de errado, foi investigado por suposto crime de receptação, pois comprou a bicicleta na internet que, por sua vez, havia sido roubada anteriormente. Mas Matheus não tem nada a ver com o crime, ele apenas comprou uma bicicleta na internet como muitos brasileiros fazem todos os dias. Agora foi indiciado pela polícia por crime de receptação.

O homem que vendeu a bicicleta para Matheus foi indiciado e agora cabe ao Ministério Público se será encaminhado para a justiça.

Um desenrolar pitoresco de uma história que extrapola os limites do bom senso e escancara o racismo profundamente arraigado em nossa sociedade. Os racistas endinheirados que acusaram um homem inocente estão impunes e o trabalhador negro, pobre e inocente está sendo perseguido pela polícia (sem contar que perdeu a sua bicicleta e não recebeu nenhuma indenização). Parece um conto do Kafka, mas com requintes de crueldade racistas que fazem do Brasil algo muito pior do que um pesadelo literário.