Longe da carreira tranquila que uma vez soaram em Washington, as primárias da terça 19 em Nova York chegam em meio de uma campanha eleitoral atravessada pela crise e descontentamento com as elites políticas e financeira. Esta crise se manifestou em debates cruzados, acusações em ambos partidos, surpresas eleitorais e ameaças de convenções amenizadas.

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A batalha de Nova York

A primária do dia 19 em Nova York se transformou em uma data decisiva para democratas e republicanos. Os candidatos que encabeçam a contagem de delegados nos dois partidos, Trump no republicano e Clinton no democrata, aspiram a consolidarse.

As pesquisas colocam Donald Trump, que é local em Nova York e conta com o apoio do poderoso ex-prefeito Rudolph Giuliani, com o 52% dos votos republicanos. O seguem o governador de Ohio (se, todavia segue em carreira) John Kasich com o 23% e o senador texano Ted Cruz com 17%. Apesar da baixa porcentagem, Cruz segue não tão de longe de Trump na conta total de delegados e disso ter se transformado em um obstáculo para o multimilionário.

Para a interna democrata, as pesquisas indicam uma vitória de Hillary Clinton com 53% dos votos, sobre Bernie Sanders com 41%. Sem embargo, nada se atreve a garantir esse resultado, depois de várias surpresas e a vitória de Sanders nas últimas sete primárias.

Convenção democrata, tapete vermelho a nomeação de Clinton?

A medida que se aproximam as convenções e nenhum dos candidatos se impõe de forma decisiva, cresce o debate sobre os mecanismos de cada partido para eleger seu candidato.

Entre os democratas, é apesar das quentes e escassas críticas de Bernie Sanders, muitos de seus seguidores começaram a questionar o sistema dos "superdelegados". Um radialista partidário de Sanders o resumiu muito bem: "um voto da gente do 1% vale o mesmo que 10.105 votos da gente do 99%.

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No partido Democrata, existem delegados com mandato votado (nas primárias) e delegados "sem mandato", conhecidos como superdelegados. Os "superdelegados" são legisladores, funcionários do Partido, ex-presidentes, e figuras promonentes e que representam 15% da convenção.

Esta "manobra", contemplada no regimento do Partido, gera muita raiva (com razão) entre os seguidores de Sanders. Nos meios, o mecanismo dos "superdelegados" pode neutralizar a vitória de um candidato sobre o outro, mas primárias onde votam os filiados e votantes registrados.

Desde o começo da carreira, os "superdelegados" tem comprometido seu apoio a Hillary Clinton, favorita do establishment do Partido. Sem embargo, isto não tem sido garantia para imporse como favorita entre os votantes. Ao contrário, embora todos se apressam para elege-la, a ex- secretária de Estado não conseguiu ampliar a diferença (isso espera em Nova York) sem recorrer aos "superdelegados".

Convenção republicana, manobras para retirar Trump?

O descontentamento de setores da base partidária sobre os mecanismos de eleição do candidato não se limita aos democratas, confirmando que a crise com as elites não é só pela esquerda.

A medida que se cerca a convenção republicana, cresce o temor do establishment republicano por uma eventual nominação sem votação, Trump já lançou acusações contra o comitê Nacional Republicano.

"O sistema está fraudado. Me tem chamado para que deixe de dizer, porém lhes tem dito que estou dizendo a verdade, que não me importa", assegurou o multimilionário. Trump se deu o luxo inclusive de falar do sistema de eleição democrata e disse sobre Sanders, "O vejo ganhar, ganhar e ganhar", e acrescentou, "depois me dou conta de que não tem possibilidade alguma de ser dominado. É porque o sistema está corrupto e é ainda pior do lado republicano".

Há algumas semanas se começou a escutar o boato de que a direção do Partido republicano se preparava para uma convenção aberta. A que se referem? Se nenhum candidato alcança os 1.237 delegados necessários para a nominação, se realiza uma convenção aberta, onde os delegados devem voltar a votar por um candidato.

Uma vez realizada a primeira votação, se nao existe maioria, se realiza uma segunda. Os delegados já não estão comprometidos para votar ao candidato para o qual tem mandato. Os delegados podem mudar seu voto, porém essas mudanças não se dão uma convenção livre e democrática. Entram em jogo manobras e pressões da maquinaria do Partido. Algo deste voto se viu, de forma ilustrativa e algo premonitória, na última temporada de House of Cards.

Em uma convenção negociada ou aberta. A direção do partido fará suas próprias apostas. Os nomes que se falaram incluem a Mitt Romney (que havia negado sua candidatura faz umas semanas), Condoleezza Rice (ex-secretária de Estado de G. W. Bush), Paul Ryan (chefe da maioria republicana e presidente do congresso), Marco Rubio e Chris Christie (ambos saíram da carreira em 2016).