Não houve acidente. Os depoimentos dos moradores e os vídeos derrubam a versão oficial da polícia e da mídia de que os policiais reagiram a alguma ocorrência e entraram em confronto com troca de tiros. A mãe de um dos jovens que foi vítima da ação declarou com todas as letras: "Meu filho foi assassinado", contestando a narrativa de que as vítimas foram pisoteadas, já que as roupas do jovem não apresentavam nenhuma marca de sapatos. O que aconteceu nas ruas de Paraisópolis foi um massacre, no qual as imagens gravadas evidenciam a brutalidade da ação da polícia, que com tiros e gás lacrimogênios encurralaram e espancaram pessoas nos becos do bairro da zona sul paulistana.

Moradores de Paraisópolis já haviam denunciado que a polícia vinha impondo um cerco ao bairro e uma escalada da repressão, como represália à morte de um sargento da corporação. A ação terrorista levada a cabo no sábado foi o ponto máximo dessa retaliação da polícia direcionada a todos os moradores do bairro.

Cinco mil jovens se encontravam no local para festejar ao som do funk, a música ouvida pela juventude de todas as classes, num dos maiores bailes da região. A tentativa de criminalizar o baile funk é parte de um avanço mais geral do Estado racista de retirar da juventude periférica seus espaços de lazer e de lhe restringir ao controle social e a repressão, como vimos na prisão arbitrária do dj Rennan da Penha, e nos inúmeros projetos de criminalização do funk.

Para o Estado racista e os capitalistas, as batidas do funk -mais uma expressão cultural nascida na periferia-, só pode existir restrito a suas boates e casas noturnas, onde podem lucrar com o ritmo. Para além desse nicho do consumo, principalmente em sua origem - nos bairros periféricos- o funk não pode ser tolerado. Por isso, que o Estado racista busca de todas as formas criminalizar o ritmo e associá-lo ao tráfico de drogas, mesmo o consumo de drogas nos bailes sendo tão natural quanto em qualquer outra festa da juventude de qualquer outra classe.

Sob o discurso linha dura e reacionário bolsonarista assistimos o recrudescimento da repressão por todo o país. Os índices de letalidade policial crescem em todos os estados. Em São Paulo, que sempre abrigou uma das polícias mais assassinas, não é diferente. Sob o comando de Doria, a PM este ano assassinou um total de 414 pessoas. Essa repressão tem como alvos preferenciais a juventude negra e periférica, como a morte de Lucas, jovem de 14 anos assassinado e Santo André, é um símbolo máximo.

Mais uma vez, o Estado racista e seu braço armado tem suas mãos sujas do sangue da juventude. O assassinato desses jovens não pode passar impune. Exigimos a apuração do caso e que as investigações sejam acompanhadas e fiscalizadas rigorosamente por representantes dos direitos humanos, movimentos sociais e organismos da classe trabalhadora para que os policiais envolvidos não sejam acobertados.