No início de junho, técnicos do Ministério afirmavam que seriam feitos 110,5 mil testes por dia. Em julho foram feitos diariamente em média 15 mil exames, pouco mais de 10% do projetado. A entrega incompleta do kit faz o Brasil se distanciar da meta do próprio Governo para exames de Covid-19.

Até agora, o Brasil realizou 2,3 milhões de testes de tipo RT-PCR, sendo 1,4 milhões na rede pública e 943 mil na privada; 2,9 milhões de testes rápidos, que localizam anticorpos da doença, mas não são indicados para diagnóstico;1,6 milhão de testes com cotonetes (swab) e 873,56 mil tubos de laboratórios foram enviados até a semana passada.

No dia 17, em entrevista para a revista Veja, o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, alinhado ao negacionismo do presidente, minimizou a necessidade de testes, afirmando que “criaram a ideia de que tem de testar para dizer que é coronavírus. Não tem de testar, tem de ter diagnóstico médico para dizer que é coronavírus. E, se o médico atestar, deve-se iniciar imediatamente o tratamento”.

Não à toa até o dia 18 o Brasil tinha registrado 213 mil internações por Covid-19, sendo que o país chegou a registrar 441 mil internações por Síndrome Respiratória Aguda Grave e ainda 80 mil internações em investigação e 141,6 mil classificadas como síndrome "não especificada".

O Governo Federal afirma que comprou os lotes de exames, mas sem ter garantia de que haveria todos esses insumos, indispensáveis para usar os testes. Segundo o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), estes produtos não são entregues “com regularidade” pela pasta.

Em relação ao estoque parado de testes, o Ministério da Saúde disse demagogicamente que os estados “não possuem capacidade para armazenar uma grande quantidade de insumos de uma só vez”. E, portanto, “os testes em estoque são distribuídos à medida que os estados demandam”.

Tanto os milhões de testes parados no Ministério, quanto a condução da crise do coronavírus de maneira geral, revelam que o governo Bolsonaro somente se importa com os lucros dos grandes empresários, banqueiros e bilionários, deixando os trabalhadores jogados à própria sorte, com riscos reais de contaminação.

Hoje as mortes confirmadas já passaram de 90 mil, mas temos evidências, e é de se supor com a subnotificação, que na realidade as mortes já tenham passado muito de 100 mil.

Não podemos acreditar que uma resposta à crise econômica, social, política e sanitária virá de qualquer setor ligado ao bolsonarismo, como alternativas tais quais o impeachment, que colocaria Mourão na presidência.

Tampouco setores da oposição de direita, como governadores e o STF, representam uma alternativa consequente para a maioria da população. Estes hoje e sempre estão de mãos dadas com o governo no que diz respeito a passar os ataques econômicos e de precarização da vida, como a recente aprovação do novo marco do saneamento, da MP 927 e 936, além dos ataques do governo do estado de SP em relação aos professores e metroviários.

A única saída consequente para a crise estaria na organização e resposta da classe trabalhadora, aquela que tudo produz. Se tivéssemos testes massivos desde o início, conseguiríamos ter controlado muito melhor a pandemia, gerindo-a de maneira racional.

Para além dos testes massivos é necessário que defendamos EPIs para todos os que têm que continuar trabalhando, auxílio de 2 mil reais para os desempregados, proibição das demissões e da redução da jornada de trabalho com redução de salário.

Ao invés das fábricas continuarem a produzir suas mercadorias usuais, como se a pandemia não estivesse acontecendo, a produção deveria ser reconvertida para produção de insumos e equipamentos para o combate à crise. Esta reconversão deve acontecer sob controle operário, que seria a única forma de garantir que os lucros não fossem colocados acima das vidas.