Hoje, 05, acontecem as eleições para Representantes Discentes (RDs) no Conselho Universitário da USP, em que todos os estudantes da Universidade podem votar virtualmente.

Nós da Faísca, viemos defendendo a importância deste tema ser tratado e decidido conjunta e democraticamente por todes estudantes da USP em um espaço deliberativo de assembleia, posição que defendemos no último CCA (Conselho de Centros Acadêmicos da USP), ocorrido no dia 26 de junho.

É importante ter em mente o que significa o Conselho Universitário e a representação discente neste espaço. Esse órgão, extremamente elitista e antidemocrático, concentra professores titulares que há décadas não dão aula e possuem supersalários, representantes de empresas privadas que têm interesses na produção científica e acadêmica para lucrar mais, dentre outras figuras que compõem a chamada burocracia universitária e que, juntamente com o reitor - que diga-se de passagem, é escolhido a dedo pelo governador de São Paulo - definem os rumos da Universidade por fora das demandas e interesses dos três setores que verdadeiramente mantêm a USP de pé: estudantes, professores e funcionários.

A verdade é que a representação destes três setores, especialmente de estudantes e funcionários, é ínfima, escancarando o quão antidemocrático é esse espaço e todas as decisões tomadas nas reuniões realizadas, que visam debater projetos privatistas que atendam os interesses de grandes empresas, lado a lado ao projeto de educação do governo de São Paulo, há décadas a mando do PSDB.

Para debater a representação discente neste espaço é fundamental não ter ilusões e denunciar o caráter do Conselho Universitário, pois qualquer representação dos estudantes deve ter bastante claro que não será nestas reuniões e com a burocracia acadêmica que iremos arrancar nossos direitos que gradual e anualmente tentam retirar e sucatear.

A representação dos estudantes deve estar a serviço de denunciar e enfrentar a estrutura de poder antidemocrática, e fortalecer a luta dos trabalhadores e estudantes a partir da sua autoorganização. A reitoria se utiliza deste espaço antidemocrático para aplicar os ataques, desde o EaD que vemos hoje, que foi implementado de forma autoritária até colocar 340 mi em reserva de emergência em meio a um sucateamento enorme da universidade com estudantes tirando a própria vida.

Por isso a importância da representação discente ser construída em base à unidade entre os estudantes, os funcionários e os professores, que aposte na auto-organização destes setores. E por isso, nós da Faísca viemos apontando como, diante da pandemia e a ausência de eleições para DCE, quando tradicionalmente se realizam as eleições de RDs para o Conselho Universitário, é muito mais democrático que se escolham os representantes dos estudantes em base a discussões realizadas em assembleia para todes poderem opinar, discutir e definir o papel dos RDs e os rumos e necessidades do Movimento Estudantil da USP.

Isso seria muito mais democrático do que a resolução definida pela atual direção do DCE (PT, PCdoB e Levante Popular da Juventude) e outras correntes políticas da esquerda (PSOL e PCB) que conformaram uma “chapa da unidade estudantil” discutida a portas fechadas entre eles, se baseando nas eleições do DCE ocorridas a fins de novembro de 2019, e deixando de fora duas gerações de calouros ao se valer do resultado daquelas eleições para definir proporcionalmente a distribuição dos cargos de RDs entre as chapas e tais movimentos políticos que participaram daquelas eleições.

Mais espaços deliberativos e democráticos como são as assembleias para que todes possam discutir os rumos do movimento estudantil, os programas e caminhos a seguir são fundamentais, ainda mais diante da conjuntura política que vivemos, de ataque à educação por parte do governo Bolsonaro nas Universidades e Institutos federais. Assim como ataques do PSDB no governo do Estado que, junto à reitoria da USP tenta aprovar novo Estatuto de Conformidades da USP que significa um avanço na repressão e perseguição contra trabalhadores, professores e estudantes que lutam, mantendo resquícios dos regimentos feitos durante a Ditadura Militar.

Devemos apostar na mais profunda unidade entre estudantes, professores e funcionários da Universidade de São Paulo, das estaduais e federais, debatendo nacionalmente também os rumos, papéis e desafios do Movimento Estudantil diante do momento em que vivemos.

A representação discente num espaço antidemocrático como o Conselho Universitário deve estar a serviço de defender as demandas estudantis sem ilusão na estrutura de poder herdeira da ditadura que nunca levou em conta nossa opinião, pelo contrário. Por isso a importância de uma representação democrática que fosse debatida entre todes, fortalecendo nossa organização, se enfrentando com essa estrutura de poder, defendendo o fim da reitoria e do Conselho Universitário, e que o controle da universidade esteja nas mãos dos estudantes, professores e funcionários, proporcionalmente ao peso de cada um destes 3 setores, por isso nós da Faísca batalhamos também por uma nova Estatuinte livre e soberana. Defendendo esses pontos programáticos será possível fazer com que a USP esteja a serviço dos trabalhadores e de toda a população pobre e não de privilégios de uns poucos burocratas e empresários que querem sucatear e privatizar a Universidade de São Paulo.