Relembremos alguns episódios da história recente para entender essa trajetória do PCdoB rumo aos braços da direita.

Em 2019, em meio às eleições presidenciais que levaram Bolsonaro à presidência, o PCdoB apoiou a recondução de Rodrigo Maia à presidência da câmara dos deputados, deu seu apoio ao quadro histórico do partido conservador-liberal de direita, DEM, que até 2007 era conhecido como PFL – herdeiro direto do partido oficial da ditadura militar, o ARENA. Não à toa, Rodrigo Maia também foi apoiado pelo então partido do presidente, PSL, já que seria peça fundamental para o encaminhamento das reformas contra os trabalhadores. Assim se sucedeu, Rodrigo Maia, Globo, Guedes e Bolsonaro de mãos dadas, em aliança com o conjunto dos golpistas na câmara impuseram um dos maiores ataques à classe trabalhadora brasileira, a reforma da previdência que pretende nos fazer trabalhar até morrer.

Ainda no final de 2019, Flávio Dino, como governador do Maranhão, foi o primeiro a buscar se “adequar” às novas regras e atacar seus servidores públicos após a aprovação da destruição das aposentadorias com a Reforma da Previdência de Bolsonaro e Guedes aprovada no Congresso Nacional, onde Maia teve papel fundamental. Também aderiu ao programa de privatização de gás de Bolsonaro, autorizando a privatização da Companhia Maranhense de Gás.

No início de 2020, Flavio Dino reafirmou seu desejo e intenção na manutenção de diálogos e alianças com setores abertamente liberais, como Luciano Huck. Em entrevista ao Globo defendeu: "Muita abertura para promover uniões entre o campo da esquerda, o campo progressista, e também alcançando forças políticas que estão externas ao nosso campo, como os setores liberais, chamados de partidos de centro.".

Não era de se esperar nada diferente frente à pandemia e ao aprofundamento da crise social no país nos meses que se seguiram, chegando ao absurdo de declarar em abril que o “Brasil chegará em 2022 em melhores condições” se o poder for entregue ao saudoso defensor da ditadura militar, general Hamilton Mourão, que apenas alguns dias antes soltou declaração em apoio ao golpe militar de 1964que perseguiu, matou e torturou milhares de pessoas.

A estratégia de alianças com a direita para objetivos puramente eleitorais que o PCdoB, assim como o PT, leva a diante estão totalmente fadadas ao fracasso pelo fato de que nunca se pode desvencilhar a forma do conteúdo, e isso fica expresso em todos os episódios citados acima, em que o conteúdo dessa aliança significou reforma da previdência contra os trabalhadores, privatização, fortalecimento de interesses liberais e até mesmo do que há de mais reacionário na história do país como os defensores da ditadura.

Por precisamos assumir a tarefa de conectar a força da insatisfação de massas que se expressa contra o governo Bolsonaro hoje com o programa correto para fazer avançar essa força em auto-organização e poder nas mãos da classe trabalhadora. É neste sentido que faz falta um pólo de independência de classe que agite fortemente pela bandeira de Fora Bolsonaro e Mourão e uma saída que não questione somente o governo, mas também esse regime podre do golpe institucional, o que significaria lutar por uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana.

Não há outra via possível de conquistar vitórias concretas para a vida dos trabalhadores e setores mais oprimidos que não seja a do fortalecimento de uma alternativa política independente, que hoje no Brasil significaria romper com uma política institucional e de seguidismo ao PT e sua estratégia de pactuar com a burguesia, para construir um partido revolucionário que impulsione que os trabalhadores confiem em seu potencial de auto-organização.

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