A cena de Jean Wyllys cuspindo em Bolsonaro viralizou nas redes, e não foi à toa: o gesto do deputado do PSOL expressou a vontade de milhares de pessoas que se revoltam com as palavras e as atitudes de Jair Bolsonaro.

O parlamentar do PSC, notório LGBTfóbico, machista e racista, já foi visto em diversas oportunidades, fartamente documentadas, incitando o estupro, proferindo insultos homofóbicos contra Jean Wyllys, como chamá-lo de "queima rosca" ou "viado".

Esses insultos, aliás, foram repetidos por Bolsonaro à exaustão no dia em que Jean Wyllys revidou cuspindo nele. E não foi a única medida reacionária dele naquela sessão: era a votação na Câmara do impeachment de Dilma, e ao declarar seu voto a favor do golpe parlamentar, Jair Bolsonaro o dedicou ao torturador da ditadura, Carlos Alberto Brilhante Ustra, complementando ainda que ele era "o pavor de Dilma Rouseff" - Ustra chefiava o aparato repressivo quando a ex-presidente foi torturada pelo regime militar.

Em decorrência disso, o nome de Bolsonaro foi também levado ao Conselho de Ética da Câmara, mas foi arquivado por 11 votos a 1 pelos parlamentares, que parecem não ver nenhuma "quebra de decoro" em que se homenageiem torturadores no plenário da Câmara.

Não foi o primeiro processo em que Bolsonaro se safou: em 2014, ele foi levado à comissão por incitar o estupro, no famigerado episódio em que disse à deputada Maria do Rosário, da tribuna da Câmara, que não a estupraria porque ela "não merece". O processo foi arquivado porque seu mandato havia se encerrado (e para a Câmara pouco importa que ele permanecesse ali, já que era outro mandato). O STF tornou Bolsonaro réu, em junho de 2016, por esse episódio.

Ainda em outra ocasião, em 2013, os parlamentares da Comissão também votaram por unanimidade arquivar o processo movido por Randolfe Rodrigues (Rede), que foi agredido com um soco por Bolsonaro quando ele participava de uma visita feita pelos membros da Comissão da Verdade da Câmara e do Senado às dependências do extinto DOI-CODI no Rio.

Diante da passividades dos parlamentares frente aos absurdos homofóbicos, misóginos, machistas e reacionários que diz Bolsonaro, as suas agressões físicas e provocações, um cuspe é muito barato. Todos os que são ofendidos cotidianamente por Bolsonaro se sentiram um pouco vingados.

Para Jean Wyllys, contudo, a medida parece ser distinta: o relator de seu processo por causa do cuspe recomendou a suspensão de seu mandato por 120 dias. A descrição do ato em defesa do mandato de Jean Wyllys retoma como é rara a punição de um parlamentar com medida semelhante:

"Até hoje, só uma única outra vez um deputado teve uma suspensão aprovada na Câmara. Tratava-se de um parlamentar ligado ao bicheiro Carlinhos Cachoeira e ao crime organizado no estado de Goiás. A sua pena foi de 90 dias. Menor que a pena solicitada pelo relator no Conselho de Ética (apesar de não existir nenhuma acusação por desvio ético) contra o Jean (que é de 120 dias)."

Diana Assunção, do Sindicato dos Trabalhadores da USP e do MRT, e que foi candidata a vereadora de São Paulo pelo PSOL, falou sobre o caso:

"Trata-se de uma evidente perseguição política a tentativa de suspender Jean Wyllys. A Comissão de Ética não cogitou suspender Bolsonaro nem por um dia por sua homenagem ao torturador Ustra, nem por seus permanentes insultos homofóbicos contra Jean Wyllys. Isso mostra muito bem a serviço de que está essa casa de privilegiados, com deputados que foram diretamente responsáveis por um golpe parlamentar a serviço de aprovar ataques contra os trabalhadores e o povo pobre para salvar os lucros dos capitalistas. Presto minha total solidariedade a Jean Wyllys e estarei presente no ato em defesa de seu mandato, que deve ser defendido diante dos ataques dessa direita golpista."

Carolina Cacau, estudante da UERJ e professora da rede pública do Rio, também do MRT e que foi candidata a vereadora no Rio pelo PSOL, também confirmou presença no ato e declarou:

"O ataque ao mandato de Jean Wyllys por parte dos parlamentares que querem sua suspensão, como o PSC de Bolsonaro e Malafaia, é um ataque a todos aqueles que defendem os direitos da população LGBT. A família Bolsonaro é importante aliada de figuras da direita do Rio de Janeiro, como o prefeito Marcelo Crivella, do PRB, e sua influência deve ser combatida por todos aqueles que defendem os direitos dos trabalhadores, da juventude, das mulheres, dos negros e LGBTs. É fundamental que a esquerda fortaleça as medidas de apoio e solidariedade a Jean Wyllys e contra a suspensão de seu mandato. Por isso estarei presente no ato de segunda-feira."

O ato em defesa do mandato de Jean Wyllys ocorrerá na segunda-feira, 6, no Clube Municipal Tijuca,
Rua Haddock Lobo, 359, às 18:30.